terça-feira, fevereiro 06, 2007

Gelo! Gelo! Gelo!
Serra da Estrela

Palavras para quê? São imagem de mais uma esplendorosa manhã da nossa querida Serra da Estrela.





Covão do Ferro

Apesar do último nevão, as condições de gelo uma vez mais este Inverno não eram as melhores: escasso e de medíocre qualidade.

De facto, apenas a “Cascata Encaixada” do Covão do Ferro e o “Loriga Ice Paradise” no Vale de Loriga, lá está, salvaram a honra do convento e saciaram as afiladas laminas dos piolets e crampons de morderem este efémero elemento gelado.

E desta, ambas as zonas nos surpreenderam. Uma das mais fascinantes características da escalada em gelo, é precisamente esse factor surpresa. Cada Inverno é diferente, cada dia é distinto, cada cascata é desigual a si própria no Inverno ou mesmo no dia anterior. Um mundo efémero em constante mutação. Um mundo frio, gelado, inóspito…mas de um carácter entusiasmante. Cada golpe de piolet é a chave de um enigma, cada patada de crampons é um passo a desvendar.

Em Dezembro de 2001, apesar de não haver um floco de neve a cair do céu, uma vaga de frio assolou o continente. A maioria dos cursos de água da Serra gelaram, e ao não haver neve, sobressaíram perante os olhares mais atentos. Uma esbelta linha gelada marcava a sua presença neste Covão. E porquê nunca havíamos nela reparado? Talvez devido a alguma desatenção, mas principalmente porque em anos de neve considerável ela simplesmente sobrevive soterrada sob o manto branco. Neste já longínquo ano, 12 meses depois do anunciado fim do mundo, na companhia do Nuno Soares “Larau” e do Hélder Massano, abríamos os dois primeiros lances desta cascata e por algumas horas navegamos ao ritmo daquele encaixado mundo. Apesar da tentativa, o 3º lance encontrava-se impraticável, e amargurados tivemos de “fugir” por uma escapatória de ressaltos rochosos, a qual hoje talvez em jeito de inconsciente auto-penitencia, comummente apelidamos de «Escapatória dos Cobardes».

Não sei se quererá dizer algo mais (do que simples azar), ou terá algum mais obscuro significado (cobarde!), mas a verdade é que Inverno após Inverno, nunca encontrei o ultimo largo em condições favoráveis. Inexplicavelmente, no único dia de um fim-de-semana do Inverno de 2005 em que por motivos que não recordo não pude peregrinar uma vez mais à Serra, o Paulo Roxo, a Daniela Teixeira e o Paulo Alves têm a ousadia de encontrar a totalidade desta cascata nas mais e melhores invejáveis condições. Grrrrrrrrr… pouca sorte a minha!

Às 5 da manhã do dia seguinte, apesar de um aumento brusco da temperatura, encontrava-me de novo na base desta Cascata desta vez na companhia do Bruno Gaspar. E para quê? Porque sim…porque é fixe conduzir duas horas que nem um maluco, dormir pouco e mal, despertar de madruga, ver que está uma temperatura de merda, caminhar até à sua base e ao 1º golpe…zás…derrubar quase meia cascata. Muita fixe! Que bela deve ter sido a escalada dos outros três ontem! Grrrrrrrrrr…nenhuma sorte a minha!

Mas…mas no sábado passado tudo se alterou. A temperatura estava alta, o gelo “chorreava” água em abundância, mas nós lá fomos! Um largo (cascata inicial), dois largos (neve e ressalto de gelo), três largos (cascata final encaixada na chaminé), zás! F###-se desta foi de vez!















Loriga Ice Paradise

Assim é conhecido entre nós este verdadeiro paraíso de escalada em gelo Lusitano. Um muro que em anos bons, forma meia dúzia de espectaculares cascatas situado no Vale de Loriga. Este ano não estava famoso, mas mesmo assim deu para aproveitar. Apenas 3 das linhas existentes estavam formadas…embora não tão formadas como em anos mais favoráveis. A via “Cigarrosa Alpine Guides” apesar do início estar seco e no restante recorrido o gelo estar fino e precário, foi possível desfrutar passando algum medo “à frente”. À sua direita apenas estavam formadas a “Gran Polla” e a Coluna Suspensa. Tinham abundante gelo, e tudo indicava que pareciam estar escaláveis, mas devido às elevadas temperaturas de Domingo e após uma inspecção, achámos que talvez fosse melhor ninguém sequer tentar escalar aquilo “a frente”. Andámos os quatro (para além do Paulo e eu, juntaram-se o Bruno Gaspar e o Jorge Silva) para cima e para baixo, sempre em “top rope” em ambas as cascatas. Algo que nos havia despertado alguma atenção (e temor) era que no final da coluna da “Gran Polla” havia uma curiosa (ou não!) fractura horizontal em toda a largura com cerca de 1 cm. Mas mais curioso ainda, é que no final do dia quando fui desmontar o “top” e desci em rappel, pude constatar (apavorado!!!) de que a tal fractura horizontal já tinha 3 dedos de distância. Hummm…curioso!, pensei.

Abandonamos a zona, pois estava na hora da caminhada sempre a subir até à estrada. Mas mais curioso ainda, é que caminhávamos à 15 minutos quando resolvemos parar momentaneamente e olhar para uns extraprumos de rocha sobranceiros ao muro das cascatas, comentando sobre o seu potencial para abrir umas vias no Verão, quando para pasmo de todos, diante dos nossos olhares vemos a totalidade da coluna gelada da “Gran Polla” (cerca de 20 metros de coluna) cair de uma só vez entoando um misericordioso estrondo. Não queríamos acreditar. Aquela enorme coluna de gelo, na qual passamos todo o dia a escalar e a fazer macacadas, espetando, batendo, saltando, subindo…toda aquela massa de gelo caía assim de um golpe só, perante nós, poucos minutos depois de abandonarmos o local.

Enfim…são as montanhas vivas!

(Apenas lamentamos é que aquela coluna de gelo não tenha caído sobre a cabeça de alguns grandessíssimos F##### da P### que cada vez mais estão a acabar com a carismática Estrelinha)















MiguelGrillo

4 Comments:

Anónimo said...

tcheee...como e que e possivel...algumas esperancas para que no proximo fim de semana ainda haja gelo?

grandes dias que devem ter sido. muito fix

hasta

Pedro Barreto

Anónimo said...

Nope Pedro.

Não creio que a coisa esteja em condições (gelo!) no próximo fim-de-semana.
Apesar do bom aspecto das fotografias a temperatura estava demasiado alta.
Devo confessar que as nossas escaladas de Domingo roçaram a imprudência... enfim, é a aventura...
A coluna que caíu de uma só vez é a que está à esquerda da cascata suspensa (nas ultimas fotos).
No entanto e, partindo do principio que o gelo se rege por normas misteriosas, nada como verificar "in loco".
Por outro lado, se vier mais algum frio, parecem estar a reunir-se as condições para a escalada mista, ao bom estilo "Scottish". Assim que... FORÇA!

Abraço.

Paulo Roxo

João Soares said...

Olá,
Preparei um dossier especial sobre Montanhas.
Espero a vossa visita (caminhada/escalada até ao monte Bioterra) e um comentario.
Parabens pelo vosso trabalho.
Abraço
Joao

João Soares said...

Obrigado pelo comentario.
Já têm o vosso link na actualização do post.
Um abraço