sexta-feira, julho 06, 2007

Num qualquer dia desta semana, no banal acto de abrir a caixa de correio electrónico deparei-me com um e-mail de uma "grande" pessoa com um poema de homenagem ao RPPD (ok, isto da homenagem soa um pouco a desculpa) e que entre muitas outras reflexões me dizia:

«...Infelizmente, na maior parte do tempo sou apenas um pobre escravo de grilhetas invisíveis nos pés. Esta é a grande tristeza da escravatura moderna, não sabermos claramente, como os antigos, quando é que se tem a liberdade. Porque estas grilhetas são por nós queridas e existem pelas nossas fraquezas...»

Com o seu devido acordo, aqui fica a sua poesia:


Descida oblíqua

A cada passo de abandono,
menos a alma lhe importa,
mais o vazio fica o seu dono
e o transforma em caixa morta.

E longe da montanha,
na planície que se estende
e no tédio que se entranha,
já quase nada à vida o prende.

Amputado de um sonho existe somente,
sem eira de estrelas nem beira de lumes,
perdido monte num horizonte de gente
que não conhece, não sente, abismos e cumes.

Mas traz sempre no olhar a luz desse lugar,
onde se abrem as sombras e o nevoeiro
e onde caem as máscaras a revelar,
ter alma é respirar e ser é ser inteiro.

Miguel Maria Fronza (pseudónimo), Junho 2007

1 Comment:

Anónimo said...

Deliciosa forma de começar a semana.

Obrigado ao autor e ao divulgador.

Abraço
Pisco