segunda-feira, fevereiro 25, 2013

O buraco, a galinha e a caixa de pandora

O BURACO, A GALINHA E A CAIXA DE PANDORA




 Os seguintes relatos, topos e fotos, reportam aos dias 2 e 3 de Fevereiro, antes das últimas nevadas e “geladas”, quando a serra ainda tinha pouca neve. No presente momento, as condições das vias apresentadas, estarão muito diferentes do que as que encontrámos durante as ascensões.


 O Covão do Ferro.


Desta vez, o “gelo verde” - lembrando a imaginativa alcunha de um ilustre “facebookiano” da nossa praça - estava mesmo gelado.
As temperaturas negativas converteram o nosso pequeno mundo num jardim de júbilo. Os piolets divertiam-se com os tufos de musgo e erva, oportunamente duros e com as fissuras incrustadas de gelo.


Gelo verde!


Comparar estas condições com as que encontrámos aquando da abertura da “Sopa de legumes”, seria como comparar o vinho branco com o tinto. Ambos são vinhos, mas não podiam ser mais diferentes.
O nevoeiro denso e o vento fizeram notar a sua presença.
Alheios aos elementos e animados pelos valores em queda no termómetro, dirigimo-nos decididos ao sector superior do Covão do Ferro. Acedemos desde a Torre, através do planalto superior. Descemos o “Corredor do teleférico” e encontrámos a neve dura, como raras vezes nos laureia a “nossa” serra. Passámos na base de uma das mais célebres cascatas da serra, a “Cascata encaixada”. Ainda muito precária, esta cascata encontrava-se em rápida formação.


 Cascata encaixada, antes...

 ... e um dia depois!


Um sorriso esboçava-se nas nossas caras.
A existência de gelo por aqui e por ali, ainda por cima, de boa qualidade, vaticinava um bom dia de escalada mista.
O plano consistia em escalar uma nova via no flanco de granito à esquerda da “Cascata encaixada”.
O primeiro lance de “gelo verde” encontrava-se em óptimas condições. Uma travessia ascendente presenteou bons gancheios, tufos gelados e suficientes protecções. Logo a seguir, um diedro mais tombado de resolução difícil, conduziu-nos à primeira reunião. 


 O primeiro lance de "gelo verde" desta vez... duro!


 A meio do primeiro lance.


 A finalizar o primeiro lance já a espetar no gelo.
 
 
 Prestes a atingir a primeira reunião.

 
Contudo, foi o segundo lance o que nos reservou a melhor surpresa. Constituído por um corredor fácil na sua maior parte, terminou num curioso túnel rochoso, género: “portal misterioso”.
A Serra da Estrela e os seus detalhes naturais sempre a maravilhar!


 No incio do degundo lance antes de descobrir o segredo...


 O BURACO! Um curiosidade natural concedida pela "nossa" serrinha.

 
 Depois do buraco a chegar à reu. nº 2.


Detalhe da reu. nº 2. Bomber!


Uma vez no topo, celebrámos as excelentes condições encontradas na parede. Efusivos, comentámos a estranha curiosidade geológica da nova via acabadinha de escalar.
Com tão bela linha já no papo, considerámos o dia ganho mas, faltavam ainda algumas horas para o ocaso. 


 A terminar a bonita abertura.


Contrariando a vontade de descer a Penhas da Saúde para pedir algo quente ao simpático David, no café “Varanda da Estrela”, optámos por escalar mais qualquer coisa que nos piscasse o olho.
O piscar de olhos proveio de um pequeno corredor situado à esquerda da “Goullote dos curiosos”. Desde a sua base, parecia uma ascensão simples e sem muita história mas, as coisas não estavam destinadas a rolar conforme as expectativas.


 Nos primeiros passos do corredor "fácil".


 "Mmmm, aquilo não parece nada fácil!"


A meio da via, um estrangulamento vertical conferiu a respectiva “cor” ao assunto e, aquilo que parecia um curto passo de escalada mista, depressa se converteu num conjunto de movimentos relativamente difíceis e algo expostos, terminando numa excelente “goullote” de neve dura e empinada.


 Já depois do "crux", com uma pitada de exposição q.b.


Encontrámos o nível da neve bastante baixo e esse facto converteu o corredor numa via interessante.
Desta feita não estamos convencidos de ter realizado uma “primeira”. Diria até que existe uma grande probabilidade de já ter sido feita anteriormente (provavelmente mais que uma vez). No entanto, fica o registo de mais uma simpática possibilidade invernal. 
Aconselhável, portanto!


 Dia terminado. Felizes a caminho do quentinho. "Amanhã há mais!"


No dia seguinte, o sol deu ar de sua graça e a temperatura subiu um pouco, mantendo-se, no entanto, num valor muito satisfatório. Uma bonança para aproveitar.
Mais uma vez centrámos as nossas atenções no Covão do Ferro.
Uma mole de granito surge entre a parede do arqui-clássico “Corredor estreito” e a parede que alberga a “Cascata encaixada”, separada por dois corredores evidentes.
Uma linha improvável delineou-se diante dos nossos olhos e, claro está, lá fomos nós!


Gelo escasso nos primeiros passos do primeiro lance.


O primeiro lance mostrou os dentes e exigiu uma boa dose de dry-tooling delicado, com algumas passagens de entalamento de mãos (enluvadas) incluídas.


 Dry-tooling, com direito a entalamentos de mãos e gancheios de piolets de manual.


 A Daniela a provar a dose de gancheios.


 Idem.


Posteriormente, uma franca travessia muito fácil colocou-nos numa rampa de neve dura e “empurrou-nos” para uma travessia diagonal de misto fácil e divertido, com um passito final “espremido”.


 Misto fácil mas divertido.


 O passito "espremido".


A lógica do itinerário colocou-nos na face sul da formação e na base de uma última fissura totalmente seca. Noutra ocasião, daria para trocar as botas de montanha pelos pés de gato. Optámos, mais uma vez, pelo dry-tooling… muito dry e, escalámos o lance inteiro a ganchear os piolets na fenda. “É tudo treino!” Justificámos, a pensar nos potenciais objectivos mais longínquos.


 Hiper-dry!


 Piolets "a canhão!"


 Uma saída bonita... para pés de gato!


 A Daniela a "treinar" os gancheios.

 
Desta forma findámos mais uma actividade produtiva ao nível da escalada mista, em definitivo, um estilo de escalada invernal mais ou menos marginal, perfeitamente adaptado à Serra da Estrela.

Entretanto, nos últimos dias têm surgido algumas novidades no campo da escalada em gelo e dry-tooling, nomeadamente algumas aberturas levadas a cabo num recanto obscuro do Vale de Loriga, já conhecido como: Sector Remoto.

Para breve: SERRA DA ESTRELA ICE REPORT


Paulo Roxo



E, como não podia deixar de ser: OS TOPOS