SERRINHA WINTER REPORT
PASSADO (recente) e FUTURO (imediato)
Agora que o inverno está aí à porta e a neve e o gelo se
avizinham (com sorte - porque hoje em dia já nada é seguro!), aqui fica a
reportagem das novas vias de escalada mista e de gelo inauguradas na temporada
anterior, na Serra da Estrela, no período entre Janeiro e Abril de 2018.
São raros os Invernos em que a “nossa Serrinha” não oferece
condições para algumas novas linhas. O Inverno de 2018 não fugiu à regra e,
entre Janeiro e Abril foram inauguradas 15 vias, a maioria de escalada mista e
algumas de escalada em gelo.
Este compilado não representa todas as novas aberturas
invernais desde a edição do guia “Serra da Estrela, Montanhismo e Escalada
Invernal” (Outubro de 2015). Esse trabalho de actualização fica reservado para
uma futura reedição. Até lá, deixamos a seguinte lista que pode servir como um
complemento ao livro, bem como oferecer informação útil a possíveis alpinistas
que a queiram aproveitar para viver uma boa aventura no Inverno que se
avizinha.
As vias serão apresentadas segundo a sua ordem cronológica.
1. BEM HAJAM. 145m, M6+
Em Janeiro, a “Serrinha” prometia um bom Inverno e,
aproveitando as primeiras grandes nevadas lá fomos, de piolet em riste, atacar
uma linha do Covão do Ferro que há muitos anos nos piscava um olhito
desafiante. O que saiu, foi uma via espectacular, intensa e exigente. A
primeira tornou-se também numa das melhores da temporada.
Acesso: através da barragem do Covão do Ferro.
Material: friends, entaladores bicoins e excêntricos, cordas
duplas de 60m.
2.
DOU NA ERVA. 110m, M5
Trata-se do promontório rochoso situado no cimo e à direita
do Corredor Largo que parte do Covão Cimeiro. Escalámos esta via no meio de uma
pequena tempestade e com vento. Encontrámos condições húmidas e a neve
decomposta. Com boas condições ganhará outro interesse.
Acesso: comum com o acesso à Cascata das Couves, descendo
desde o topo do Corredor Largo e logo torcer para a esquerda até encontrar o início
do esporão.
Material: entaladores excêntricos e friends.
3.
TRAGÉDIA FELIZ. 100m, WI2+/3
Esta via surge apenas quando a Serra da Estrela apresenta
pouca acumulação de neve e o gelo marca a sua presença. Trata-se de uma
sucessão de pequenas cascatas finalizando com uma goulotte interessante (já
escalada anteriormente, mas sempre em condições de neve e sem gelo – trata-se
de um acesso às cascatas Canalito, etc) que acede às cascatas superiores da
parede norte na vertente esquerda do famoso Corredor Largo. A via foi escalada
pelos Pedro Barreto, Sérgio Cortez e Rui Real que continuaram posteriormente
pelo Corredor do Curso até ao planalto superior.
Acesso: descendo o Corredor Largo, mais ou menos junto à
parede orientada a norte. Atenção se a neve estiver dura pois acrescenta um
considerável grau de exposição.
Material: parafusos de gelo e friends.
4.
DIEDRO DA FRANCELHA. 50m, M5
Trata-se de uma bonita via descoberta pelos Gonçalo Alves e
Hélder Massano. Esta linha mista possui dois lances, sendo o segundo o mais
difícil. Uma interessante proposta que se avista facilmente desde a célebre
Placa da Francelha (sector de escalada em rocha).
Acesso: desde as pistas de esqui, seguir o trilho evidente
que se dirige em direcção ao vale de Loriga.
Material: friends e alguns parafusos de gelo.
5.
MIÚDOS. 20m, WI3
Pequena cascata de rara formação que pode surgir quando a
Serra da Estrela apresenta pouca acumulação de neve. No mesmo dia em que
inauguraram o Diedro da Francelha, Gonçalo Alves e Hélder Massano realizaram a
primeira ascensão desta linha de gelo, situada no flanco esquerdo da Placa da
Francelha (sector de escalada em rocha). Aproveitando a reunião no topo da
placa, ainda escalaram duas outras cascatas mais precárias que se formaram
imediatamente à direita da Miúdos. Estas últimas foram escaladas em top-rope.
Acesso: comum com o acesso para a Diedro da Francelha.
Material: parafusos de gelo e friends.
6.
ESCARRAPICHANDO. 120m, M3/70 ͦ/WI2
Esta linha improvável formou-se entre a mini cascata
Micro-Coisa e o sector do Cavalo (sectores de gelo no flanco orientado a norte
do Corredor Largo). Entra por uma espécie de diedro-corredor, ultrapassa uma
série de tufos de erva congelados e troços de gelo e sai pelo Corredor do Curso
por um “passito” de misto bem vertical. É uma via que se avista quando a Serra
da Estrela apresenta pouca neve e estará facilmente em condições em dias frios.
Acesso: descendo o Corredor Largo, mais ou menos junto à
parede orientada a norte. Atenção se a neve estiver dura pois acrescenta um
considerável grau de exposição.
Material: friends e parafusos de gelo.
7.
CASCATA MAIS QUE REMOTA. 20m, WI2
Como o próprio nome indica, esta pode bem ser a cascata mais
remota do Vale de Loriga e (até à data) a mais longínqua via de gelo da Serra
da Estrela. Para colecionadores! É possível avistar esta linha desde a estrada
de Seia para a Torre, no lado oposto do vale. Contar com umas duas horas para a
aproximação. Existem outras pequenas linhas de gelo por explorar na área. Forma-se
apenas quando a Serra apresenta pouca neve.
Acesso: o mesmo que para o Sector Remoto, mas mais longe!
Material: parafusos de gelo.
8.
SEM HESITAR. 185m, WI5/M6
Quando em boas condições é uma via excelente. Para nós
tratou-se de uma das melhores aberturas do Inverno passado! Situada na Face
Oeste do Cântaro Magro, esta linha comunga espaço com outras belas vias, como a
Pepi te Quiero ou a Scottish Way. O primeiro lance escala uma estética goulotte
de gelo muito estreita e técnica e o penúltimo lance ultrapassa uma coluna de
gelo que já há alguns anos se mostrava desafiadora mas que ainda não tinha sido
ultrapassada.
Acesso: cómodo, 15 minutos desde a Curva do Cântaro.
Material: friends, entaladores e parafusos de gelo curtos.
9.
O GATO TEM GARRAS. 40m, WI5+
Este diedro, situado num dos sectores mais atléticos da
Serra da Estrela, o sector Powermix, transformou-se (em conjunto com a Miró – a
seguir) num grande desafio psicológico. Foi realizada à vista, integralmente em
livre e com bastantes passagens no “fio da navalha” e no limite da queda. As
protecções sob a forma de friends e entaladores, colocados numa fissura que
segue paralela, na parede da direita, revelaram-se excelentes o que contribuiu
para o sucesso da abertura. Uma das que mais satisfação trouxe, na temporada
passada.
Acesso: desde o estacionamento da “Santinha”, seguir em
direcção do topo do Cântaro Raso e antes do topo, alcançar um colo até
encontrar a parede norte vertical correspondente ao sector Powermix.
Material: friends e 2 parafusos de gelo curtos.
10.
MIRÓ. 60m, WI5+
Trata-se de uma via de escalada em gelo de imediata
identificação pelo seu alinhamento, um fino e elegante risco branco traçado a direito
num diedro evidente. Daí o seu nome, inspirado pelas pinturas de Miró. Sem
dúvida, uma das mais belas vias invernais da Serra da Estrela. Devido à falta
de fissuras evidentes para proteger, foi necessário colocar um mínimo de
plaquetes por forma a garantir a ascensão sem incidentes (leia-se: acidentes),
em caso de queda.
Acesso: o mesmo que para a via anterior.
Material: friends, 4 parafusos de gelo curtos.
Num dia de treino solitário, escalei esta via em solo
integral. É bastante improvável que esta constitua uma primeira ascensão,
devido a ser uma linha muito lógica e evidente. Em falta de qualquer registo
conhecido, fica a proposta de nome para este bonito corredor que, nas devidas
condições, pode providenciar uma interessante experiência iniciática ao mundo
do alpinismo e escalada invernal.
Acesso: via perfeitamente visível desde a Curva do Cântaro.
Descer em direcção ao célebre Corredor do Inferno.
Material: friends úteis.
12.
LÓGICO! 120m, 55 ͦ/M3
No mesmo dia, após escalar em solo o Corredor Porque Sim,
dirigi-me ao sector Curva do Cântaro e escalei esta via também sem a corda.
Trata-se de uma via que apresenta “dupla personalidade”
ambas muito distintas. Quando a Serra da Estrela apresenta um bom manto de
neve, este alinhamento perde-se numa simples rampa de neve, larga e
desinteressante. Com pouca neve, o seu carácter transforma-se por completo e
surgem alguns passos de escalada mista, sobretudo ao longo da chaminé evidente
que constitui a “graça” do itinerário.
Acesso: muito evidente e a 10 min. Da Curva do Cântaro .
Material: friends úteis.
Há muito que havia visto este alinhamento que vence toda a
parede orientada a norte situada à esquerda do início do Corredor Largo, mais
precisamente, imediatamente à esquerda das vias mistas: Cinco Euros por Metro e
Corredor do Cavalo. Motivado para a realizar em solo, lancei-me à aventura e,
no final, saiu uma bonita via variada, de moderada dificuldade que merece a
pena ser repetida, quando em condições. A saída é o mais difícil e aí
assegurei-me com um troço de corda com apenas 20 metros. Não foi portanto, uma
escalada integral em solo mas sim combinada com a parte final, realizada em
técnica de escalada em solitário.
Acesso: o melhor será realizar a aproximação desde a Curva
do Cântaro, conforme sugerido no livro “Serra da Estrela, Montanhismo e
Escalada Invernal”, para o sector Corredor Largo (pág.132 – opção B)
Material: friends e entaladores.
14.
ARRASTA-TE. 100m, M5+
Em fim de estação e com as temperaturas já a roçar a
Primavera, formei cordada com Pedro Costa para abrir esta via que segue uma
linha lógica no atractivo esporão leste que culmina no cimo do Cântaro Raso.
Visto desde a estrada que faz a ligação Piornos-Torre e antes de chegar ao
pequeno túnel, o esporão leste do Cântaro Raso inspira quem por ali passa com
olhos de escalador. Nesta abertura encontrámos condições longe do ideal para a
escalada mista. No entanto, em boas condições pode ser uma óptima opção em dias
de estrada cortada, recuperando assim um certo ambiente tranquilo de montanha.
Acesso: são uns 20 minutos desde o miradouro com vista para
o Covão da Ametade, situado na curva muito acentuada que precede o túnel (vindo
dos Piornos). Com a estrada cortada desde os Piornos contar com uma hora de
aproximação.
Material: friends e entaladores.
15.
WELCOME SUMEEER! 180m, M5
Esta foi a última via mista inaugurada na temporada
anterior. Trata-se de uma bonita linha com três longos lances de escalada mista
e grau ameno que, em caso de se encontrar em boas condições (não foi o caso
durante a abertura), pode figurar como umas das mais aconselhadas da Serra da
Estrela.
Acesso: através da barragem do Covão do Ferro.
Material: friends e entaladores.
0 Comments:
Post a Comment