terça-feira, outubro 10, 2006

Cho Oyu. Cume! Cume!


Resumo da expedição:

No passado Sábado, 7 de Outubro a Daniela Teixeira conseguiu alcançar o cume do Cho Oyu com 8201 metros de altitude realizando assim, o seu sonho de escalar uma montanha com mais de 8000 metros.

Contudo, a tarefa não foi fácil.
Em primeiro lugar, a logística do Campo base esteve muito longe do razoável. Tendas de péssima qualidade e cadeirinhas da “pré-primária” impediram uma estância cómoda nos vários dias passados no Campo base. A alimentação também se tornou num grande problema. Não variava muito das batatas e massa, ou massa com batatas, enquanto as expedições vizinhas se deliciavam com variados menus.
O mau tempo que se abateu sobre a montanha durante vários dias encheu o Campo base de neve transformando o cenário numa autentica paisagem invernal. Bonito espectáculo para as fotografias mas, absolutamente impeditivo no que tocou a ascensões alpinas.
Várias foram as vezes necessárias para escavar a neve acumulada sobre as tendas.
Foi durante esses dias de intensas nevadas que a Daniela se sentiu mais desmotivada e deprimida.
As más condições do seu acampamento e o mau tempo perigaram a sua ascensão, inclusive a própria aclimatação.

Com o retorno do bom tempo muitas equipas iniciam a subida.
A Daniela decide tentar a ascensão ao campo 1 (6400 mts) e ao campo 2 (7200 mts), de forma a realizar um mínimo de aclimatação.
Para ela era o “agora ou nunca”, confessando não sentir possuir energia (e tempo) para realizar uma segunda tentativa.
No dia 27 de Setembro, sem companheiro de cordada, subiu ao campo 1. Determinada a não utilizar o apoio de um Sherpa carregador (ao contrário da maioria das expedições que contratam Sherpas até ao campo 1) carregou a sua “mochilinha” de 20 quilos, chegando ao local de acampamento bastante cansada. Decidiu então repousar um dia nesse local.
No dia seguinte, igualmente só (sem companheiro de cordada) cruzou a barreira de seracs (considerada como um dos “crux´s” da via) e alcançou o campo 2, ultrapassando os 7100 metros, o seu limite pessoal de altitude (Korjeneveskaya 7105 mts, em 2004). Aí dormiu para, no dia seguinte, retornar ao campo 1 e, posteriormente ao campo base.
Desta forma e rapidamente, a Daniela resolveu o seu processo de aclimatação.

Entretanto os dois Gregos com quem partilhava o campo base decidem desistir da montanha e voltar para Katmandu. Após desagradável discussão e partindo do principio simplista (e pouco cavalheiresca!) de que a maioria vence, os dois Gregos retiram e com eles foi também toda a logística, as tendas, o cozinheiro e o ajudante.
Por sorte a Daniela recebe o convite da simpática equipa Filipina para que se una a eles. A partir desse momento decide abandonar a sua tentativa em solitário juntando-se aos Filipinos na sua ascensão.
Os Filipinos possuem carregadores e utilizam oxigénio artificial. A Daniela não recorre a nenhum destes apoios.

No dia 4 de Outubro reiniciam a ascensão.
No dia 5 encontram-se no campo 2. A Daniela reporta: “Ontem subimos ao campo 1 com muito mau tempo. Hoje atingi o campo 2. Estou exausta. Não sei como vou conseguir fazer cume!”
O Vitor Baía, com o seu valioso apoio desde Portugal, informa através de mensagens para o telefone satélite que a zona do Cho Oyu vai estar sujeita a ventos fortes da ordem dos 40 a 50 km e, “talvez mais”, acrescentando: “não subir no dia 7!”
A Daniela viu-se confrontada com uma decisão crucial. Subir ou... descer abandonando a montanha.
Apesar das adversidades e, sentindo ser a sua ultima oportunidade, decidiu por fim realizar uma derradeira tentativa.
Acompanhando os Filipinos (ou acompanhada pelos Filipinos) na madrugada do dia 7, iniciou a penosa ascensão desde os 7200 metros.
Após a banda rochosa que constitui a ultima barreira de dificuldades, o Cho Oyu perde inclinação apresentando uma enorme extensão até ao cume, técnicamente fácil mas, psicológicamente arrasadora. É nesta fase que muitas equipas desistem. A elevada altitude (superior aos 8000 metros) e a grande distância a percorrer minam a moral e energia dos alpinistas. Aqui, a força de vontade é crucial jogando a cartada fundamental. Foi aqui que os Filipinos decidiram desistir e voltar para baixo.
Após dificeis momentos de dúvida e, a partir dessa altura sem companhia, a Daniela resolveu continuar.
Pensando ainda faltar duas horas para alcançar o cume sente que se encontra muito perto do seu limite de resistência.
Vagarosamente, passo a passo, respirando profundamente, tentando inspirar o máximo do rarefeito ar, sobe um pouco mais e... ainda mais um pouco. Passam trinta minutos até que a inclinação positiva se transforma em negativa. Encontra-se no cume do Cho Oyu. Ás oito horas da manhâ de Portugal chegara ao cimo da Deusa Turquesa e, ao culminar do seu sonho.

Após dois anos de treino intenso e de uma tentativa fracassada (Shisha Pangma em 2005) a Daniela subiu o seu “8000” tornando-se, por acrescento, na primeira Portuguesa a escalar uma montanha com mais de 8000 metros.

Esta foi, sem dúvida, uma vitória pessoal bem merecida.
Para os que, de longe, acompanhámos assiduamente a sua aventura esta foi uma ascensão inspiradora. Uma história de determinação que decerto teremos a oportunidade de ouvir em primeira mão pela sua protagonista, quando pisar o solo Lusitâno.

Quanto à escalada em si, passo a citar uma mensagem publicada no site da expedição, que permite, em poucas palavras, explicar o destino desta realização:

“Momento histórico! Muitos parabéns!”

P.R.

13 Comments:

ljma said...

Olá pessoal. Já me referi ao colectivo rppd como sendo altamente inspirador. Ajusta-se especialmente ao que a Daniela agora conseguiu, especialmente ainda mais pelo modo como o conseguiu. Ou seja, o que eu quero mesmo dizer é obrigado a todos, a sério.

Anónimo said...

Um feito destes adquire especial valor quando se apercebemos de quanto custou suportar praticamente sozinha todas as envolventes da expedição, todos os esforços fisicos mentais, organizativos e tantos obstáculos e imprevistos com tão poucos apoios ou antecedentes à escala do País. É excepcional e é todo um horizonte que a Daniela abre aos olhos das portuguesas tão pouco envolvidas nesta escala e género de empreendimentos.

Zé Maria said...

Quando está prevista a chegada a Portugal?
A mulher merece uma homenagem à homem!
ZM

ljma said...

Desculpem usar este modo para vos contactar com um assunto que pouco tem que ver com o vosso artigo. É que não sei de que outro modo posso chegar a vocês. Apaguem a mensagem porque, realmente, é off-topic.
Como "postei" no Cântaro Zangado, um conjunto de associações e cidadãos a título individual (eu, entre outros) criaram uma plataforma para o desenvolvimento sustentável da Serra da Estrela. Venho convidar-vos a aderir ao movimento! O email da plataforma (ainda não há página web) é padesse@gmail.com.
Um abraço do Cântaro Zangado!

Anónimo said...

vamos todos receber a daniela ao aeroporto (quando volta?) ela merece uma homenagem de todos os amigos como grande
MULHER que é

Fernando Cruz


P.S. por onde anda o ANONIMOUS ???????

Anónimo said...

há pois é...a vida é feita de pequenos nadas.. mas este com certeza não é um deles.. é um primeiro grande feito. primeiro porque outros virão...
orgulho e orgulho é o que eu tenho em ser teu amigo...
hasta fué
e toma lá ó zé...
Luis valente

taia said...

Muitos parabéns Daniela, é um momemto muito importante para o desporto em Portugal. Força continua com essa determinação.

Abraço

Anónimo said...

Não se é pouco ou muito adequado face ao esperado pela Daniela, mas realmente fazia gosto em poder estar presente à chegada. (Se forem muitos ainda se poupa a moeda dos carrinhos, eheh!)
Se a Daniela ainda lá estiver (no Campo Base) que traga alguma neve para a minha filha ver, que o do Cântaro Zangado já disse que este ano é capaz de não haver na Serra.

Anónimo said...

Pessoal. Ainda não sabemos quando chega a Daniela. Logo que tenhamos noticias comunicamos.
Aproveito também para agradecer a todos as mensagens de apoio tanto à Daniela como ao bloguinho.

Abraço.

Paulo Roxo

Anónimo said...

Bloguinho não, um BLOGÃO, porque por aqui passam grandes feitos e grandes almas. E agora mais um, e das grandes!! Daniela, a tua coragem e determinação (que já não são novidade) continuam a emocionar-nos. MUITOS PARABÉNS.

Teresa e João Gaspar
Ps Mais uma vez se prova que a aclimatação começa no psico bloc...

Anónimo said...

Oi pessoal

...IIIIUUUUUUUUUPIIIIIIIIIIII
:)))))))))))))

Chego dia 16 pelas 11:25!
WEspero por voces no aeroporto de Lisboa ...ehehehehehe

8000 saudacoes himalaianas...
Te breve

(que ansia de voar para ai!!)

Daniela

Anónimo said...

PS: agora que vi a descricao...ha para aqui umas correcoes a fazer (quem me dera que os filipinos me tivessem acompanhado ate aos 8000m! Ate aqui, so houve companhia por um espanhol na altura da banda de rocha e pronto!)...muito em breve estarao no site da expedicao.

Te breve...e desculpem la a falta de acentos, mas por estes lados nao se usam!!

Daniela

Anónimo said...

ooops, sorry!

Espero não ter cometido muito mais gafes!
De qualquer modo daqui a pouco já a Daniela poderá contar a história como efectivamente aconteceu.

Paulo Roxo