quarta-feira, julho 26, 2006

Nem só de escalar vive o Cabo Carvoeiro...a Ema não reparou, mas os rapazes estavam desconcentrados!

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Tripaliu

Este passado Sabado a Daniela e eu abrimos a “TRIPALIU”, no Cabo Carvoeiro.Para mim tornara-se uma questão de honra batizar com este nome a seguinte via a ser inaugurada.
É que, na semana passada descobri a verdadeira origem da palavra TRABALHO. Agora está desvendado o mistério da minha militante aversão pela actividade “trabalhar”. Finalmente percebo as comichões e consequente brotoeja que invadem todo o meu corpo ativados pela simples menção dessa palavra. Leiam o seguinte e irão entender:
“Trabalho A palavra "trabalho" tem sua origem no vocábulo latino "TRIPALIU" (tripallium) - denominação de um instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu). Desse modo, originalmente, "trabalhar" significa ser torturado no tripaliu. Quem eram os torturados? Os escravos e os pobres que não podiam pagar os impostos. Assim, quem "trabalhava", naquele tempo (na altura do Império romano), eram as pessoas destituídas de posses. A partir daí, essa idéia de trabalhar como ser torturado passou a dar entendimento não só ao fato de tortura em si, mas também, por extensão, às atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em geral: camponeses, artesãos, agricultores, pedreiros etc. Tal sentido foi de uso comum na Antigüidade e, com esse significado, atravessou quase toda a Idade Média. Só no século XIV começou a ter o sentido genérico que hoje lhe atribuímos, qual seja, o de "aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) humanas para alcançar um determinado fim". Com a especialização das atividades humanas, imposta pela evolução cultural (especialmente a Revolução Industrial) da humanidade, a palavra trabalho tem hoje uma série de diferentes significados, de tal modo que o verbete, no Dicionário do "Aurélio", lhe dedica vinte acepções básicas e diversas expressões idiomáticas. (Pesquisa de Augusto Nivaldo Trinos.In Revista "Educação e Realidade".)”

Epilogo: Eu já sabia!... Eu já sabia que quem tinha inventado o trabalho não podia ser boa rés!
Paulo Roxo

CARVOEIRADAS
No Domingo a coisa esteve animada no Cabo Carvoeiro. Estas falésias raramente visitadas receberam desta feita alguns ilustres estreantes nestas lides do calcarenito. Ao todo eramos nove escaladores que não se deixaram desanimar pelo calor reinante. A concentração realizou-se no sector ULTIMO, onde foram repetidas algumas das mais... repetidas do Carvoeiro. Assim, vias como a “Federações e outras aberrações”, “Os maluquinhos do cristal”, ou a bonita “Muita gira”, receberam as mãos, pés e magnésio de quase todos os presentes, que disfrutaram destas pequenas “clássicas”.
Também houve tempo para inaugurar um novo itinerário.O João Gaspar “conquistou” uma dura fissura extra-prumada que cruza a famigerada “Tripaliu” que eu, a muito custo (e em top) tentei realizar em livre e, retirar os friends no processo. O Fernando Pereira cruzou a via (também em top) em alta performance, numa velocidade estonteante. De tal modo que o que minutos antes estava dado como um claro 7a+, passou a ser cotado de 6b-. Mmmm... ou talvez não!...De qualquer modo, a "Directa da loucura": 7a/7a+ (?), ficou como um projecto (mais um, entre muitos no Carvoeiro) a desafiar os mais afoitos para uma ascensão em “rot-punkt”, ou “Red-point”, ou... encadear a coisa a colocar os frienduchos na fissurinha.

No Cabo Carvoeiro existem uma 120 vias de escalada de auto-protecção. Desde o inicio foi adoptada uma ética de não equipar absolutamente nada, a não ser as reuniões (mesmo as que existem estão apenas equipadas com um ponto – tige ou perne-, sendo necessário o reforço adicional). Estas falésias são generosas no que toca a fissuras, existindo porém algumas vias algo expostas (é claro que, muitas vezes, a exposição irá variar em função da arte do “animal” na colocação de protecções).

Paulo Roxo

Aqui ficam os croquis do sector ULTIMO e algumas fotos. O tal onde estivemos a “brincar” neste finde.

Tripaliu






...tripaliando... Posted by Picasa

Cabo Carvoeiro

Daniela na "Muita Gira", Miguel e Larau a contemplar...será que contemplam a Teresa??




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Cabo Carvoeiro

Daniela na "Muita gira", Miguel Grillo na "Federações e outras aberrações" e Larau na "Maluquinhos do cristal"





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Cabo Carvoeiro - croquis




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quinta-feira, julho 20, 2006

Xaxtixfeita

“Não me apetece escalar!”, foi o que resmunguei ainda na curva do Cântaro.
Mas como à muito não estava com o Paulo Alves e ele foi ter à Estrela com esse fim, lá desci desentusiasmada para “as traseiras” do Cântaro.
Tinha visto no Sábado um diedrinho seguido de uma lastra, que parecia interessante e foi para lá que fizemos pontaria.
Apesar de escalar muitas vezes com o Paulo Alves, nunca tínhamos aberto uma via os dois e faze-lo na Serra da Estrela era de facto o local indicado.
Ao chegar, pareceu-nos que a linha merecia uma ligeira escovadela…nada que cerca de uma hora e meia de esfreganço não resolvesse.
Na tentativa de escovar só o essencial, o Paulo Alves deu-me pacientemente segurança de cima e lá fui eu em top, escovando aqui e ali e mais aqui e mais ali e mais ali ainda, à medida que fazia os passos do 1º larguito e sentia necessidade desta ou daquela presa escondida.
De seguida, carreguei a cintura de friends e lá fiz o primeiro largo (V+). Cerca de 20m, 10 de diedro e 10 de uma lastra que dão direito a bonitos movimentos e protecções “à bomba”.
O segundo largo (40m.,6a), uma bela fissura seguida de uma placa final fácil, foi aberto pelo Paulo Alves à frente…ainda com tudo por escovar e ensaiar. Escalou e limpou…apenas o essencial (para não sermos acusados da extinção do musgo serrano!).
Nasce assim a via “”Xaxtixfeita”, que para mim, tem um quê de especial. É que para além de ter sido a minha 1ª via aberta com o Paulo Alves, foi a primeira na serra em que fiz o trabalhinho todo como deve ser, vi-a, escovei o que ia escalar e escalei o que escovei à frente!
Ao fim do dia, senti-me…Xaxtixfeita!

Xaxtixfeita
L1: 20m, V+
L2:40m, 6a
(Levar friends pequerruchos…micro para o 1º largo e um camalot 3,5 ou 4. Reuniões não equipadas.)

Nota:breve breve mais fotos desta via...desta feita o bloguinho não deixou!

segunda-feira, julho 17, 2006

O Último Bastião da Mediocridade

Já havia bastante tempo que uma estética linha nos impressionava pela audácia do seu possível traçado. No nosso pensamento, delineávamos uma aberrante e atrevida linha imaginária num grande e suspenso pilar granítico.

No Verão do ano passado, abrimos o primeiro largo e o Paulo equipa com expansivos todo segundo lance. Mas este (2º), resiste a uma tentativa de ser escalado e decidimos que teremos de o “retocar” com mais umas escovagens e a colocação de mais uma plaquete para proteger melhor uma sequência de duros movimentos.

Os dias decorrem no seu ritmo normal, e acaba o Verão, passa o Inverno e nós não voltámos à via.

Já esta temporada decidimos voltar a “retocar” a via e uma vez mais comprovamos a dureza (e sobretudo muito técnicos!) dos seus movimentos.

Ontem (dia 16) decidimos abrir a via de alto a baixo (ou melhor, de baixo ao alto) de uma vez por todas! O 1º largo revela-se algo mais duro do que nos tinha parecido no ano anterior. Uma fina fissura diagonal de 6c com um movimento de A0 no final, antes de entrar num diedro que nos conduz até a reunião à entrada de uma grande chaminé. O 2º lance começa na chaminé, mas imediatamente varia para a enorme e suspensa aresta que percorre o grande pilar sobre a 1ª reunião. Escalada extremamente técnica, com movimentos delicados e bastante difíceis num profundo vazio. Mas tal e qual o 1º largo, também este se resistiu a uma ascensão totalmente em livre, ficando de momento como 7a+/A0.

Eis um desafio para as primeiras repetições: - Para quando uma ascensão totalmente em livre?


Via «O Último Bastião da Mediocridade» (50 mts, 7a+/A0), por Paulo Roxo e Miguel Grillo em 16/07/2006



Paulo no inicio do 2º largo!

Tentativa de 2005


Tentativa de 2005



Mesmo à nossa esquerda, distanciados de poucos metros, o Nuno Pinheiro e o Carlos Simes “Cuca”, resgatavam um teimoso entalador abandonado no dia anterior na via «Hijos Pródigo

Cuca no "crux" da via «Hijos Pródigos»


Nuno na 1ª reunião da «Hijos Pródigos»

Mais abaixo, a Daniela e o Paulo Alves abriam também eles uma nova via nesta face do Cântaro Magro

Daniela Teixeira e Paulo Alves abrindo uma nova via

Miguel Grillo

quinta-feira, julho 13, 2006

Ovelhas negras…nas mandíbulas da URSA!

Ovelhas negras…nas mandíbulas da URSA!

(Nota: Continuando na recuperação de textos já escritos anteriormente e aparecidos em alguma página ou forum da web, aqui fica mais um breve relato)

Reuuuniãooooooo…!!! Sobressaltado, desperto com o forte grito do Roxo. Por momentos deixei--me adormecer ao som das suas distantes e ritmadas marteladas, embalado pelas vagas do oceano. Apreensivo mas tranquilo, inicio o primeiro largo. Uma enorme e rara travessia, inicialmente por terreno fácil, depois pelo interior de um grotesco e húmido túnel, finalizando sobre uma impressionante e exigente travessia extra-prumada directamente sobre as ondas do mar até se alcançar a suspensa reunião. No momento de entrar para as profundezas daquele característico túnel, tive a estranha sensação de estar perante um irreal portal cósmico que uma vez transposto nos levaria para uma outra dimensão espacial e mesmo temporal. Suspeitava, mas estava longe de imaginar que de facto estávamos perante um inesquecível e único dia de escalada. Somente de duas coisas tínhamos a certeza: a primeira era que após a passagem de este túnel que dá acesso directo à face Sul, estaríamos expostos a um grande isolamento e compromisso sob mais de 100 metros de desconhecido e descomposto terreno vertical, de difícil retirada onde nada poderia correr mal; a segunda, esta mais reconfortante (ou não!) era de que dispúnhamos de bastante tempo para esta nova abertura, mais precisamente de cerca de 12 horas. Nem mais nem menos, pois como é sabido que a Ursa apenas tem acesso terrestre (sem direito a banho) na fase de maré baixa. Como tal, apenas por volta das 8 horas da noite voltaríamos a ter acesso seco para regressar. Em todo este período, estaremos embarcados num extenso mar de rocha em pleno azul Atlântico.
Chego à reunião bastante cansado pois este primeiro lance é quase tão exigente para o segundo cordada como para o primeiro. Incómodo e dolorido pela longa espera na suspensa reunião, o Paulo pede-me para ser ele a continuar a abrir o próximo largo. Vendo o seu sofrimento e olhando para o estético e vertical muro branco que temos por cima, cedo-lhe de bom grado o meu turno de primeiro de cordada. Com toda a sua enorme experiência e força abre 50 metros de precária escalada sobre bonitos mas por vezes bastante descompostos muros, equipando a 2ª reunião no início do grande e visível filão de cinzento basalto que domina a parte central da Ursa. Das muitas vezes que observámos a parede desde a praia, foi sempre este negro filão que suscitou as nossas maiores duvidas e receios acerca desta ascensão.
Agora chegou o meu turno de abrir, e começo este 3º lance inquieto, apreensivo e com medo…bastante medo. Tento recordar as palavras do carismático Georges Livanos de forma a manter alguma tranquilidade: “Não existem rochas descompostas mas sim escaladores inexperientes”. Não creio nem acredito na totalidade desta frase mas perante a situação soa-me como um espiritual mantra. Durante largas dezenas de minutos, extremamente focado e cauteloso, após 35 metros de receosos movimentos, precárias protecções, de um valente susto e de soltar muitas pedras e lastras finalmente alcanço uma confortável plataforma onde montar a próxima reunião. Embora bastante descomposto e de difícil protecção a rocha mostrou-se francamente melhor do que o inicialmente esperado. De qualquer modo, este foi um dos largos que mais exigiu de mim próprio desde sempre e onde mais tive de me empenhar física e mentalmente para ultrapassar cada desconhecido metro deste selvagem terreno.

Para terminarmos de forma suave e plena, o ultimo largo revela-se extremamente aéreo, franco, acessível e com rocha de invejável qualidade.
Felizes, no instável e aguçado cume desta torre marítima festejamos esta ascensão, a abertura da segunda via da Ursa, e tudo o que ela representa neste particular momento para nós. Rapelando e destrepando sob a luz dos frontais, baixamos pela via normal imersos na distância dos pensamentos e comentamos como tão perto e aos olhos de todos, numa torre perdida banhada pelo mar se pode viver uma grande aventura e uma inesquecível escalada. Pensamos como nos dias de hoje as pessoas (inclusive escaladores) perdem um pouco o sentido de aventura, do desconhecido, de imaginação, sufocadas por uma rotina preconceituosa e intolerante onde tudo o que seja simplesmente diferente é motivo de duras criticas, repudio e desprezo.
No rebanho da sociedade, os elementos tresmalhados tem um nome: as ovelhas negras!


«As Ovelhas Negras» (150 mts, 6a+/A1) – Ursa (Cabo da Roca), por Paulo Roxo e Miguel Grillo a 16/10/2004

Miguel Grillo (Outubro 2004)



terça-feira, julho 11, 2006

É Proibido! Porquê? Porque sim!

É assim em território nacional, quando não se sabe bem se afecta ou como afecta, o que há e onde há, a solução é proibir!
Porquê?
Ninguém sabe, ninguém explica. Porque sim!


Uma pequena achega sobre as preocupações ambientais em terras lusas...

Desde os primeiros assédios à falésia dos Pinheirinhos na Arrábida (onde existem também lugares proibidos...uuuuuiiiiiiiiiii!), que reparamos na presença de 2 enormes ninhos feitos de paus bastante grossos. Têm cerca de 1m e pouco de altura e quase outro de diâmetro...mas é mesmo a unica coisa que...têm! Estes ninhos parecem estar desabitados já à bastante tempo, mas...porquê, perguntamo-nos nós?
Após uma rápida pesquisa na net, rapidamente descobrimos que até ao inicio dos anos 80, ainda voavam por ali umas quantas águias pesqueiras e de bonelli, mas agora nada! Nadinha!
Mas...perguntam-se vocês, seria a falésia dos Pinheirinhos um local de escalada naquela data?
Possivelmente os passarocos pequeruchos, ao vislumbrarem um qualquer entalador, teriam vontade de saltar dos seus ninhos! Como directamente por baixo, o Adamastor do Atlântico aguarda de boca escancarada, os ditos devem ter sido deglutidos pelas entranhas do oceano!
Nada de mais errado!
Coincide tal época com o incremento da quantidade de barcos de recreio que por ali passam!
Vrum vrum vrum, é o típico e inquietante barulho que nos dias quentes de verão é uma constante por aquelas bandas. Tivemos oportunidade de o presenciar no Domingo que passou.
Só de barcos (todos...todinhos com motor) que pararam naquela belissima baía, foram 5! Os que passaram para cá e para lá...impossivel conta-los.
Como neste recanto, o mesmo acontece em muitos outros pertencentes ao Parque Natural da Arrábida (no qual é proibido escalar em certos locais!)
Mas não sendo suficiente, ouvem-se por ali uns outros PUM PUM PUM. Ainda que possam parecer, não são foguetes festeiros, mas sim os sonidos dos rebentamentos da belissima pedreira de calcários que habita meeeeesmo ali ao lado.
...se eu fosse um passarinho, também voava para outras paragens!
Mas atenção, não seria por causa da pedreira nem devido aos sonoros barcos...o que eu não "curtia" era os escaladores...aquele irritante "clic" dos mosquetões!!!

Daniela Teixeira...uma irritante mexeriqueira de material férrico...click, click!

segunda-feira, julho 10, 2006

Desafiando os COWBOYS

Nos ultimos fins-de-semana uma larga comitiva de escaladores maioritáriamente desportivos tem visitado a Serra da Estrela, escalando principalmente no sector desportivo do Corredor dos Mercadores. Apenas a Isabel, junto do Magno se aventurou (e bem!) em experimentar umas vias clássicas. O Zé por sua vez, prometia em breve uma visita ao mundo dos entalecos.

Ontem (dia 9) após o encadeamento de algum projecto pendente, apareceram no sector inferior do Cântaro para, apesar do calor, disfrutarem de umas belas fissuras.

Na base da via «COWBOYS» (6c) e após uma breve explicação sobre como colocar friends o Zé encadeia à vista esta mágnifica via.

Confesso que foi curioso e extremamente gratificante ver esta cordada de dois dos nossos melhores escaladores desportivos (Isabel Boavida e Zé Abreu) nestas lides da Escalada Clássica. E em grande estilo!





E ouvir as primeiras palavras do Zé ao chegar à reunião:
- Uff...uff, aqui tem-se uma maior sensação de conquista que na desportiva!

É esse o espirito!!!

Miguel Grillo

sexta-feira, julho 07, 2006

Domingo no Mundo”

Depois de um Sábado perfeito, ainda a suspirarmos pela “Erika”, já pensávamos que o Domingo também prometia.
Estavam à nossa espera há algum tempo, duas linhas já escovadas, que nos criavam à alguns fins-de-semana um certo…formigueiro nos dedos!
Pelo meio da manhã, aproximamo-nos novamente do Cântaro, desta da sua face W.
Bem perto da estrada (comparando com a distância de quem vai para a NW), a arrancar do anel do Cântaro, lá estava a via, «A “via” mas já não há», uma tal assediada pelo Miguel e “moi même” à cerca de uma ano atrás, mas que pela dificuldade acrescida devido ao verdume, ficou à espera de melhores dias.
O dia chegou e desta éramos três.
Quando me acerquei dos meninos, já estava o Paulo de anquinhas preenchidas de “amigos” e umas fitas carnavalescas à bandoleiro. Enfiou-se pelo primeiro largo seguindo as instruções do Miguel “…agora vai pelo diedro à esquerda…”. Rapidamente passou o crux, que dá direito à reunião (curioso que nas 3 vias deste pequeno sector, os crux’s estão sempre antes das reuniões!).
Este primeiro largo (V+), entra numa diedro que leva a outro. Neste, é à escolha, ou se faz pelo diedro, ou se desvia para um esporãozito à direita (o que torna a coisa um pouco mais fácil). A saída para a reunião é a mesma que a da via “Triangulogia Final”
De seguida, o Miguel reviveu o segundo largo(6b), com uma pequena diferença para a tentativa do ano passado, desta foi mesmo mesmo até ao fim ( 3 vivas a crux’s escovados!). Este, arranca da reunião por uma espécie de placa com boas presas e uns metros à frente deriva um pouco para a esquerda (1 passo lateral) para voltar a subir. O crux, é um tectinho antes da placa fácil que vai dar à reunião.
Quando o Paulo e eu íamos algures a meio do largo, estava o Miguel em amena cavaqueira (como quem diz…troca de berros!) com a Isabel, que nos olhava lá de baixo…afinal não estávamos sozinhos por ali.
Após a descida, foi altura de trocar “allôs” com a malta que escalava nas desportivas do corredor dos mercadores. Pelos comentários, os V’s por ali metem medo!
Resolvemos depois dedicarmo-nos à segunda via do dia, a que nos esperava na face NW.

Daniela Teixeira (6/7/06)

A arte do sofrimento

- Piii! Piii! - grita a Daniela.
- Ahh! Não grites! – respondo.
O eco do seu grito rebota nas paredes da chaminé e entra nos meus ouvidos como agulhas afiadas.
- Estás em top. Não é necessário gritar tanto!
Logo páro para pensar na sua situação: “Não está acostumada a este tipo de escalada.”
Olho para cima e descubro duas paredes opostas, virtualmente desprovidas de presas, divididas por uma fenda enorme.
Não percebo o que fazer para me elevar.
Então penso de novo: “E quem é que está acostumado a este tipo de escalada?!”




- Piiii! – grito, sem qualquer pudor...
O Miguel assegura-nos desde o cimo, aliviado, depois de ter aberto com mestria este “Off-width” de antologia.
“Sortudo!”
Os “Off-width`s” são fendas demasiado estreitas para permitir o entalamento normal em chaminés “normais” (rabinho de um lado, pés e mãos do outro lado) e demasiado largas para permitir a razoável protecção com friends (normais!). No fundo, trata-se de um arrastamento vertical utilizando todas as partes do corpo, excepto... as mãos.
As possiveis protecções permitem largas sessões de infantilidade e pânico puro.
Os “Off-width`s” são bons locais para se reflectir sobre o sentido da escalada e da vida em geral.


Já haviam passado algumas semanas desde que escovámos esta via e agora vinhamos preparados para a inaugurar.
O Miguel trouxe os maiores friends da sua colecção. Dentro da sua mochila transportava os Camalots quatro, quatro e meio e também o numero seis (!), um verdadeiro calhamaço com as dimensões de uma antena parabólica.
Esta artilharia pesada quase tornava a escalada numa batotice mas, por outro lado, representava uma ténue esperança de reduzir os níveis de taquicardia.
Descemos até à base da via, situada no sector Inferior da face Oeste do Cântaro Magro.
Animado, encarreguei-me do primeiro lance. Um exigente 6b+ constituído por um diedro e uma travessia delicada que conduz ao interior da graaaande chaminé.
O Miguel atacou a “dita cuja” e a Daniela e eu esperámos na fresquinha reunião.
O tempo passou devagar, com o Miguel a pronunciar vários sons indecifráveis que denunciavam vários estados de espirito:
- Uf, uf!
- Gnnnnn!
- Atenção aí!!
- Uau, este passo... blá, blá, blá...
Não entendiamos o que dizia mas percebiamos que estava em jubilo.
E de novo:
- Uf, uf!
- Gnnnn!!
A Daniela olhava-me preocupada...
Eu respondia ao seu olhar dizendo algo estupido do tipo:
- Vais ver que isto é fácil! – “É só saber reptar... muito!” – pensava de seguida.
E, eis que o Miguel, radiante, atinge a reunião. E isso queria dizer que os restantes elementos teriam de começar a subir.
Para além dos “Piiii!`s”, também um monte de “Uffff!`s” e “Gnnnn`s” foi ilustrando a lenta ascensão. E, a juntar ao requintado repertório, também não faltaram as “Merda!`s” e os clássicos “Fo... -se!`s”. Mas a coisa lá terminou com um ocasional “Nunca mais meto aqui os cotos!”
Finalmente, chegámos à reunião, também contentes por haver concluído o objectivo... que consistia em chegar ao topo com um nível de escoriações aceitável.
- Bela via! – exclama o Miguel. – E o grau?
- Como é evidente, se esta via fosse repetida por um “Américas” esta chaminé não seria mais de V.
Este tipo de escalada é quase impossivel de cotar e depende muito do jeitinho do “animal”.


Após uma rápida reflexão a coisa fica-se pelo 6c (quiçá).

Já na Curva do Cântaro encontramo-nos com a malta que tinha estado a escalar no sector dos Mercadores.
O Nuno pergunta:
- E então a vossa chaminé?
- À maneira! Perfeitamente horrivel... é o que se quer!

Paulo Roxo (6/7/06)
D.D.D. (Deep, Dark and Depressing)
50 mts, 6c
(Cântaro Magro - sector inferior)
Material: conjunto bastante completo de friends, camalot nº 4 para um grande nível de medo, camalot nº 4,5 para nível médio de medo e camalot nº 5 ou 6, para um nível de medo aceitavel.






(aconselhável ver filme com som)