domingo, novembro 04, 2018

Inescaladas 2018 - Acto I

INESCALADAS 2018
ACTO UM



João, Pedro e Tiago, imediatamente antes de iniciarmos a ascensão da face norte do Shan-Ri.


Após quatro dias de trekking atravessando o belo vale de Markha, Ana Moutinho, Irene Frutuoso (as Trekkers), juntamente com João Lopes, Pedro Costa e Tiago Faneca (os Alpinistas), guiados por mim, estabelecemos o Campo Base aos 4400 metros num belo local chamado Langtang Chan. Tudo preparado para tentar... alguma coisa!


As pontes por vezes cedem!


Paisagens variadas ao longo do trekking.


Ao longo do trekking vamos encontrando vários santuários Budistas.



As cargas são transportadas por pequenos cavalos (pôneis). Após quatro dias atingimos o local onde foi instalado o Campo Base aos 4400m.


O dia seguinte (25 de agosto) foi dedicado ao descanso… para alguns. Eu, acompanhado pelas meninas e pelo Pedro Costa, subimos até aos 4900 metros, até um colo onde, pensávamos, seria possível avistar as montanhas desejadas.
No dia seguinte, a Ana e a Irene despediram-se do resto do grupo para realizar os últimos dois dias de trekking, enquanto os escaladores iniciavam o processo de aclimatação.


A Ana a Irene e o Pedro, no colo do reconhecimento aos 4900m. Lá atrás avista-se a primeira montanha com 5960m, sem nome e possivelmente virgem.


Toda a equipa no Campo Base. Da esquerda para a direita, Irene, eu, Ana, Tiago, Pedro e João.


Com as mochilas bem pesadas (cerca de 25kg!), subimos até aos 5170 metros, onde instalámos o Campo I, numa confortável plataforma de erva. Até ao momento, as botas de altitude tinham sido inúteis porque a neve era inexistente. Conseguimos fazer tudo com sapatilhas de caminhada.
Como o nosso objetivo não era claro, começamos a planear de acordo com o que tínhamos diante de nossos olhos, o que, devido à nossa posição geográfica e ângulo de visão, ainda não era muito. Desde o Campo I apenas conseguíamos observar um pico interessante. O problema é que o mapa marcava o pico como tendo “apenas” pouco mais de 5900 metros, e todos (com excepção para o Tiago) estavam um pouco fixados na marca dos 6000. A beleza da montanha não fora um factor suficientemente apelativo para gerar um consenso imediato. Já no aconchego das tendas, o João admitiu: “Eu sei que o valor das montanhas não se mede apenas pela sua altitude mas, confesso que gostaria de escalar algo com mais de 6000 metros!” Compreendi perfeitamente aquele pensamento e secretamente partilhava do mesmo desejo mas, como profissional, tentei alhear-me da decisão e declarei: “Iremos tentar o que a equipa decidir. Para mim, 5000 ou 6000 metros é o mesmo, desde que a equipa esteja feliz!” Após um breve momento de reflexão o Tiago atirou: “Vocês estão um bocadinho obcecados com o número 6000!” Todos rimos…
De qualquer forma, de acordo com o mapa, podíamos optar ainda por três cumes com mais de 6000 metros, todos aparentemente virgens. A decisão final teria de ser tomada após o processo de aclimatação, desde um ponto mais elevado, alguns dias depois.


A primeira incursão acima do Campo Base. Nas mochilas uns simpáticos 25kg!


Campo I aos 5170m.


Na manhã seguinte, voltámos a descer para o Campo Base para descansar dois dias antes da derradeira tentativa.
Diante de um bom jantar confeccionado por Jor, o nosso cozinheiro no Campo Base, discutíamos os detalhes da ascensão. A grande vantagem era que grande parte do equipamento tinha sido depositado no Campo I, o que permitiria subir até ali muito mais ligeiros. “O problema vai ser a seguir, até ao próximo campo!” Teríamos que montar um segundo campo de altitude antes de tentar escalar o que quer que fosse. Alguém assentiu: “Pois, isto não é como os Alpes. Aqui não existem refúgios aquecidos e confortáveis. Aqui temos que carregar a tenda, sacos-cama, colchonetas, fogão, comida… enfim, tudo para sobreviver.” Com a colher cheia de comida, já a apontar para a boca, rematei espirituoso: “Um bom escalador da nossa praça, o Pedro Pacheco, disse um dia: Antes de se ser um bom alpinista, é necessário ser-se um bom burro de carga! Não sei se a frase é da sua autoria, mas corresponde bem à verdade!” Entretanto, a sobremesa foi colocada em cima da mesa, improvisada com caixas de arrumação. Todos esquecemos por alguns momentos as altitudes ventosas e nevadas dos Himalaias.


Passados dois dias, retomámos a ascensão. Em silêncio, a pouco e pouco, íamos ganhando altitude em direcção ao Campo I. Na mente vagueava a esperança de poder alcançar um daqueles cumes intocados pelo Homem.


 O final do glaciar e o inicio das oportunidades. Pico sem nome com 5960m. Possivelmente virgem.



Continua...

Paulo Roxo


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