quinta-feira, junho 14, 2007

Futuro...que se lixe o futuro! Viva o Cabo Carvoeiro!


Ora aí está! Ou melhor…ora aí esteve! Ou talvez melhor…ora lá esteve! Esteve o quê? E lá, onde? Confuso? Nada disso…

O “lá” foi mesmo no Cabo Carvoeiro. O “esteve” é que é um pouco mais complexo. Esteve lá…ou melhor estivemos em Peniche, um grupo de amigos (+ou- uns 15) para desfrutarmos de dois dias escalada. E esteve um fim-de-semana curioso onde a sorte se fez sentir acentuadamente. “Curioso”… devido à sorte! E que sorte tão curiosa!

Desde que o Nuno “Larau” se tornou num habitante… ou melhor, numa espécie de habitante… ou talvez ainda melhor, num pseudo-habitante de Peniche, que anualmente festejamos o 10 de Junho para aquelas bandas do Cabo Carvoeiro. Estes são festejos importantes para nós! Mas, desiludam-se os mais patriotas, pois os nossos festejos NADA têm a ver com o dia de Camões, das Comunidades e muito menos de Portugal! Este é o dia de aniversário do “Larau”, escalador (como quase todos os que estávamos presentes) com os dias contados! Contados, porque não temos futuro, porque somos escaladores clássicos sem futuro, porque a escalada clássica não tem futuro… NÃO TEM FUTURO!!!!

Ou será que estamos enganados? Ou será que aqueles que estão convictos disso estão mesmo redondamente enganados? Ou será que apenas o “iluminado” escalador, sabedor da verdade suprema, que um dia proferiu mediaticamente a frase «a escalada clássica não tem futuro» é que está mesmo esganado? Não sei, mas também pouco me importa! Aquilo que sei, ou melhor, aquilo que vejo é que me dá a imagem de que essa afirmação está errada. Nos últimos meses, nunca paredes e falésias “clássicas” viram tanta gente. Nunca algumas agora mediáticas vias de fissura viram tantos “friends” e mãos entaladas. Jamais o Espinhaço, Pinheirinhos, Meadinha, Cântaro Magro, Parede do Inferno e… Cabo Carvoeiro foram assediados de forma tão constante e por tanta gente. Até por lá aparecem algumas “estrelas” do nosso meio. E segundo ouvi dizer, nunca neste país pequenino à beira de um ataque de nervos…desculpem, à beira do Atlântico (ahhh…e que festeja o seu dia no mesmo dia de aniversário do Larau) foram vendidos tantos jogos de entaladores e “friends”. Será que são apenas para pendurar os cortinados, agora que o sol entrará com força pelas janelas e o calor apertará? Talvez…

Mas voltemos a centrarmo-nos no passado fim-de-semana. Como acima dizia foram dois dias curiosos e de sorte. Curiosos pelo grupo diversificado que se formou, e porque penso que nunca estas falésias se viram tão massificadas. Sorte…porque a sorte é que as previsões eram de chuva, pois se fossem de sol acho que morríamos todos esturricados. Foram dois dias perfeitos. Sol, temperatura amena, vias secas e o mar amigável. Enfim…enfiem-se nos buracos até os tendões rebentarem (contra mim falo, pois por vezes também o tento fazer e ainda por cima sem sequer entrar em nenhum “clube” restrito já rebentei um ombro e alguns dedos) e não apareçam…isto é, se quiserem ter algum futuro!

MG

Falésias do Cabo Carvoeiro



Fauna (e flora) local


E tu, será que tens futuro?


Fauna visitante



Marco Cunha...


...é que aaaabafas!

Larau... o aniversariante!


"O Ultimo reduto"


Paulo Roxo


Afinal na escalada clássica também dá para rebentar tendões


Bruno Gaspar "on fire"


E o Cunha a "flashar" a cagar


Repetindo "Bandeira a meia haste" , via aberta momentos antes pelo Larau (será que era por ser 10 de Junho?)


Ema Neto na "Bandeira a meia haste"


E quê, será o Rebuffat? Humm...antes fosse!


A colheita ao final de mais um dia de escalada. Embora em vias de extinção ainda capturámos 2 friends!


Coitadinhos...enfim, têm os dias contados. Viva o 10 de Junho!! (Parabéns Larau!!!!)

segunda-feira, junho 11, 2007

Eiger Wall, a parede perdida
(muito perdida!).



Perspectiva da "Praia dos Penedos".


A Aproximação.

Dia 18 de Abril. Uma quarta-feira inócua, sem historia. Uma madrugada de Lua Nova, escura como breu.
Á medida que caminho, meio dobrado pelo peso, o frontal ilumina o curto raio de terreno que vai surgindo à frente dos meus pés.
Na mochila transporto uma corda de 60 metros, uma cordeleta de apoio de 50 metros, pitons, martelo, friends, entaladores, pernes e plaquetes, uma máquina de furar e respectiva bateria, 3 litros de água, comida e alguma roupa.
Para terminar a nova via iniciada algumas semanas antes, calculei necessitar dois dias mais. De forma a evitar carregar o material de bivaque resolvi encurtar o plano para um único dia. Então, obriguei-me a iniciar a aproximação ás cinco e meia da manhã. Esperava realizar o caminho até à base da parede em duas horas.
O sinuoso trilho de pescadores segue ao longo do mais alto precipício de Portugal continental, a falésia do Píncaro, na serra da Arrábida.
Carregando uma pesada mochila, a caminhada é dura e de altos e baixos, mas a vista é impressionante e a aérea situação tornam este percurso num dos mais belos pedestres da serra.

"Interessante" vista desde a terceira reunião!

A Escalada.

“Ok, aqui estou, mais uma vez metido num épico!”.
Já passou uma meia hora sem que me movesse um centímetro.
O calor intenso das ultimas horas deram conta dos pés-de-gato e da sola dos meus pés.
Este é o oitavo lance de escalada do dia. Estou numa placa vertical com os pés apoiados em presas “aplatadas” de aderência precária e, a uns cinco metros da ultima protecção –felizmente uma sólida plaquete. Nesse ponto encontra-se suspensa por um gancho fi-fi, a máquina de furar. Uma longa cordeleta une a máquina ao meu arnês. Esta era uma daquelas situações em que seria útil possuir quatro mãos. Está descartada a hipótese de colocar um novo perne. Diante dos meus olhos existe uma leve esperança sob a forma de uma fina fissura… demasiado fina para abrigar o friend mais pequeno e, demasiado larga para aceitar qualquer dos pitons que transporto.
“Agg! Os meus pés!” Cada vez me doem mais e a aderência escapa-se.
“Bem, espero que o meu companheiro me segure o voo.”
O meu “companheiro”, desta vez trata-se do senhor Gri-gri, fixo ao meu arnês e por onde passa a corda que desce e desce até à reunião.
Sinto que devo terminar esta via. Não me apetece nada voltar a este local em solitário. Da próxima apetece-me partilhar peso e… conversas. “Nem que seja para falar mal dos outros…”
Longos minutos se passaram e continuo agarrado na mesma posição. Pareço uma lapa.
“Tenho de tomar uma decisão!”
Não me sentindo especialmente afoito resolvo não me comprometer com o passo difícil.
Nos recônditos do meu cérebro cansado surge, finalmente, uma ideia de recurso. Retiro um entalador do conjunto e coloco-o na pequena fissura. Este não entra, fica apenas semi-suspenso. “Para grandes males, grandes remédios!”. Ergo o martelo e… “Ping! Ping! Ping!”. Umas boas marteladas esmagam o entalador na fenda. A nova protecção fixa inspira-me uma renovada confiança. Em pouco tempo resolvo o passo seguinte, em direcção à tranquilidade das protecções de qualidade.
A terceira reunião.

A Retirada

O relógio marcava seis e meia da tarde. Passei a ultima meia hora a arrumar toda a tralha na mochila e a sacudir todas as ervinhas e pedrinhas depositadas no interior da roupa, especialmente… nas cuecas!
Estava no topo da falésia vertical e consegui terminar a via. Sentia-me satisfeito… sobretudo por abandonar de vez os malditos pés de gato!
No fundo, não tinha muitas razões para o jubilo. Ainda me faltava sair dali.
Rampas de arbustos entre cortados por franjas de calcário formavam o obstáculo entre mim e o verdadeiro cimo da falésia.
Muitos arranhões nos braços e pernas, produzidos pelo denso maquis conduziram a um dilema bicudo: “Para cima, por terreno desconhecido ou, para baixo… por terreno perigoso?”
Uma breve vista de olhos pelo relógio fez-me pensar que, ás vezes, o inexorável avançar do tempo possui um estranho poder persuasivo. A decisão foi rápida e implacável: descer!
Os últimos cinco rapeis foram realizados à luz do frontal.
No final de cada lance, ao ser puxada a corda arrastava algumas pedras que voavam em todas as direcções. Seguindo uma lógica distorcida ia pensando que, no meio da escuridão, a manobra estaria de certa forma facilitada pois era impossível ver para onde caíam as pedras. Era a “lógica da batata”, assim uma espécie de “olhos que não vêem, coração que não sente.”.

Parede com cerca de 200 mts com aspecto prometedor.


O descanso

Deviam ser umas dez e meia da noite quando por fim me sentei numa grande pedra na base da parede. Finalmente podia beber e comer algo, aliviado do stress das ultimas horas.
Faltava-me o mais fácil: duas horas de caminhada a subir por terreno íngreme e irregular, carregando uma mochila que teimava em manter-se pesada e desajeitada.

Epilogo

A aventura terminou à uma e meia da manhã, vinte horas depois de ter começado.



Atenção: se me perguntarem pelo estado da rocha e eu disser que é boa... não acreditem!


Paulo Roxo






sexta-feira, junho 08, 2007

Não passa de um "clip" de musica, mas vale o que vale. Rammstein e montanhas, porque não?

sexta-feira, junho 01, 2007

HIMALAIAS DOS PINHEIRINHOS


O dia amanheceu cinzento. As nuvens ainda pingavam confirmando o que os boletins meteorológicos apelidavam de “Aguaceiros blábláblá…”
Enquanto engolíamos o pequeno-almoço uma dúvida silenciosa navegava na minha massa cinzenta “será o dia certo para abrir uma via nos Pinheirinhos?”
O entusiasmo do Paulo não desaparecia, nem com o intenso grau de humidade do ar! “Vamos tomar um café para ver como o tempo evolui” dizia.
Após o café, iniciamos a aproximação por debaixo de um espesso, cinzento e muuuitooo ameaçador manto de nuvens. Com os gore-tex’s nas mochilas chegamos à base da via ainda pouco convencidos que a íamos terminar…ou melhor, eu, pouco convencida, o Paulo, após enfiado o primeiro friend, já não mais se lembrou dos aguaceiros. As cordeletas coloridas (algo inestéticas!) nas diversas pontes de rocha, mostravam bem a linha a seguir. “O primeiro largo é rápido, como já o abri em solitário já o conheço. Vou tentar força-lo em livre”. Foi assim que iniciamos a abertura de mais uma via na bela falésia dos Pinheirinhos.
Foi um “rápido” um pouco lento, a mostrar que aquele largo que cruza parte de uma bela abobada (conhecida entre os assíduos da parede por “cova da areia”) não é assim tão fácil. Os estribos, entraram em acção lá para o final do largo...quando o Paulo o escalou. Para mim…entraram em acção mais cedo!
Nas horas que passamos entretidos com aquele largo, as nuvens ameaçadoras, resolveram ir chover noutro lado qualquer. Na primeira reunião tínhamos já a certeza que os gore-texs’s não representavam nada a não ser…peso. Ainda assim, não fomos acolhidos pelo sol.
A via resolveu encaminhar-se sempre em largo sombrios.
Da primeira reunião até ao topo da falésia, o terreno encontrava-se por desbravar.
Ali mesmo ao lado, a Shisha Pangma trazia boas recordações de uma bela escalada num dia de Inverno.
Os três largos seguintes para além de mais sinuosos, mostraram-se bastante mais fáceis, mais “clássicos” e…com menos cordeletas (ainda existe uma, que marca bem a terceira reunião).
Em jeito de tributo a um amigo, Ivan Vallejo, e à sua recentíssima, dura e persistente escalada do Annapurna, ainda com o frio da sombra da via a roer-nos os ossos, resolvemos chamar a esta nova e belíssima linha “À sombra do Annapurna”. Considerando que está num sector algo himalaico da parede (bem perto da Shisha Pangma e do Diedro Makalu), o nome não nos pareceu desadequado!


Daniela Teixeira






Inicio do primeiro lance. Rocha da boa e possibilidade de forçar em livre na integra.

Ainda no primeiro lance

O terceiro largo.

Na saída do terceiro largo. Por cima de um mar perfeito num dia em que se viam os peixes.

O ultimo lance.

A saída do ultimo lance.