quinta-feira, agosto 09, 2012

Petit climbing trip - Parte IV - Ordesa

 ANIVERSÁRIO COM... GUINDILLA!





À  que confessar que estávamos satisfeitos após 3 aberturas (“Ai que Saralho, pas de condition” nos Alpes, “Ilógica metrológica” nas cercanias de Benasque e “Matilde” em Peña Montañesa) e desgastados física e psicologicamente pela “Matilde”. Chegara a hora de parar de abrir, mudar de local e desfrutar de umas escaladas bonitas por aí.


 Rumo a outras paredes, outras aventuras.


Depois de terminada a via em Peña Montañesa ainda tínhamos uma semana e meia para dar asas à imaginação, com perspectiva de alguns dias de bom tempo pelas paredes dos Pirinéus. Com Ordesa mesmo ali ao lado por conhecer e estimulados pelo novo guia de Christian Ravier e Rémi Thivel, decidimos pela repetição de uma via no magnífico cenário do parque natural, já considerado Património da Humanidade. 


 "Ora vejamos... a qual via iremos? A qual?..."


 Ordesa, o expoente máximo da escalada de aventura. Aqui o esporão característico da famosa "Rabada-Navarro".

 
Para conhecer a escalada naquelas enormes paredes, escolhemos uma via mais acessível, apelidada de “Bonita clássica”, com cerca de 300/350m (dependendo do croquis), “Grand Diedro 73” na parede do Gallinero. Uma via para desfrutar!


 A linha marca a nossa via de aquecimento. Mais de 300 metros para aquecer!

 
 "Deve ser por aqui..."
 

 "Não vejo nada de material e isto parece dificil... mas deve ser por aqui... (atrás, a espectacular e intimidante muralha da "Fraucata". Já lá está marcado um projecto para o futuro! Yéé!)


 ...Bingo!


Assim, dia 15 de Agosto, as nossas mãos tocaram pela primeira vez o típico calcário de Ordesa. Largo após largo ganhámos verticalidade, e a cada reunião, os nossos olhos pousavam na imensidão das restantes paredes. É de facto como dizem, as vias em Ordesa são... arejadas. Conhecemos as típicas reuniões montadas num quadradinho de rocha acima do ar, as tão afamadas presas geométricas e desfrutámos muito de uma via decididamente 5 estrelas, com estéticos largos (especialmente o antepenúltimo e penúltimo... Uáu!).


 Ar e mais ar na saída da via "Grand diedro 73".


 A escalada dos cubos.


 "Estamos quase!"


 A saída da via para os prados de altitude. Lá embaixo, o belíssimo bosque. "Canadá ambiance"!


Lá em cima, algures pelas 18:00, a prioridade deixou de ser descer quando a beleza da paisagem literalmente nos invadiu. Paredes gigantes a talharem vales a perder de vista, o verde intenso da vegetação, as cabras selvagens, as marmotas atrevidas... tudo nos convidava a ficar ali, simplesmente a apreciar a vista e a vida. 


 A natureza...


 Jogos de luz...


 No circulo pode-se apreciar uma cordada a sair da via "Rabada-Navarro". Pontinhos perdidos no mineral.


As marmotas normalmente tão tímidas, são aqui mais fáceis de observar. Já sabem que não constituimos nenhuma ameaça.

 
Uma hora mais tarde, lá nos convencemos que ainda tínhamos muito que andar até chegar ao carro e se queríamos chegar de dia, o melhor era pôr as pernas a mexer. Por essa altura, já nos parecia difícil deixar Ordesa sem antes desenhar uma nova via numa das suas paredes. Na verdade, Ordesa para escaladores, é como uma interminável loja de doces para crianças.


 "Não apetece nada mas, está na hora de descer!"...


 ... rumo ao vale.


 Feliz!


Com previsão de bom tempo para os próximos 3 dias... ou 2 dias e meio, decidimos não nos entusiasmar demasiado e fazer primeiro um reconhecimento à parede “Abismo de Carriata”, a parede da direita do Circo de Salaron, mesmo ao lado do arqui-famoso “Tozal del Mallo”. A escolha prendeu-se com um simples facto, os 300m dessa parede contavam apenas com duas vias, ou seja, aquele quadro tinha espaço para se pintarem muitas mais linhas. Uma caminhada de cerca de hora e meia deixou-nos na base e com alguma rapidez traçamos mentalmente uma linha que nos levaria ao topo da parede. Estava decidido, nos dias 17 e 18 iríamos tentar abrir a nossa via em Ordesa.


 O Tozal del Mallo espreita por entre as árvores.


 O Circo de Salarón, uma deliciosa mistura de rocha e verde.


Mas dia 17, para além de escalar, queríamos desfrutar de um fim de tarde tranquilo e um jantar numa preciosa esplanada de Broto. Afinal estávamos de férias e... eram os meus anos!
Para que tal fosse possível, não nos restava outra solução a não ser acordar novamente com os passarinhos, a horas que seguramente se fosse para trabalhar... não me levantava!


 "PARABÉNS A VOCÊ......PARABÉNS A VOCÊ........"


Pelas 9:30 começamos a escalar. A mim, tocou-me de presente o primeiro largo. Pintei exactamente a linha que tinha imaginado no dia anterior, apenas com mais alguma dificuldade do que o previsto. Passei depois os pincéis ao Paulo que esboçou mais dois largos nesse dia. A coisa correu-nos de feição, a linha foi ganhando um cariz de “Clássica”, com dificuldades amenas e sem a necessidade de colocação de qualquer espécie de protecção fixa, nem nas reuniões!


 A Daniela a iniciar as hostilidades... o presente de aniversário.
 

 Mais dificil do que a primeira vista fazia parecer.


 Os primeiros passos da nova via... yuupiiii!


 O segundo lance da nova via. À cautela, até nos habituarmos a escalar tijolos e lego.


Chegando à altura máxima para o dia, dentro do comprimento de corda que tínhamos para fixar, descemos a boas horas para curtir o nosso final de tarde tranquilo, tal qual como previsto... algo que raramente acontece nestas lides! Aproveitámos para espreitar um bonito vale que fica mesmo ali ao lado, o vale de Bujaruelo, cujas paredes também têm um aspecto promissor... para outra altura!


 Um jantarito no camping, como manda o figurino.


No dia seguinte, tínhamos pela frente mais de metade da parede, pelo que novamente nos forçámos a acordar com os passarinhos, com o objectivo de terminar a via... ou deixá-la por terminar! As previsões meteorológicas não eram animadoras para a tarde, mas como se diz por cá: “Quem não arrisca...”!


 Jumares para pequeno almoço.

 A coisa rola! Graças ás abundantes fissuras a escalada revelou-se bem mais flúida que na Peña Montañesa.

 
 Bombproof!


 A terminar a primeira parte da via.


Os largos sucederam-se com fluidez e a abundância de fissuras para proteger fez com que o tempo gasto fosse o mínimo por largo e reunião. Para o final, o cansaço já se fazia sentir, no entanto o bom horário que mantínhamos deu-nos a certeza de que iríamos sair da via por cima, como tínhamos imaginado dois dias antes.


 60 metros de rampa de ervas. O chão lá embaixo é ilusório. Na verdade, depois da rampa existe um precipicio absolutamente vertical com cerca de 200 metros. Encordamento obrigatório!


 A iniciar o penultimo lance, o maior e o mais exigente da via... aqui ainda não sabia!


 Climb! Climb!

 
"Parece-me que este tijolinho não faz parte da via... fora!"


Pelas 18:30 chegamos ao topo da parede, já com umas nuvens ameaçadoras a preencherem o céu. Ainda assim, desfrutamos do fim da via a apreciar uma vista deliciosa, sentados num tapete de relva verdejante, a degustar uma sandes de pão duro que nos soube a refeição de luxo.


 O ultimo diedro dificil.
 

 A Daniela montada no quadrado da penultima reunião.

 
 "Cheira-me a cume!"


 Sandocha mais dura que uma pedra de calcário... deliciosa!!


 "Tá-se bem!"


Após uma looooonga descida, perto das 9 da noite chegávamos sorridentes (sim, com um sorriso de orelha a orelha!) ao camping onde estávamos instalados, cheios de vontade de fazer um jantar ligeiro, acompanhado de um bom vinho português e... de uma potente guindilha espanhola a servir de aperitivo. 


 "Para a esquerda temos uma... ferrata! Para a direita temos uma... ferrata! Moeda ao ar!"


 A descer o trilho de vertigem. Em frente, lá ao fundo temos a parede do "Abismo de Carriata", um nome apropriado para o palco da nossa nova via. Deste angulo pode-se apreciar a verticalidade perturbante. Uma constante em Ordesa.


 Os corços cruzam tranquilamente a estrada.


Mas a chuva que estava prevista para a tarde, acabou por chegar ao camping mais ou menos ao mesmo tempo que nós! Nada como uma carga de água à séria para nos empurrar para um belíssimo jantar num restaurante em Broto!
E assim, com a chegada do mau tempo que se ia instalar no vale por alguns dias, e ainda com meia semana pela frente, decidimos mudar de poiso, aproximarmo-nos vagarosamente de casa e mudar de rocha.

Apontámos a viatura para o granito...


Daniela Teixeira


 Os topos: