quarta-feira, janeiro 02, 2019

Serrinha winter report


SERRINHA WINTER REPORT 
PASSADO (recente) e FUTURO (imediato)





Agora que o inverno está aí à porta e a neve e o gelo se avizinham (com sorte - porque hoje em dia já nada é seguro!), aqui fica a reportagem das novas vias de escalada mista e de gelo inauguradas na temporada anterior, na Serra da Estrela, no período entre Janeiro e Abril de 2018.
São raros os Invernos em que a “nossa Serrinha” não oferece condições para algumas novas linhas. O Inverno de 2018 não fugiu à regra e, entre Janeiro e Abril foram inauguradas 15 vias, a maioria de escalada mista e algumas de escalada em gelo.
Este compilado não representa todas as novas aberturas invernais desde a edição do guia “Serra da Estrela, Montanhismo e Escalada Invernal” (Outubro de 2015). Esse trabalho de actualização fica reservado para uma futura reedição. Até lá, deixamos a seguinte lista que pode servir como um complemento ao livro, bem como oferecer informação útil a possíveis alpinistas que a queiram aproveitar para viver uma boa aventura no Inverno que se avizinha.
As vias serão apresentadas segundo a sua ordem cronológica.



1.      BEM HAJAM. 145m, M6+
Em Janeiro, a “Serrinha” prometia um bom Inverno e, aproveitando as primeiras grandes nevadas lá fomos, de piolet em riste, atacar uma linha do Covão do Ferro que há muitos anos nos piscava um olhito desafiante. O que saiu, foi uma via espectacular, intensa e exigente. A primeira tornou-se também numa das melhores da temporada.
Acesso: através da barragem do Covão do Ferro.
Material: friends, entaladores bicoins e excêntricos, cordas duplas de 60m.






2.       DOU NA ERVA. 110m, M5
Trata-se do promontório rochoso situado no cimo e à direita do Corredor Largo que parte do Covão Cimeiro. Escalámos esta via no meio de uma pequena tempestade e com vento. Encontrámos condições húmidas e a neve decomposta. Com boas condições ganhará outro interesse.
Acesso: comum com o acesso à Cascata das Couves, descendo desde o topo do Corredor Largo e logo torcer para a esquerda até encontrar o início do esporão.
Material: entaladores excêntricos e friends.







3.       TRAGÉDIA FELIZ. 100m, WI2+/3
Esta via surge apenas quando a Serra da Estrela apresenta pouca acumulação de neve e o gelo marca a sua presença. Trata-se de uma sucessão de pequenas cascatas finalizando com uma goulotte interessante (já escalada anteriormente, mas sempre em condições de neve e sem gelo – trata-se de um acesso às cascatas Canalito, etc) que acede às cascatas superiores da parede norte na vertente esquerda do famoso Corredor Largo. A via foi escalada pelos Pedro Barreto, Sérgio Cortez e Rui Real que continuaram posteriormente pelo Corredor do Curso até ao planalto superior.
Acesso: descendo o Corredor Largo, mais ou menos junto à parede orientada a norte. Atenção se a neve estiver dura pois acrescenta um considerável grau de exposição.
Material: parafusos de gelo e friends.






4.       DIEDRO DA FRANCELHA. 50m, M5
Trata-se de uma bonita via descoberta pelos Gonçalo Alves e Hélder Massano. Esta linha mista possui dois lances, sendo o segundo o mais difícil. Uma interessante proposta que se avista facilmente desde a célebre Placa da Francelha (sector de escalada em rocha).
Acesso: desde as pistas de esqui, seguir o trilho evidente que se dirige em direcção ao vale de Loriga.
Material: friends e alguns parafusos de gelo.







5.       MIÚDOS. 20m, WI3
Pequena cascata de rara formação que pode surgir quando a Serra da Estrela apresenta pouca acumulação de neve. No mesmo dia em que inauguraram o Diedro da Francelha, Gonçalo Alves e Hélder Massano realizaram a primeira ascensão desta linha de gelo, situada no flanco esquerdo da Placa da Francelha (sector de escalada em rocha). Aproveitando a reunião no topo da placa, ainda escalaram duas outras cascatas mais precárias que se formaram imediatamente à direita da Miúdos. Estas últimas foram escaladas em top-rope.
Acesso: comum com o acesso para a Diedro da Francelha.
Material: parafusos de gelo e friends.






6.       ESCARRAPICHANDO. 120m, M3/70 ͦ/WI2
Esta linha improvável formou-se entre a mini cascata Micro-Coisa e o sector do Cavalo (sectores de gelo no flanco orientado a norte do Corredor Largo). Entra por uma espécie de diedro-corredor, ultrapassa uma série de tufos de erva congelados e troços de gelo e sai pelo Corredor do Curso por um “passito” de misto bem vertical. É uma via que se avista quando a Serra da Estrela apresenta pouca neve e estará facilmente em condições em dias frios.
Acesso: descendo o Corredor Largo, mais ou menos junto à parede orientada a norte. Atenção se a neve estiver dura pois acrescenta um considerável grau de exposição.
Material: friends e parafusos de gelo.






7.       CASCATA MAIS QUE REMOTA. 20m, WI2
Como o próprio nome indica, esta pode bem ser a cascata mais remota do Vale de Loriga e (até à data) a mais longínqua via de gelo da Serra da Estrela. Para colecionadores! É possível avistar esta linha desde a estrada de Seia para a Torre, no lado oposto do vale. Contar com umas duas horas para a aproximação. Existem outras pequenas linhas de gelo por explorar na área. Forma-se apenas quando a Serra apresenta pouca neve.
Acesso: o mesmo que para o Sector Remoto, mas mais longe!
Material: parafusos de gelo.






8.       SEM HESITAR. 185m, WI5/M6
Quando em boas condições é uma via excelente. Para nós tratou-se de uma das melhores aberturas do Inverno passado! Situada na Face Oeste do Cântaro Magro, esta linha comunga espaço com outras belas vias, como a Pepi te Quiero ou a Scottish Way. O primeiro lance escala uma estética goulotte de gelo muito estreita e técnica e o penúltimo lance ultrapassa uma coluna de gelo que já há alguns anos se mostrava desafiadora mas que ainda não tinha sido ultrapassada.
Acesso: cómodo, 15 minutos desde a Curva do Cântaro.
Material: friends, entaladores e parafusos de gelo curtos.






9.       O GATO TEM GARRAS. 40m, WI5+
Este diedro, situado num dos sectores mais atléticos da Serra da Estrela, o sector Powermix, transformou-se (em conjunto com a Miró – a seguir) num grande desafio psicológico. Foi realizada à vista, integralmente em livre e com bastantes passagens no “fio da navalha” e no limite da queda. As protecções sob a forma de friends e entaladores, colocados numa fissura que segue paralela, na parede da direita, revelaram-se excelentes o que contribuiu para o sucesso da abertura. Uma das que mais satisfação trouxe, na temporada passada.
Acesso: desde o estacionamento da “Santinha”, seguir em direcção do topo do Cântaro Raso e antes do topo, alcançar um colo até encontrar a parede norte vertical correspondente ao sector Powermix.
Material: friends e 2 parafusos de gelo curtos.






10.   MIRÓ. 60m, WI5+
Trata-se de uma via de escalada em gelo de imediata identificação pelo seu alinhamento, um fino e elegante risco branco traçado a direito num diedro evidente. Daí o seu nome, inspirado pelas pinturas de Miró. Sem dúvida, uma das mais belas vias invernais da Serra da Estrela. Devido à falta de fissuras evidentes para proteger, foi necessário colocar um mínimo de plaquetes por forma a garantir a ascensão sem incidentes (leia-se: acidentes), em caso de queda.
Acesso: o mesmo que para a via anterior.
Material: friends, 4 parafusos de gelo curtos.






11.   CORREDOR PORQUE SIM. 150m, 60  ͦ/M3+
Num dia de treino solitário, escalei esta via em solo integral. É bastante improvável que esta constitua uma primeira ascensão, devido a ser uma linha muito lógica e evidente. Em falta de qualquer registo conhecido, fica a proposta de nome para este bonito corredor que, nas devidas condições, pode providenciar uma interessante experiência iniciática ao mundo do alpinismo e escalada invernal.
Acesso: via perfeitamente visível desde a Curva do Cântaro. Descer em direcção ao célebre Corredor do Inferno.
Material: friends úteis.





12.   LÓGICO! 120m, 55  ͦ/M3
No mesmo dia, após escalar em solo o Corredor Porque Sim, dirigi-me ao sector Curva do Cântaro e escalei esta via também sem a corda.
Trata-se de uma via que apresenta “dupla personalidade” ambas muito distintas. Quando a Serra da Estrela apresenta um bom manto de neve, este alinhamento perde-se numa simples rampa de neve, larga e desinteressante. Com pouca neve, o seu carácter transforma-se por completo e surgem alguns passos de escalada mista, sobretudo ao longo da chaminé evidente que constitui a “graça” do itinerário.
Acesso: muito evidente e a 10 min. Da Curva do Cântaro .
Material: friends úteis.





13.   CORDA CURTA. 180m, M4/65  ͦ
Há muito que havia visto este alinhamento que vence toda a parede orientada a norte situada à esquerda do início do Corredor Largo, mais precisamente, imediatamente à esquerda das vias mistas: Cinco Euros por Metro e Corredor do Cavalo. Motivado para a realizar em solo, lancei-me à aventura e, no final, saiu uma bonita via variada, de moderada dificuldade que merece a pena ser repetida, quando em condições. A saída é o mais difícil e aí assegurei-me com um troço de corda com apenas 20 metros. Não foi portanto, uma escalada integral em solo mas sim combinada com a parte final, realizada em técnica de escalada em solitário.
Acesso: o melhor será realizar a aproximação desde a Curva do Cântaro, conforme sugerido no livro “Serra da Estrela, Montanhismo e Escalada Invernal”, para o sector Corredor Largo (pág.132 – opção B)
Material: friends e entaladores.






14.   ARRASTA-TE. 100m, M5+
Em fim de estação e com as temperaturas já a roçar a Primavera, formei cordada com Pedro Costa para abrir esta via que segue uma linha lógica no atractivo esporão leste que culmina no cimo do Cântaro Raso. Visto desde a estrada que faz a ligação Piornos-Torre e antes de chegar ao pequeno túnel, o esporão leste do Cântaro Raso inspira quem por ali passa com olhos de escalador. Nesta abertura encontrámos condições longe do ideal para a escalada mista. No entanto, em boas condições pode ser uma óptima opção em dias de estrada cortada, recuperando assim um certo ambiente tranquilo de montanha.
Acesso: são uns 20 minutos desde o miradouro com vista para o Covão da Ametade, situado na curva muito acentuada que precede o túnel (vindo dos Piornos). Com a estrada cortada desde os Piornos contar com uma hora de aproximação.
Material: friends e entaladores.






15.   WELCOME SUMEEER! 180m, M5
Esta foi a última via mista inaugurada na temporada anterior. Trata-se de uma bonita linha com três longos lances de escalada mista e grau ameno que, em caso de se encontrar em boas condições (não foi o caso durante a abertura), pode figurar como umas das mais aconselhadas da Serra da Estrela.
Acesso: através da barragem do Covão do Ferro.
Material: friends e entaladores.







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