Ovelhas negras…nas mandíbulas da URSA!
(Nota: Continuando na recuperação de textos já escritos anteriormente e aparecidos em alguma página ou forum da web, aqui fica mais um breve relato)
Reuuuniãooooooo…!!! Sobressaltado, desperto com o forte grito do Roxo. Por momentos deixei--me adormecer ao som das suas distantes e ritmadas marteladas, embalado pelas vagas do oceano. Apreensivo mas tranquilo, inicio o primeiro largo. Uma enorme e rara travessia, inicialmente por terreno fácil, depois pelo interior de um grotesco e húmido túnel, finalizando sobre uma impressionante e exigente travessia extra-prumada directamente sobre as ondas do mar até se alcançar a suspensa reunião. No momento de entrar para as profundezas daquele característico túnel, tive a estranha sensação de estar perante um irreal portal cósmico que uma vez transposto nos levaria para uma outra dimensão espacial e mesmo temporal. Suspeitava, mas estava longe de imaginar que de facto estávamos perante um inesquecível e único dia de escalada. Somente de duas coisas tínhamos a certeza: a primeira era que após a passagem de este túnel que dá acesso directo à face Sul, estaríamos expostos a um grande isolamento e compromisso sob mais de 100 metros de desconhecido e descomposto terreno vertical, de difícil retirada onde nada poderia correr mal; a segunda, esta mais reconfortante (ou não!) era de que dispúnhamos de bastante tempo para esta nova abertura, mais precisamente de cerca de 12 horas. Nem mais nem menos, pois como é sabido que a Ursa apenas tem acesso terrestre (sem direito a banho) na fase de maré baixa. Como tal, apenas por volta das 8 horas da noite voltaríamos a ter acesso seco para regressar. Em todo este período, estaremos embarcados num extenso mar de rocha em pleno azul Atlântico.
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Felizes, no instável e aguçado cume desta torre marítima festejamos esta ascensão, a abertura da segunda via da Ursa, e tudo o que ela representa neste particular momento para nós. Rapelando e destrepando sob a luz dos frontais, baixamos pela via normal imersos na distância dos pensamentos e comentamos como tão perto e aos olhos de todos, numa torre perdida banhada pelo mar se pode viver uma grande aventura e uma inesquecível escalada. Pensamos como nos dias de hoje as pessoas (inclusive escaladores) perdem um pouco o sentido de aventura, do desconhecido, de imaginação, sufocadas por uma rotina preconceituosa e intolerante onde tudo o que seja simplesmente diferente é motivo de duras criticas, repudio e desprezo.
No rebanho da sociedade, os elementos tresmalhados tem um nome: as ovelhas negras!
«As Ovelhas Negras» (150 mts, 6a+/A1) – Ursa (Cabo da Roca), por Paulo Roxo e Miguel Grillo a 16/10/2004
Miguel Grillo (Outubro 2004)
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3 Comments:
Mais uma vez...muito bom relato!!!
A verdade é que a sensação de medo traz-nos uma felicidade incrível, e é aí que (também) está a beleza da escalada clássica!
Digo eu...
Hoje, tive por essas bandas mais o "Puto" Marc, e apesar de termos ido apertar nas singelas e pouco aventureiras vias desportivas de 1 largo, disfrutamos bastante com o enquadramento natural da Ursa... e com algum desejo, inquietude, ou talvez apenas pensamento, olhámos para esse esporão e ficámos a imaginar como será fazer o que vocês fizeram.... Dasse! Gandas Malucos! eheheheh
Apertem forte!!!
Aquilo esta-se a desmoronar... ai o medoooooo. São os meus heróis.
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