quarta-feira, dezembro 06, 2006

A Décima fissura

A Décima fissura

Há uns anos, num determinado contexto que não interessa revelar, alguém perguntou provocatoriamente:
- Mas existem dez fissuras em Portugal?
A pergunta ficou sem resposta, não pela falta de fissuras (já na altura tínhamos escalado dezenas!) mas, pela obtusidade que a própria questão revelava.
A título de gozo, o Miguel e eu chamámos à «Palácio da Lua» a “Décima fissura”.
Esta via corta em dois o forte extra-prumo sobranceiro à Parede Principal do Espinhaço.
Neste pequeno sector, mirador sobre o inquieto Atlântico, convivem cinco vias, sendo a mais espectacular a «Palácio da Lua».
A navalha da Natureza parece ter cortado esta linha, especificamente para o deleite dos entaladores mecânicos, vulgo Friends.
Há cerca de dez anos, inspirado pela perspectiva de escalar em livre esta via sem recorrer aos expansivos, o Francisco Ataíde começou a limpar a fissura de pequenas lastras que impediam a sua realização.
Anos antes, o Paulo Gorjão e um escalador Americano já tinham tentado
escalar esta mesma linha mas, as tais lastras demoveram os seus esforços e não voltaram.
Após “alguns tralhos” sobre os friends pré-colocados, o Francisco Ataíde lá a conseguiu encadear.
De seguida, também o Filipe Costa e Silva e o Carlos Simes "Cuca" conseguiram escalar a «Palácio da Lua» sem cair, também eles com o material pré-colocado ao longo da fissura.
Recentemente, o Nuno Pinheiro e o “Guga” juntaram os seus nomes à curta lista de escaladores que a realizaram em livre. De novo, utilizando friends pré-colocados.
Faltava realizar o encadeamento, colocando os friends em simultâneo.
Em Dezembro passado, o Francisco Ataíde retornou para tentar a sua sorte e logrou a primeira (e única, até ao momento) ascensão em estilo “Clean”.
Enquanto o grau consensual, com protecções pré-colocadas, é de 7b+, segundo a opinião de Ataíde, este subirá para 7c, se protegemos à medida que escalamos.

O Miguel Grillo, o Ricardo Neves…. e eu tentámos a «Palácio da Lua» no passado fim-de-semana.
É possível realizar vários entalamentos de mãos e, vimos bastante “cor” à coisa. Assim que… voltaremos!
Esta pequena via possui uma estética inegável. Se a isso juntarmos a sua dificuldade elevada estaremos perante um projecto “desportivo” inspirador… para alguns, claro!

Paulo Roxo



















10 Comments:

FCS said...

Muito bom o filme. Podia chamar-se "Os 3 cowboys entalados". Ôps!...É melhor não...

Argumento: O cowboy de calças de ganga estava rodeado de dois amigos mal encarados e ainda faltavam percorrer dois metros até às argolas no fim da avenida. Uma carabina brilhou sob o sol do meio-dia e o herói cerrou os dentes. O chumbo não tardaria em voar.

Cenário: Um sallon chamado "Palácio da lua" com duas argolas onde prender as bestas

Actores: secundários

Heroína: Uma fissura loura e muito boa

Anónimo said...

Boas fotos!

Isso de vedar as mãos é um bocado mariquinhas!!! Mas eu também quero experimentar! Temos de ir lá encadear a pôr os amigos!

CLIMBcn said...

Maning nice!

Pensava que a linha se chamava Palácio de Cristal, mas agora já estou esclarecido.

Torcer bem os dedos na fissura de cima é o segredo do duelo!

Sem dúvida que um verdadeiro encadeamento a por o material é o desafio.

Fiquei bastante contente quando encadeei a linha com protecções pré postas, pois a primeira vez que a fiz foi numa solitária artificialada com o propósito de me introduzir na técnica...
Qualquer assíduo do Espinhaço a tem debaixo de olho!
Um excelente miradouro nesse local mágico.

Espero fazê-la com a extra dureza de alguns segundos passados a por Friends.

Saudações tradicionais à moda do Espinhaço, Cuca

Anónimo said...

Yá! Pelo video até parece que estamos a encadear. Pois, não, não... aquilo é só para o show-off. Mas, para a próxima talvez...

Filipe, quais duas argolas?? Aquilo só tem uma argolinha no fim da avenida! E já é demais!

Nuno. Eu cá gostava de ver-te a entalar as mãos nuas naquela fissura "à morte" para ver quem era o mariquinhas... a chorar de dor!
Junta-te aos maricas e vamos aplicar-nos a fazer a coisa "clean".

Hasta

Paulo Roxo

Anónimo said...

Olá Cuca.

Sim, também descobrimos a tal torcedela de dedos. É preciso é ter ainda bifes para queimar para organizar as patinhas na saída.
A via é espectacular.

Também ouvi falar de um lançamento na saída!... Desde onde até onde??...

Paulo Roxo

Anónimo said...

Isso de vendar as mão...aconselho vivamente a visualizarem a 1ª parte do filme de escalada Return2Sender (ok...eu sei, é um bocado americanado) sobre a escalada em Indian Creek (se existe um paraiso é aqui), onde Timmy O'Neil (tb ele um adicto às fissuras) pergunta (em tom provocatorio) ao carismático Jim Donini (enquanto este desenrola freneticamente um rolo de adesivo em volta das mãos)se escalar de maõs vendadas é como sexo com presevativo. Jim apenas baixa ligeiramente o queixo e arregala os olhos como quem diz: Epá, poupa-me!!! Vira costas e (no alto dos seus 60 e muitos) entala à morte numa fissura de 7a como muitos de nós gostariamos de conseguir num 6a.

Viva as mãos vendadas!!

Miguel Grillo

FCS said...

Roxo: Claro que só tem uma argola! (São as falhas de memória a atacar)
O lançamento "à Guga" é desde o fim da fissura (onde se entala a mão esquerda e abaixo da tal presa molhada) até ao patamar lá em cima à direita (onde vcs não devem ter ido).

Miguel: Eu aos rebuçados também prefiro comê-los sem o papel mas reconheço que quem manda é a fissura.

Anónimo said...

Só foram 4 pessoas escalar? da capacidade de carga prevista para 12 no Espinhaço? Temos de ajustar esta regulamentação para 3,25 pessoas e não se fala mais nisso!
Que acham? Hum?...

Anónimo said...

Que inveja ver-vos escalar um sitio assim maravilhoso!
Que se lixem as mazelas.
bja

Anónimo said...

Ai que musiquinha tão "faoroeste" he he he
... Deve ser por estarem no extremo oeste do continente... Já se ouvem os índios... Huhuhuhuhuhu!!