quinta-feira, julho 06, 2006

Terras de ninguém

Sexta-feira, novamente nos fizemos à estrada para passar o fim-do-dia por terras do norte.
Desta, a ideia era escalar na Meadinha no Sábado (1 de Julho) e Domingo ir ter com uns amigos a Vigo. Resolvemos de caminho, ir jantar ao Porto com o Pedro Guedes (da LOJA ESPAÇOS NATURAIS), que por coincidência tinha à espera um belíssimo arnês que o Paulo já havia encomendado.
Por tradição, fomos às fracesinhas, com o Pedro e família (cá para nós, o Pedro tem um filhote lindo…mais um escalador potencial!) e como não podia deixar de ser, a conversa passou pela escalada e pelos múltiplos locais pouco visitados. Por volta das 23:00 e após alguns conselhos, a ideia da Meadinha estava quase esquecida “mas, tens aí os croquis?” perguntava o Paulo, “Estão na loja. Vamos lá e passo-vos os croquis e mostro-vos umas fotos de lá!”. Pela meia-noite, saíamos em direcção ao Gerês.
Cutelo de Pias era o destino.
Após uma curta noite, seguimos as preciosas indicações do Pedro Guedes, e pelas 11:00 começávamos a lindíssima caminhada que vai dar a esse belíssimo penedo de granito.
Seguimos por um vale encaixado, com bonitas placas de granito à nossa esquerda e sempre rodeados da verdejante vegetação do Gerês. Algures a meio caminho, passamos por uma pequena piscina natural, onde desejamos tomar um banhito, mas com a ânsia de tentar ainda escalar qualquer coisita e já com a fraga de granito pendurada no olhar deixamos essas vontades para outras núpcias e continuamos a caminhar. Pouco depois, fomos presenteados pelo voar de uma enorme águia, que se manteve no nosso horizonte por breves instantes. Duas horas foi o tempo que demoramos até à base do penedo e que penedo! “Isto é o paraíso!” exclamamos…Uma belíssima fraga granítica no meio de uma deslumbrante paisagem todinha só para nós.


…que mais se pode pedir?
Duas fragas?
Pois bem, por perto existem duas fragas mais, a imponente Roca Negra e Rocalva!
Como já era um pouco tarde, apesar de vermos algumas linhas atractivas, achamos por bem não nos metermos em ”grandes raiadas” e em jeito de reconhecimento da parede resolvemos fazer a via da qual tínhamos croqui, e sabíamos estar parcialmente equipada, aberta pelo Pedro Pacheco com Miguel Rosa em 1991.
O primeiro largo, é uma trepada fácil por entre a florescente vegetação local, com um pouco de rocha já perto da reunião. É o passo de rocha que lhe dá o grau (V). Apesar de fácil, é preciso algum cuidado, já que algumas das plataformas de terra desmoronam-se com os quilos do corpo humano (e é ingrato partirmo-nos todos a trepar um monte de ervas!).
O segundo largo (6b), já é rocha (com um pouco de musgo, mas nada que impeça a exequibilidade da via.). Entra por uma grande lastronga (que faz “poc poc”) passando diagonalmente para uma placa à esquerda desta. Na placa existe um spit a proteger um passo de aderência que não me pareceu fácil. Logo depois, um "passo de cavalo" atlético para a perna direita, já que há que elevar o corpo sobre esta, bem na vertical (porque como a plataforminha a subir é estreita, ficamos com o nariz colado à parede). Pouco depois, contorna-se um pequeno tecto pela direita e acima deste montamos reunião por debaixo de um outro tecto.Achamos este segundo largo o mais difícil, com alguns passos…acrobáticos.
O 3º largo (6b/A0) (que achamos o mais bonito), segue pela fissura para a direita, que se prolonga depois como um bonito e vertical diedro (que dá direito a esbeltos movimentos). No final deste existe um piton. A fissura do diedro segue depois para a direita (onde existe um 2º piton) e quando termina, dá direito a 2 passos de destrepe que são o início de uma pequena travessia improtegivel…mas fácil.


Depois disso, são cerca de 5 a 6m evidentes, para chegar ao cimo desta fraga.

Lá de cima, a vista é preciosa, todo um mundo de granito entalhado por algumas linhas de água. A descida faz-se a pé “pelas traseiras”, por enormes lages graniticas pouco inclinadas até que se chega ao vale pelo qual acedemos.


Pelo caminho, vêm-se pequenas nascentes (pocinhas por onde começa a surgir a água que alimenta os ribeiritos circundantes).
Finalmente, tivemos ainda tempo para nos deliciarmos com um banho em águas azul turquesa.

Foi um dia perfeito!Domingo, partimos para Vigo com uma história para contar.

Daniela Teixeira

Conselhos aos próximos repetidores:
- Contar com material para montar as reuniões (o “Parcialmente equipada”, traduz-se pela presença de um spit (não se garante que aguente uma queda jeitosa) e dois pitons).
-Levar uma escova para escovar uma ou outra reglete.Aos mais sensíveis ao som, não bater nas lastras maiores (pois quase todas soam a oco!).
-Ir cedo, para ter tempo de tomar um banhito na dita piscina natural.
-Ter em conta a época de nidificação

Já agora, fica aqui o croqui da via gentilmente cedido pelo seu "aberturista" e uma foto do Pedro Pacheco a abrir a via.


Nota: Desculpem lá a deselegancia da publicidade mas se há quem mereça menção pelo apoio que tem dado, é o Pedro e a Espaços Naturais.

2 Comments:

sesa said...

bela aventura. Abraço

Anónimo said...

Fico sem fôlego ao ler as vossas aventuras Que inveja!!!