INESCALADAS 2018
ACTO UM
João, Pedro e Tiago, imediatamente antes de iniciarmos a ascensão da face norte do Shan-Ri.
Após quatro dias de trekking
atravessando o belo vale de Markha, Ana Moutinho, Irene Frutuoso (as Trekkers),
juntamente com João Lopes, Pedro Costa e Tiago Faneca (os Alpinistas), guiados
por mim, estabelecemos o Campo Base aos 4400 metros num belo local chamado
Langtang Chan. Tudo preparado para tentar... alguma coisa!
As pontes por vezes cedem!
Paisagens variadas ao longo do trekking.
Ao longo do trekking vamos encontrando vários santuários Budistas.
As cargas são transportadas por pequenos cavalos (pôneis). Após quatro dias atingimos o local onde foi instalado o Campo Base aos 4400m.
O dia seguinte (25 de agosto) foi
dedicado ao descanso… para alguns. Eu, acompanhado pelas meninas e pelo Pedro
Costa, subimos até aos 4900 metros, até um colo onde, pensávamos, seria possível
avistar as montanhas desejadas.
No dia seguinte, a Ana e a Irene despediram-se
do resto do grupo para realizar os últimos dois dias de trekking, enquanto os
escaladores iniciavam o processo de aclimatação.
A Ana a Irene e o Pedro, no colo do reconhecimento aos 4900m. Lá atrás avista-se a primeira montanha com 5960m, sem nome e possivelmente virgem.
Toda a equipa no Campo Base. Da esquerda para a direita, Irene, eu, Ana, Tiago, Pedro e João.
Com as mochilas bem pesadas
(cerca de 25kg!), subimos até aos 5170 metros, onde instalámos o Campo I, numa
confortável plataforma de erva. Até ao momento, as botas de altitude tinham
sido inúteis porque a neve era inexistente. Conseguimos fazer tudo com sapatilhas
de caminhada.
Como o nosso objetivo não era
claro, começamos a planear de acordo com o que tínhamos diante de nossos olhos,
o que, devido à nossa posição geográfica e ângulo de visão, ainda não era muito.
Desde o Campo I apenas conseguíamos observar um pico interessante. O problema é
que o mapa marcava o pico como tendo “apenas” pouco mais de 5900 metros, e
todos (com excepção para o Tiago) estavam um pouco fixados na marca dos 6000. A
beleza da montanha não fora um factor suficientemente apelativo para gerar um
consenso imediato. Já no aconchego das tendas, o João admitiu: “Eu sei que o
valor das montanhas não se mede apenas pela sua altitude mas, confesso que
gostaria de escalar algo com mais de 6000 metros!” Compreendi perfeitamente
aquele pensamento e secretamente partilhava do mesmo desejo mas, como profissional,
tentei alhear-me da decisão e declarei: “Iremos tentar o que a equipa decidir.
Para mim, 5000 ou 6000 metros é o mesmo, desde que a equipa esteja feliz!” Após
um breve momento de reflexão o Tiago atirou: “Vocês estão um bocadinho
obcecados com o número 6000!” Todos rimos…
De qualquer forma, de acordo com
o mapa, podíamos optar ainda por três cumes com mais de 6000 metros, todos
aparentemente virgens. A decisão final teria de ser tomada após o processo de
aclimatação, desde um ponto mais elevado, alguns dias depois.
A primeira incursão acima do Campo Base. Nas mochilas uns simpáticos 25kg!
Campo I aos 5170m.
Na manhã seguinte, voltámos a
descer para o Campo Base para descansar dois dias antes da derradeira
tentativa.
Diante de um bom jantar confeccionado
por Jor, o nosso cozinheiro no Campo Base, discutíamos os detalhes da ascensão.
A grande vantagem era que grande parte do equipamento tinha sido depositado no
Campo I, o que permitiria subir até ali muito mais ligeiros. “O problema vai
ser a seguir, até ao próximo campo!” Teríamos que montar um segundo campo de
altitude antes de tentar escalar o que quer que fosse. Alguém assentiu: “Pois,
isto não é como os Alpes. Aqui não existem refúgios aquecidos e confortáveis.
Aqui temos que carregar a tenda, sacos-cama, colchonetas, fogão, comida… enfim,
tudo para sobreviver.” Com a colher cheia de comida, já a apontar para a boca,
rematei espirituoso: “Um bom escalador da nossa praça, o Pedro Pacheco, disse
um dia: Antes de se ser um bom alpinista, é necessário ser-se um bom burro de
carga! Não sei se a frase é da sua autoria, mas corresponde bem à verdade!” Entretanto,
a sobremesa foi colocada em cima da mesa, improvisada com caixas de arrumação.
Todos esquecemos por alguns momentos as altitudes ventosas e nevadas dos
Himalaias.
Passados dois dias, retomámos a
ascensão. Em silêncio, a pouco e pouco, íamos ganhando altitude em direcção ao
Campo I. Na mente vagueava a esperança de poder alcançar um daqueles cumes
intocados pelo Homem.
Continua...
Paulo Roxo
0 Comments:
Post a Comment