sábado, setembro 16, 2017

A FACE LESTE, A NOVA VIA E OUTROS APONTAMENTOS HISTÓRICOS



Os Cântaros. Vistas inebriantes de maciços e Natureza.



NOVA VIDA!

O blog têm estado… morto!
Em Dezembro de 2016 mudámo-nos definitivamente para a Serra da Estrela, mais concretamente para a vila de Manteigas. Mudámo-nos para um dos locais mais belos do nosso país. Foi uma mudança radical de vida e de ocupações. O “emprego” da Daniela ia de mal a pior e eu encontrava-me numa fase “estagnada” em termos profissionais.
Tudo mudou no espaço de seis meses. Encontrámos uma casa adequada e, assim sem mas nem meio mas, arriscámos tudo, incluindo a cabeça, em prol de um novo projecto.
Desta forma nasceu a CASA MARIOLAS. Trata-se de um alojamento local com quartos duplos e twins e um quarto camarata com capacidade para seis pessoas.
Nunca antes tínhamos trabalhado no ramo da hotelaria ou hospedagem e a verdade é que tem sido uma experiência animada e gratificante, especialmente porque se trata de um negócio próprio. Estamos livres de vínculos com patrões ou entidades de chefia. No fundo, temos a liberdade para gerir o nosso “barco” e fazê-lo rumar no sentido que desejamos… assumindo que os ventos continuam de feição!
Desde o primeiro momento quisemos cunhar a casa com a nossa forma de estar e com uma forte ligação à Montanha e à Natureza.


Momento de contemplação a meio da face leste do Cântaro Magro.


Como não podia deixar de ser, uma das premissas incontornáveis para a nova profissão era a de conseguir ter tempo. Tempo para desfrutar da “nossa” Serrinha, tempo para explorar, tempo para treinar, tempo para escalar…
Tempo… para escrever, esse têm faltado. E o blog, como consequência, foi ficando para trás. Sobra a insipidez (des)informativa do Facebook.
De todos modos, falemos então de escalada!



FACE LESTE DO CÂNTARO MAGRO
APONTAMENTOS HISTÓRICOS


A face leste do Cântaro Magro na Serra da Estrela é a maior parede “escalável” do nosso país, ultrapassando mesmo a Placa da Nédia situada num lugar remoto da Serra da Peneda. O cume do Cântaro, com os seus 1928 metros de altitude, ergue-se a quase 500 metros de desnível desde o Covão da Ametade. Estranhamente (entenda-se: incompreensivelmente), esta grande face de granito com um carácter marcadamente alpino só raras vezes recebe a visita dos escaladores. Aparentemente, poucos conhecem realmente o seu legado histórico. De facto, foi aqui que foram documentados os primeiros passos de escalada técnica na Serra da Estrela.

Corria o ano de 1953, mês de Agosto, Nave de Santo António. No decorrer do “Primeiro acampamento de montanha” organizado pelo Clube Nacional de Montanhismo (C.N.M.), liderado pelo respeitável Dr. Jorge Santos, fundador do C.N.M. (sediado no Porto), foi realizada a primeira ascensão da face leste do Cântaro. Os protagonistas foram Jorge Monteiro e Moura Martins. Acerca dessa memorável ascensão escreveria Jorge Monteiro muitos anos mais tarde: “Juntamente com o outro companheiro (Moura Martins), uma corda de 30 metros e quatro pitons, fizemos a via central do Cântaro Magro. Lembro-me sobretudo de uma passagem em ressalto, num corredor, que nos deu água pela barba”.


Jorge Monteiro, durante a primeira ascensão da face leste do Cântaro Magro, em Agosto de 1953.


Embora a via exacta desta ascensão não seja perfeitamente conhecida, o relato da “expedição” aponta para a actualmente nomeada como “Via do Y”, mais interessante na estação Invernal, quando se encontra carregada de neve. Contudo, esta ascensão constituiu, de certa forma, o virar de uma página, a transição entre uma determinada concepção generalista de montanhismo clássico para uma abordagem mais especializada de escalada. No dia seguinte a esta histórica ascensão foram escaladas três outras vias por diferentes cordadas, que participaram no referido encontro, encabeçadas pelo Dr. Jorge Santos. Infelizmente, os alinhamentos correspondentes a essas escaladas perderam-se por falta de documentação e croquis.


Moura Martins, companheiro de cordada de Jorge Monteiro em um momento de descanso durante a primeira ascensão da face leste do Cântaro Magro.


Na face leste existem outras cinco vias (mais ou menos documentadas) e umas quantas variantes. Foram ascensões realizadas em períodos diferentes. As mais antigas (pós Jorge Monteiro) foram abertas entre 1973 e 1976 e tiveram o cunho do prolífico escalador Paulo Alves e companheiros. Infelizmente, os denominadores comuns gerais a todas as vias são a sinuosidade, as escapatórias inevitáveis através de grandes rampas ervosas e o nível do musgo. Estes são os aspectos negativos que, a juntar a um certo preconceito geral, fizeram com que esta parede fosse relegada para o quase esquecimento da comunidade escaladora.


A abrir nova via na face leste do Cântaro Magro.


A Daniela, em plena faena no quinto lance da "Josefina Alpina".


JOSEFINA ALPINA

Desde que nos mudámos, já abrimos 16 vias de escalada em rocha ao longo do Vale de Manteigas e no maciço central. Os projectos, esses são… digamos: infindáveis!
Para já fica a informação acerca da maior das novas vias, uma via que desejamos, venha a ser repetida e devidamente desfrutada...


A JOSEFINA ALPINA é a nova proposta da face leste, aberta pela Daniela Teixeira e por mim, em Maio de 2017. Trata-se de uma via “amena”, equipada por forma a garantir um certo grau de compromisso, mantendo o espírito de aventura sem nunca chegar a ser exposta. Quase todas as reuniões estão integralmente equipadas ou possuem pelo menos uma protecção fixa. Em placas onde não é possível proteger utilizando entaladores ou friends, ali estará a plaquete salvadora.


Na travessia do sexto lance, a caminho do difícil diedro onde se encontram os únicos passos de escalada artificial da via. 


A escalar o espectacular lance número oito da "Josefina Alpina". Um verdadeiro desfrute a meio de uma grande via.


As passagens mais sujas foram devidamente escovadas, sem jamais entrar em exageros impactantes.
Quisemos criar uma via de porte, para desfrutar (sem demasiado stress) de uma escalada longa naquela que pode ser, em nossa singela opinião, a parede mais “alpina” da nossa geografia.
No fundo, a ideia é devolver a respectiva dignidade a esta parede singular que se levanta imponente desde o Covão da Ametade.


O décimo lance da via. O "Pilar verde" inicia com uma placa protegida por uma plaquete.


 Os últimos metros do lance número 13. "Estamos quase a terminar... ufa!"



Pelas suas dimensões e características a Josefina Alpina pode representar um grande objectivo para uma cordada iniciada nas lides das grandes vias de montanha, uma magnífica ascensão de preparação para voos mais altos para uma cordada mediana ou um divertido dia longo de escalada para uma cordada experiente em vias de vários lances.

De todas as maneiras, pensamos valer a pena reservar um destes fins de semana para escalar esta via e assim colocar no mapa a magnífica parede leste do Cântaro Magro.

Aqui fica o convite!


 "Foto-cume!!!" Agora só (!) falta a descida.


Paulo Roxo



O Topo










3 Comments:

Alexandre said...

Por aí andei na década de 70. Faces Este e Norte do Cântaro Magro e tantas outras da Serra da Estrela. Foram bons tempos, muita saudade da época, do lugar e dos amigos. Alexandre.

MM said...

Parabéns pela excelente via!! Grande desfrute, placas lindas de escalar, diedros magníficos.
O largo 7 do A1 foi um pouco mais escovado e limpo e feito em livre, acho que não fica mal de 7a, técnico e chatinho ainda.

Overall, das melhores experiências da minha vida de escalada!!!

Fernando said...

Hola,

Disculpa por escribir en Español.

Vía escalada el 13/05/2023.

L1 + L2 + L3 escalado en ensamble.
L6 + L7 unidos y escalados en libre. ¿7A? Quizá. Quizá algo menos.
L10 + L11 + L12 escalado en ensamble. Tiramos un gran bloque desprendido de la pared en el L12. Sin ese bloque la dificultad quizá haya subido a V o V+.
L13 + L14 escalado en ensamble.

Vía discontinua pero muy disfrutable. Bien protegida y en un paraje precioso. Gracias por la apertura.

Saludos.

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Traduzido com Google Tradutor:

Olá,

Desculpe por escrever em espanhol.

Rota escalada em 13/05/2023.

L1 + L2 + L3 dimensionados em montagem.
L6 + L7 unidos e dimensionados livremente. 7A? talvez. Talvez um pouco menos.
L10 + L11 + L12 dimensionados em montagem. Derrubamos um grande bloco da parede em L12. Sem esse bloqueio a dificuldade pode ter subido para V ou V+.
L13 + L14 dimensionados em montagem.

Percurso descontínuo mas muito agradável. Bem protegido e em um belo cenário. Obrigado pela abertura.

Saudações.