O vale de Loriga é um cenário de escaladas passadas. De entusiasmos e inspirações ocorridos no anos 90. Desde essa altura, as visitas conhecidas não chegam sequer à dezena. São 20 vias relegadas ao esquecimento que esporadicamente despertam sob os pés de algum aventureiro mais afoito que, quase por engano, lá resolve dar o ar de sua graça. Consequentemente, o musgo da rocha e a vegetação de arbustos nas bases, voltaram a reconquistar o seu terreno.
Antes de entrar no vale, umas linhas espectaculares à espera dos escaladores.
Em Setembro, um pequeno grupo de amigos escaladores, reunimo-nos de uma forma quase espontânea, no vale de Loriga. O plano consistia em... “acampar”. Na verdade, a intenção era o convívio, num cenário natural idílico.
Infelizmente também o calor resolveu visitar o vale para esmorecer um pouco as vontades. A malta acabou por se animar, algumas clássicas foram repetidas e alguma que outra nova via surgiu, debaixo da “batata frita”, alcunha carinhosa com que os “abismados”, Natalia e Sergio, batizaram o incómodo musgo (quase) sempre presente.
O vale de Loriga. Foto de João Gaspar.
O Bruno Gaspar e o Nuno “Topas” realizaram o encadeamento integral da infame “Antagonismo dos pólos”. O nome desta via revela duas grandes especialidades muito “amadas” pelos escaladores: uma fenda extra-prumada de entalamento a meio corpo, em “off-widht” (primeiro largo) e uma placa técnica totalmente equipada, com algum ambiente, cotada de 6a+ mas, com sabor real a 6b+ ou até 6c, dependendo do controlo emocional do escalador (segundo lance).
O Sergio e a Natalia realizaram a provavel segunda repetição da “Natal de verão”, com saída pela exigente placa da “Antagonismo dos pólos”. A “Natal de verão”, ultrapassa uma curta passagem dura e um pouco extra-prumada, logo uma chaminé profunda até à reunião. O segundo largo está constituído por uma grande lastra muito interessante.
O Sergio a suspeitar do 6a+ do segundo lance da "Antagonismo dos pólos"
Quando abri esta via em Setembro de 1998, em solitário, escalei um terceiro largo através de um diedro, cujo inicio possuía um grande arbusto. Na altura, consegui ultrapassar o obstáculo utilizando uma técnica de “espeleo-arbusto”, terminando a historia sem demasiadas escoriações. Hoje, esse mesmo arbusto apresenta um aspecto mais saudável (e denso) que nunca, o que não constitui um particular incentivo, partindo do ponto de vista de um escalador, claro.
Sergio convencido de que: "6a+, nem aqui nem na China!"
Entretanto eu e a Daniela dedicamo-nos a escalar uma linha de três lances bastante lógica e intuitiva. Não chegámos a entender se a via já foi realizada na integra no passado pois, há alguns anos, durante uma prévia tentativa encontrei um friend de cabo rígido abandonado no primeiro lance. Na primeira reunião um troço de corda antiga já descolorida pelos ultra-violetas testemunha um rapel de fortuna. No seguimento da via, não encontrámos outros indícios de visitas prévias. Acabámos por batizar a via com o nome de: “No reino da batata frita”.
Eu a limpar (literalmente!) o segundo largo da "No reino da batata frita".
Caso exista alguém com alguma referência relativa a uma ascensão prévia, agradecemos a informação.
A “No reino da batata frita” é uma via de grande qualidade... em potencial, quando um dia, alguém se dedicar a “desenterrar” a linha das toneladas de musgo que actualmente a cobrem.
O convívio nocturno, com jantar de campanha (sem fogueira!), um mega rebanho de cabras ruidosas, uma matilha de cães pastores e uma noite mal dormida, precederam o Domingo, de sol radioso e... quente.
A cordada formada por Sergio, Natalia e o “Topas” decidiram-se (um pouco a custo, devido ao calor) a enfrentar a “Al cabreiro” e a desfrutar da espectacular fissura do seu segundo lance.
Entretanto, o João Gaspar, o Rui Araújo e o Antonio Ferra, acabadinhos de chegar ao vale, dedicaram-se a inaugurar um sector inteiro. Embora, relativamente aos seus vizinhos, este deva ser considerado como um mini-sector. Trata-se de uma nova alternativa, sobretudo para dias de calor intenso em que um tipo queira mesmo muito escalar algo e ao mesmo tempo seja o depositário de uma imaginação fervilhante. Foi esse o caso.
Enquanto alguns resistentes se dedicavam a esturricar ao sol, como a Daniela e eu e também os “Abismados”, o João, o Rui e o Antonio, resolveram inteligentemente colocar-se à sombra, debaixo de uma pequena placa, cortada por algumas fissuras musgosas.
O novo pequeno sector mais fresquinho de Loriga: "Alfacinhas biológicas". Foto de João Gaspar.
Foi uma tarde bem passada, da qual resultaram cinco novas vias, espremidas de um pedaço de granito que, à primeira vista, parecia poder albergar apenas uma ou duas linhas.
Mais uma agradável surpresa que vale a visita, sobretudo quando fôr submetida a uma escovagem sumária, ou seja, q.b.
Salienta-se uma estreita fissura em diagonal para a direita, cuja primeira apreciação foi: “Isso é cego! Não dá para escalar “à frente”!”
Demonstrando que o autor da apreciação estava completamente errado (eu!), o João Gaspar não só escalou a dita cuja “à frente”, como o realizou “à vista”, utilizando alguns entaladores pequenos, algo duvidosos mas, com suficiente garantia para assegurar um conforto psicológico.
Croquis de João Gaspar.
E assim terminou um fim de semana mais na nossa querida “Serrinha”.
Para mais informações e croquis é só ver Vale de Loriga.
Paulo Roxo
4 Comments:
Não escalámos, mas também lá estivemos, recordam-se?
(os dois coxos, velhos, e acabados)
Um fim de semana a repetir. Em companhia, paisagem e escalagem do melhor!
Abreijos
Sérgio e Natália
Pois claro que me recordo de quem lá esteve, só tive pena que não tivessemos tido a hipotese de "combiber" mais.
Abracinhos quentes!
Paulo Roxo
a serra é vossa......... grandes conquistadores...
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