segunda-feira, março 10, 2008

Porquê?

A eterna pergunta.

A pergunta incómoda que sempre suscita respostas rebuscadas, para desculpar a incapacidade crónica de explicar uma acção aparentemente inútil, sem fins de ordem prática.

Para que serve?

Ganha-se dinheiro? Se não, qual a lógica?

Para quê arriscar a integridade física, ás vezes a vida, na busca do impalpável, do abstracto?

São questões recorrentes para as quais não temos respostas concretas.

Inventamos historias sobre o desafio, a superação, a realização pessoal. Historias incompreensíveis para os inquisidores.

Geralmente, a questão do “porquê?” tem uma inevitável sentença anexada: “Estes tipos (e tipas) são loucos!”

Seremos loucos?

Estaremos tão alheados do mundo real, ao ponto de não nos apercebermos da nossa própria insanidade?

Ou será uma tentativa de colocar algum sentido em algo imaterial, algo que para variar, não se venda, ou compre?

Ao longo dos tempos houve várias tentativas para explicar o “porquê?”.

George Mallory (que desapareceu durante uma das primeiras expedições ao Everest, nos anos vinte), resolveu o problema de uma forma muito inteligente. Quando confrontado com a pergunta: “Porque escalas montanhas?” ele respondeu: “Porque estão lá!”

Resposta simples sagaz e definitiva.

Hoje em dia, este chavão com quase 100 anos constitui a fuga mais cómoda. Qualquer um incapaz de responder à grande questão recorre ao lugar comum do “Porque estão lá!”, sem sequer pagar direitos de autor.

Alfonso de Vizán, verdadeiro filósofo, escalador e alpinista de gema, não se contentou com o facto de as montanhas, efectivamente, “estarem lá”. Tentou uma abordagem mais trabalhada para imputar algum sentido a estas actividades marginais. “Lá em cima não há nada. Apenas a história que escreveste com a própria vida para lá chegar.”, dizia.

Frase pouco satisfatória para o leigo exigente mas, uma boa aproximação ás razões que movem alpinistas e escaladores.

Porque escalo?

Que busco?

Será que busco escrever a historia da minha vida antes de lá chegar?

Paulo Roxo