quinta-feira, outubro 29, 2009

FEDERAÇÕES E O FUTURO DA ESCALADA


Uma federação, como qualquer instituição, deve estar preparada para receber criticas e, deve ter o estofo necessário para contestar as criticas sem argumentos de contra-ataque ou respostas evasivas do tipo: “Fazemos o que podemos”, sob o risco de perder a sua credibilidade.

Com os ultimos textos, resolvemos expor aquilo que, DE FACTO, se passou durante a organização do encontro na Serra da Estrela.

O dinheiro, neste caso particular, é na verdade um tema irrelevante.

A F.P.M.E. mostrou-se disponível para apoiar o encontro ao nível dos pedidos de autorização.

Ao não dar o seguimento devido ao processo –através de simples telefonemas ou mails, pedindo as autorizações por escrito- a federação demonstrou um amadorismo relevante.

Ao ignorar a realização de um encontro, que envolveu 80 pessoas (num terreno de auto-protecção) – bastava a presença de alguém da federação no local ou, um simples telefonema a perguntar: “Que tal, está tudo bem? Podemos ajudar em algo?”- a FPME revelou um enorme desinteresse relativamente á actividade.

Ao abandonar a organização à sua sorte, quando se soube da proibição de ultima hora (devido a uma falha da própria federação) – bastava ter aparecido uma pessoa da federação para dar a cara e assumir a sua responsabilidade no assunto- a FPME revelou uma grande irresponsabilidade.

Estas acções, que a federação deveria ter tomado e nunca assumiu, não se desculpam com a falta de dinheiro. Os seus custos envolviam quantias irrisórias. Tão somente meia dúzia de telefonemas e, no máximo, um deposito de gasolina gasto numa deslocação à Serra da Estrela.

Portanto, estes factos, levam a crer que existe uma enorme falta de atenção por parte da FPME a actividades que se realizem fora do âmbito das competições na resina.


No entanto, isto não é nenhum manifesto contra a FPME.

Antes da criação da FPME a federação de campismo (FCMP) nunca fez/nem faz nada realmente importante em prol da comunidade.


O que me leva a entrar noutro campo, muito mais sério e que vai muito além de um pontual encontro de escalada ignorado.


Há mais de 30 anos que andamos a brincar ás federações, o que resultou numa total falta de representatividade junto dos orgãos governamentais.

A falta de representantes das federações colocaram a escalada e o alpinismo num posicionamento muitissimo negativo.

O regulamento para as áreas protegidas, publicado pelo ministério do ambiente, em Diário da Republica, considera contra-ordenação ambiental MUITO grave “a prática de alpinismo, escalada ou montanhismo”, em conjunto com “o depósito ou lançamento de águas residuais e industriais”, “A destruição ou delapidação de bens culturais inventariados...”, “...o abate de espécies animais sujeitas a medidas de protecção”, entre outras actividades bem mais perniciosas e com um impacto abissalmente superiores.

No mesmo documento, constituem contra-ordenações ambientais LEVES “A pratica de campismo ou caravanismo...”, “O abandono, depósito ou vazamento de resíduos sólidos urbanos fora dos locais para tal destinados” (!!!!).

O que equivale a dizer que: a prática da escalada, alpinismo ou montanhismo (que sempre julgámos serem actividades de natureza) são consideradas acções bem mais graves que a invasão de trilhos por auto-caravanas ou mesmo despejar um monte de merda de todo o tipo, serra abaixo!!!

Este posicionamento absurdo no caderno do ministério do ambiente só acontece porque nunca existiu nenhuma voz (vinda de representantes de federações) que tentasse explicar as actividades que praticamos. Nunca ninguém (de direito) disse: “Esperem, não é bem assim! A escalada funciona desta forma. É uma actividade praticada por pessoas que gostam da natureza. Respeitamos as épocas de nidificação, respeitamos os trilhos, etc, etc”.

Neste momento, as proibições estão aí e, dependem única e simplesmente de uma assinatura de um qualquer engravatado menos esclarecido, num qualquer escritório de cidade.

Já existem vários locais onde a escalada é uma actividade proscrita e a aplicação real da proibição apenas depende de uma fiscalização mais cerrada.

As federações que se prezam, têm o DEVER (e com isto implico as duas federações existentes neste país), perante os seus associados e comunidade geral, de tentar travar ou inverter este processo.

Entre outras coisas, cabe ás federações fazerem-se representar (ou pelo menos tentar) junto das entidades, discutir e defender os interesses dos praticantes das actividades que dizem tutelar.

Caso contrário, não deveriam ser consideradas mais do que meros clubes ou associações a juntar à lista dos já existentes.

O que escrevemos serve um pouco para ajudar a malta reflectir sobre o futuro da escalada em Portugal.

Era muito positivo que mais opiniões viessem ao de cima.


Uma sugestão para a FPME: a organização de um encontro, tipo palestra, com convidados e inter-activo com o publico, para discutir publicamente estes assuntos.


Paulo Roxo


11 Comments:

NALGA said...

Bem-vindo ao associativismo luso, pelos vistos não são só os espeleólogos que andam a brincar as federações, felizmente nos últimos anos temos conseguido alguns passos interessantes, apesar da divisão em quintais típica dos tugas.
Muito destes problemas resultam de que a maioria destas associações/federações baseiam-se na carolice de alguns sócios. Com o avançar dos regulamentos cada vez mais será preciso existir alguma profissionalização destas federações e até de algumas associações.
Abraços para vocês
PRobalo

Anónimo said...

Ora aí está o cerne da questão:

PROFISSIONALIZAR!

Abraço

Paulo Roxo

Anónimo said...

Acompanhei aqui pelo blog este encontro. Querem a minha opinião simples, sincera e honesta há 11 anos que ando nisto do montanhismo, inscrevi-me numa federação há coisa de 3 anos só para ter seguro, e entrei ha poucos meses para um clube de montanhismo por convite.Jovens quando vos der vontade de escalar vão,de fazer alpinismo vão,fazer montanhismo vão apenas isto vão e matem o vicio de lá estar que voçes como sabem é de um enorme prazer gozar os momentos da nossa vida nestes espaços, pois a nossa vida passa a correr . Chatices destas com as federações e com ICN´S não passam disto apenas confusões e já diz um ditado " Quanto mais na merd...se mexe mais na mer.. nos enterra-mos". E a minha opiniao é que quem tem poderes nas federaçoes e nao digo os técnicos dos quadros de cada federação, mas quem manda nelas não têm a minima noção do retorno de prazer que conseguimos ter em ambientes destes. Por isso jovens aproveitem o mais que puderem a montanha. SAMUEL PASSOS

Anónimo said...

Pois Samuel, eu também funciono assim, com romantismo e por impulso. O grande problema (e, no fundo, é apenas isso o que me preocupa), é que talvez esses jovens venham a perder, num futuro próximo, os locais para satisfazer esse prazer que (como bem dizes) sentimos na montanha, devido ás proibições absurdas.

Quanto a mim, a coisa está bem clara. Como é evidente, irei seguir a minha consciência, o que quer dizer: desobedecer a todas as proibições idiotas e sem fundamentos. Não me vou coibir de escalar onde me dá na real gana!
Mas, compreendo que a malta mais nova irá ter mais dificuldades e confusões se ninguém fizer realmente nada para modificar a situação.

Paulo Roxo

Anónimo said...

Acredita continua a fazer o que tens feito, escalar em rocha em Portugal tu para mim és o melhor na escalada em rocha. Ha muito tempo que acompanho o que fazes. O montanhismo/escalada é isso mesmo que tu disseste romantismo e impulso. Essas leis de preservaçao para mim em Portugal já são uma grande anedota, quer dizer pedreiras, incendios que nem se percebe como começam, até os passeios 4x4 pelos trilhos a dentro isso não faz mal!!!! Mas um gajo por friends nas fendas ui ui ui que grande atentado. Oh pa escalem e divirtam-se. Não fui ao encontro porque não gosto de multidões, mas imagino a sensaçao de isso nao ir para a frente. Samuel Passos

ljma said...

Paulo, é assim que penso, também. Aliás, ando com mais vontade de ir para o Cântaro, agora que sei que é proibido!
José amoreira

PS: estou aberto a mudar esta atitude quando me explicarem ao certo que valores ambientais é que são prejudicados pelo montanhismo/escalada que praticamos *e* que não são prejudicados pelos vários circos autorizados nas redondezas imediatas do Cântaro.

Anónimo said...

Sublinho e subcrevo!...
por causa dos seguros creio que ja fiz parte das duas federacoes e tambem ja fiz parte da BMC (british mountain club) e garanto que nunca percebi muito bem quais os objectivos concretos das federacoes em Portugal... acho que é apenas para poderem terem os requesitos da UIAA para participar em provas internacionais. Pode ser ignorancia minha, mas a realidade é que como ja disse um par de vezes e alguns anos atras, o peso, a importancia e a participacao activa de qualquer federacao de escalada europia de relevo, tanto no que diz respeito a escalada em si mas tambem ao esclarecimento e participacao no debate publico, fica zilioes de anos luz do panorama nacional.
O meu grande apoio a todos os participantes neste blog e o muito obrigado pela a organizacao de um encontro de escalada que na minha humilde opiniao foi um verdadeiro sucesso. Obrigado tambem por estarem a cronstruir um trabalho excelente de catalogacao e publicacao da escalda de autoproteccao em Portugal. P.Barreto

Anónimo said...

Tenho acompanhado toda esta situação e o que me deixa realmente espantado é o facto de nem uma nem outra federação se chegar à frente e tentar dar uma justificação (plausivel ou não) quanto às proibições e quanto ao descontentamento generalizado dos praticantes e em muitos casos sócios das mesmas.

Nunca me federei e todos os anos é a mesma confusão por causa dos seguros porque simplesmente não vejo beneficios em me federar por nenhuma das duas. Como participante o que procuro numa federação são palestras, são formações, são encontros de socios, são re-equipamentos de escolas, são acções ambientais na montanha, apoio aos clubes, apoio na edição de documentação/guias/livros entre outras coisas no final o que vejo é zero.

Ah boa, tivemos competição no Jamor altamente este ano... oh esquece depois ficamos sem presas na parede do Jamor...

Acrescento ainda o meu enorme impacto ambiental no cantaro que foi entre outras coisas apanhar latas e outro tipo de residuos que atiram da estrada (muito bem alcatroada, mais ano menos ano acredito que ganhem duas faixas e tudo)...

Tiago Lamelas

Carlos said...

acho o vosso blogue espectacular, sois do porto? sois um clube de escalada não é? é possível enviarem alguma informação para o meu email? se sim carlsob@hotmail.com ou para este endereço gmail sobrinho.carlos

carlosgomes said...

A propósito do Encontro dos Entalados:
(Comentario de Carlos Gomes)
Dado que na minha perspectiva se fizeram comentários injustos à actuação da FPME no que concerne
aos acontecimentos que rodearam este encontro julgo ser oportuno trecer algumas considerações:
1. A FPME cumpriu os compromissos que tinha assumido perante os organizadores do Encontro de Entalados-Acarinhou desde logo a ideia e fez todos os contactos informais e formais necessários à obtenção da necessaria autorização do ICN; Divulgou esta festa da escalada no seu site, dando-lhe um relevo importante; evitou assumir protagonismo excessivo uma vez que a iniciativa não era sua e não estava inscrita no seu Plano de Actividades; Tomou as decisões que considerou mais ajustadas perante uma deliberação inesperada do ICNB em impedir o encontro; O encontro não teve uma realização formal nem sob este ponto de vista poderia ter o apoio oficial da FPME após o conhecimento da sua proibição;

Esta reunião de escaladores foi indiscutivelmente um sucesso e apresento os parabéns aos organizadores por esse facto. Para mim a FPME cumpriu o seu papel e não poderia assumir maior protagonismo do que aquele que assumiu. Apesar de o convite que nos foi feito para estarmos presentes ter merecido da nossa parte a maior atenção tendo sido decidido que o Vice-Presidente estaria presente isso não aconteceu pois, surgiu um imprevisto e perante a indisponibilidade por motivos pessoais deste elemento da direcção poder comparecer não foi possível substituí-lo.
O Paulo Roxo e a Daniela não reagiram bem a esta ausência e ficaram melindrados com isso. Estou certo que se reflectirem um pouco, compreenderão que os 4 dirigentes elementos restantes, eu incluído, são também dirigentes de Clubes, com os quais por vezes têm responsabilidades, retirando-lhes a disponibilidade necessária para outros compromissos.
Por outro lado compreenderão que do ponto de vista institucional seria um "suicídio" se a FPME assumisse formalmente a paternidade do encontro perante o ICNB arriscando irremediavelmente a candidatura à obtenção do EUPD que está a preparar.
Convém sublinhar que tal como muitos participantes neste “fórum” também a FPME entende que o Plano de Ordenamento das Áreas Protegidas reflecte uma atitude persecutória intolerável para com os escaladores e os montanhistas. Esta situação é insustentável e estamos a preparar um pedido de audiência ao Presidente do ICNB para apresentar as razões da nossa inconformidade.
Para terminar esta já longa mensagem gostaria que os escaladores Portugueses percebessem que a FPME não é mais um adversário nem uma federação igual às outras, mas sim uma associação que foi criada por montanhistas e escaladores filiados ou não em clubes e que tentará a todo o custo e no âmbito das suas competências defender junto da tutela, os seus associados, estando certa das preocupações ambientais que sempre revelaram em muitos outros locais onde a montanha e as falésias são os locais onde nos sentimos bem.
Continuaremos a nossa batalha e estamos certos de que se manterá da parte dos escaladores e dos montanhistas portugueses um apoio forte e constante a esta federação. Para 2010 espero que os organizadores deste encontro se disponham a propor à FPME, em tempo útil, iniciativas deste género e que não deixem de participar em outras que estão incluídas nos Planos de Actividades que os seus associados deverão aprovar nos locais adequados.
Um abraço e Boas Actividades
Carlos Gomes

Daniela Teixeira said...

Caro Carlos Gomes

Como muito já foi escrito tentaremos não nos alongar.
Em relação ao seu comentário, temos a dizer que:

- Continuamos a achar que não foi feito o necessário para saber acerca da autorização por parte do PNSE/ICNB

- Indagamos sobre porque não nos foi comunicado na sexta-feira anterior ao encontro, no fim-de-semana do encontro e até dia 5 de Novembro (data da publicação do seu comentário), a razão pela qual a FPME decidiu não comparecer na Serra da Estrela. Porque não expuseram o vosso motivo atempadamente? Um simples telefonema para tal, teria sido suficiente. Esse simples telefonema teria também sido util para nos fazer sentir que a FPME está ao lado dos escaladores, mesmo que por determinados motivos não o possa demonstrar oficialmente.

- É de salutar a iniciativa da FPME relativamente ao contacto com o ICNB. Este é um aspecto bastante importante e positivo, que iremos seguir com atenção e muito interesse. No sentido de podermos seguir esta iniciativa, agradeciamos, caso vos seja possivel, que a divulgação dos seus resultados fosse feita neste forum (por ser uma ferramenta utilizada por uma grande parte da comunidade), para além do site da FPME.

Se necessitarem a nossa ajuda para iniciativas que benificiem as actividades que praticamos, não hesitem em contactar-nos. Dentro da nossa disponibilidade, estamos dispostos a ajudar.

Daniela Teixeira e Paulo Roxo