quinta-feira, abril 26, 2007

A Furadeira que queria nadar.


Chegámos de novo ao carro já entrada a noite. No porta-bagagens voltámos a separar as peças encharcados pelo mergulho involuntário.
Horas antes, enquanto a Daniela se encontrava no topo do lance, num dos extremos da corda montada em “slide”, eu retirava freneticamente todo o material do interior da mochila, recentemente submersa no mar revolto do Cabo da Roca.
Já me encontrava na base da agulha de pedra, fora do alcance das ondas da maré cheia que transformara a Ursa numa ilha.
A Daniela descera-me pela corda previamente fixa na diagonal, realizando uma manobra de slide controlado. O plano consistia em fazer descer, pela mesma corda, a mochila e o restante material.
Uma cinta torcida e um mosquetão (sem segurança) aberto, enviaram ao vazio a mochila, com a câmara digital, a chave do carro e… a máquina de furar Hilti – baterias incluídas! Atónitos, observámos como todo o material entrava de chofre e, num simples segundo, nas águas frias do Atlântico. – FO…! CAR…! – gritei a plenos pulmões. Ainda calçado com os pés de gato, corri por entre os blocos e enfiei-me dentro de água para aceder a uma grande pedra e, desde aí, tentar resgatar o equipamento. A mochila lá estava, a boiar ao sabor das ondas. Conseguia avistar a Hilti a brilhar no fundo. A mochila ia e vinha, trocista, num jogo do “apanha-me se puderes”. Por sorte, a onda seguinte empurrou-a na minha direcção. Num ápice, icei também a máquina e afastei-me para terreno seco. “Lindo” – pensei. “Adeus ó Hilti!” – pensei a seguir.
Com redobrado cuidado, a Daniela desceu deslizando pela corda fixa.
Este fora o húmido culminar de uma nova aventura na Pedra da Ursa.
A máquina tinha cumprido bem a sua missão. O penúltimo lance da via resultou ser o mais duro. Na proa saliente e extra-prumada, que caracteriza a aresta esquerda da face leste, foram colocados quatro perninhos reluzentes – e resistentes – de forma a proteger uma futura repetição em escalada livre.
No lance anterior, também ficou por realizar um pequeno troço em livre. Também aí foi colocada uma plaquete, para oferecer alguma paz de espírito.
Como é evidente, os pretendentes (que serão imensos!) devem vir prevenidos com uma relativa bagagem de aceitação e paciência. É que a rocha da Ursa não está propriamente considerada como a fina flor das paredes de calcário. Falta-lhe um ou dois ISO`s europeus de qualidade… entre outras coisas, ajuda bastante uma certa crença na imortalidade.
O dia começara com um plano simples: abrir uma via nova na pedra da Ursa.

Paulo Roxo



quarta-feira, abril 18, 2007

A caminhar ou a escalar esperamos lá estar!
Não faltem!

segunda-feira, abril 16, 2007

Mais Pinheirinhos

No outro dia... revelámos os topos do flanco direito da excelente parede dos Pinheirinhos.
Numa passada manhã de Domingo a Daniela e eu dirigimo-nos ao Cabo da Roca com o intuito de escalar uma nova via.
Dois locais completamente dispares com um ponto de ligação… a chuva!
Depois de Malveira da Serra, uma nuvem negra aproximou-se desde o norte com cara de poucos amigos.
Durante as curvas apertadas que antecedem a aldeia de Azóia fomos acompanhados por uma chuvada de gotas pesadas. “Mmmm… que tal mudar de azimute?”
Duas horitas mais tarde, encontramo-nos diante do frontão de calcário que se precipita sobre o Atlântico, na base do flanco ocidental da falésia dos Pinheirinhos.
Resolvemos repetir a “Flor ao Vento”. Esta via, aberta em Junho de 2006, constitui o representante mais acessível e evidente de toda a parede. De grau moderado, possuí quatro a cinco lances, dependendo da longitude da corda que utilizemos. Os primeiros dois largos, em travessia, são comuns com a “Viagem sem rumo” - a segunda via a ser inaugurada nos Pinheirinhos. Logo, segue por um grande diedro de socalcos de linha evidentíssima e de numero V+. Para o caso de uma cordada atada a 60 metros é possível realizar um ultimo mega-lance utilizando toda a longitude da corda. Toda é toda! Se o limite são os 50 metros, torna-se obrigatório montar uma reunião, de preferência a uns 15 metros do final, após uns blocos instáveis (2º crux da via). Existe a possibilidade de montar a reunião intermédia mais abaixo mas, nesse caso, o primeiro de cordada deverá prestar o máximo de atenção uma vez que o assegurador, encaixado no interior do diedro, estará posicionado directamente na linha de queda de qualquer pedra.


Fotos da "Flor ao vento"

Está planeada uma nova visita para uma limpeza mais detalhada e equipamento da referida reunião intermédia.
Não se assustem com a descrição. Com excepção para o passo dos blocos, situado a mais de metade do ultimo largo, a “Flor ao vento” é uma via bastante saudável e (partindo sempre do principio de que nos encontramos em terreno de aventura), recomendável.
Cruzando com a “Flor ao vento” temos a “Wet, wet, wet”, linha mais directa, mais difícil e… mais equipada. Inicio em comum com as vias anteriores logo, aproveitar as pontes de rocha laçadas com troços de corda e, desde a ultima ponte seguir na vertical por terreno desequipado, aparentemente desprovido de fissuras. Á medida que escalamos vamos encontrando locais razoáveis, invisíveis desde baixo, que possibilitam a conveniente protecção. Este é um lance bastante longo (uns 50 metros) e sem visibilidade por parte do assegurador, tornando a comunicação difícil, assim que, uma boa comunicação prévia torna-se essencial. O segundo lance, de corte mais atlético e maior dificuldade, possui bastantes plaquetes, o que facilita a busca do itinerário.
Contrastando ao nível do material fixo, com a pauta geral da região, a “Pilar desencantado”, integralmente equipada, ergue os seus três lances, ao longo de um percurso perfeitamente vertical. As suas dificuldades máximas de 6c+ encontram-se fundamentalmente justificadas por placas técnicas de leitura complicada mas, queda limpa! Esta é também a linha de rapel que permite retornar comodamente à base da parede.
Por ultimo temos a “Oliveirinha”, cuja entrada é comum com a “Pilar desencantado”, desviando-se (após a 5ª plaquete) e entrando em pleno, no grande e intimidante diedro que se realça à esquerda da parede.
A reunião, junto a um curioso grande bloco destacado, antecede o segundo lance que interliga fissuras até alcançar um nicho de vegetação. Desde aí parte o terceiro e ultimo largo que segue por um pequeno diedro pouco complicado até alcançar a ultima reunião da “Pilar desencantado”.

Paulo Roxo


1. Oliveirinha: 110 mts, 6c.
Paulo Roxo + Daniela Teixeira em 22/05/2006.
6c (A0), 6b, 6a.
Material: Friends e entaladores.

2. O Pilar desencantado: 105 mts, 6c.
Paulo Roxo + Paulo Gorjão em 16/01/2006.
6c, 6b+, 6a.
Material: 12 expresses.

3. Wet, wet, wet: 110 mts, 6b+.
Paulo Roxo + João Gaspar em 13/09/2006.
V, 6a, 6b+.
Material: Friends e entaladores.

4. Flor ao vento: 145 mts, 6a+.
Paulo Roxo + Daniela Teixeira em 13/06/2006.
V, V, V+, 6a+.
Material: Friends e entaladores.