quinta-feira, setembro 04, 2008

SONHOS

Passadas duas semanas da nossa chegada do Paquistão ainda não me readaptei à vida “normal”. Estranho o trânsito intenso. Estranho o trabalho. A minha cabeça retorna uma e outra vez ás fabulosas montanhas do Karakorum.

O Esporão dos Franceses é a evidente aresta que começa no canto inferior direito da foto.

As memórias voltam a cruzar os imensos glaciares, a subir as perigosas pendentes de neve e gelo e a desfrutar das vistas esmagantes de picos selvagens e intocados.

Entretanto, já escalei na Serra da Estrela apenas para descobrir que, na rocha, a minha forma física se encontra pior que nunca. Nas montanhas perdi cerca de nove quilos. Fiquei seco que nem um carapau mas, também perdi muita massa muscular, a suficiente para ter de me arrastar penosamente numa fissura de 6a!

De todos modos, a minha mente não se encontra por cá. Os pensamentos vagueiam num país distante do qual desejei partir, após dois meses de expedição mas, para o qual voltaria agora mesmo.

Gasherbrum I

Com a Daniela, tentámos escalar os Gasherbrum I e Gasherbrum II. Condicionantes na montanha e do clima impediram-nos de concretizar as ascensões. No GII, tentámos uma via diferente da normal. Uma linha muito estética, técnica e directa ao cume. O Esporão dos Franceses. Estávamos sós, não existiam cordas fixas nem trilho na neve. Após o período de aclimatação tentámos esta escalada no chamado “estilo alpino”. Ou seja, sem fixar cordas, sem montar previamente campos de altitude e com tudo ás costas. Aos 6600 metros com o mau tempo a aproximar-se mais cedo que o previsto, decidimos retirar.

Depois tentámos a ascensão do GI, pela sua via normal. Subimos acima do campo 2, para deparar-nos com ventos fortes e a montanha a despejar mega-cascatas de neve em pó.

Em desespero de causa e sem retornar ao campo base tentámos de novo o GII. Subimos rápido pelas cordas fixas da via normal mas, bem perto dos 7700 metros de altitude e, após oito dias de permanência acima dos 6000 metros, descobrimos não possuir mais energias físicas e mentais para continuar. É que, corríamos o risco de não conseguir concretizar a segunda metade da ascensão... a descida! De qualquer forma, o nosso espirito não se encontrava na via normal do GII. Os nossos sonhos vagueavam longe das cordas fixas desta via. Os nossos anseios iam de encontro a uma qualquer ascensão mais selvagem, menos concorrida.

Os meus anseios continuam nesse sentido.

No trekking de retorno, cruzámos o Gondogoro pass. É um colo situado aos 5500 metros que permite eliminar um dia a uma caminhada de quatro dias, caso tivéssemos optado pelo retorno através do glaciar do Baltoro.

Para um percurso de trekking standard o Gondogoro pass é um osso duro de roer. De um dos lados é necessário subir uma vertente de neve e do outro, descer uma pendente de rocha constituída por xisto absolutamente decomposto. Trata-se de um terror, felizmente apoiado por cordas fixas que um grupo de gente local vai mantendo em estado razoável.

O passo permite o acesso ao vale de Hushe, um vale de uma beleza mágica, rodeado de montanhas fantásticas e intrigantes, muitas delas virgens.

A entrada do vale de Charakusa. Paredes e montanhas ainda virgens andam por aqui!

As onze duras horas reservadas para o ultimo dia de caminhada foram largamente compensadas com as vistas de enormes torres de granito que se erguiam de um só tiro desde o estreito trilho que seguíamos.


Uma parede desconhecida e intocada no vale de Hushe.

Agora, dentro do meu cérebro continuo a cruzar aquelas moreias e glaciares onde os meus piolets e crampons se cravam no gelo de uma perdida via de alta montanha. Quiçá na via dos Franceses.

O meu espirito caminha pelos prados verdes do vale de Hushe em direcção àquelas montanhas imaculadas.

A minha imaginação vagueia por aqueles diedros e fissuras que trepam vertiginosas paredes de granito intocado.



Torres de granito virgens de nome e altura desconhecidos. "Mesmo ali ao lado!"

Numa única palavra: sonho!


Paulo Roxo

quarta-feira, agosto 20, 2008

GASHERBRUM`S. O FINAL!

Ora pois então, cá voltámos ás terras baixas Lusitanas.
Para quem quiser saber como foi a retirada das montanhas é favor clicar-se ao site da expedição.

Apesar de não termos conseguido o cume (tentativas não faltaram...), viemos para casa com as memórias de uma aventura recheada de peripécias.

Encontra-se em curso o inicio da montagem de um "filminho" em video e alguma que outra palestra a agendar.

PESSOAL! MUITO OBRIGADO PELO APOIO SEMPRE IMPRESCÍNDIVEL!!

E agora... ataque à rocha!


Paulo Roxo e Daniela Teixeira


Laila peak visto após cruzar o infame Gondgoro pass.

quarta-feira, julho 23, 2008

Expedição GASHERBRUM I


Infelizmente a tentativa de ascensão da via «Esporão dos Franceses» do GII não foi conseguida devido às más condições climatéricas e do terreno.
Novamente se focam as atenções para uma tentativa de ascensão do GI em "estilo alpino", assim que uma janela de bom tempo o permita.

Esperemos que a meteorologia acompanhe a Daniela e o Paulo nestas últimas e derradeiras semanas.

Força!

terça-feira, julho 08, 2008

Expedição GASHERBRUM I… ou melhor, GASHERBRUM II



No passado dia 5, a Daniela e o Paulo atingiram a cota dos 7000 metros na via normal do Gasherbrum II. Passando a noite a esta altitude no Campo 3, completaram assim o seu primeiro objectivo de aclimatação para a tentativa em “estilo alpino” do Gasherbrum I, o principal objectivo desta expedição.

Neste momento, aproveitando um período de meteorologia adversa, estão a descansar e a recuperar forças no Campo Base.

Mas, houve uma alteração de planos. Em vez do GI, irão tentar como principal objectivo para esta expedição, a tentativa de escalada em “estilo alpino” da pouco recorrida via «Esporão dos Franceses» no GII.

Esta opção deve-se ao elevado interesse que esta via demonstra e à aparente ausência de elevados riscos objectivos, mantendo assim o objectivo de ascenderem uma montanha de 8000 metros em “estilo alpino”. Sendo esta via pouco frequentada, sem duvida que se poderá aplicar este estilo de uma forma bastante mais verdadeira do que na via normal do GI, onde existe maior quantidade de cordas fixas, campos de altitude, e alpinistas.

Seguramente que esta será a melhor opção. Esperemos que sim! BOA SORTE!!!!

terça-feira, junho 24, 2008

Expedição GASHERBRUM I


Após alguns dias de meteorologia adversa e depois de uma tentativa de atingir o Campo 1 falhada devido ao labirintico e perigoso glaciar, finalmente a Daniela e o Paulo subiram a este campo onde passaram a noite e tentaram mesmo no dia seguinte atingir o Campo 2 do Gasherbrum II.
Actualmente encontram-se no Campo Base a descançar e assim cumpriram a 1ª fase de aclimatação. Seguramente nos proximos dias, e caso a meteorologia o permita, continuarão com o processo de aclimatação subindo aos campos superiores do GII para quando chegar o momento oportuno tentarem então a ascensão ao seu principal objectivo: Gasherbrum I.
Força a ambos!!!

quinta-feira, junho 19, 2008

Escontro de Escalada na MEADINHA 28 & 29 de Junho!

"Olá a todos!
Como andais de sonhos, de imaginação, de respeito, de segurança!?
Bem...A verdade é que vos sinto positivos e com um equilíbrio crescente! Porém vou-vos pedir para que continueis a esforçar-vos, porque como sabeis daí sai aquilo que cada um É.Está na hora de dizer quem sou, porém para que vos possais aproximar de mim, tereis que ser imaginativos!!!
O meu nome é “Meadinha”, e sou uma parede com uns 170 Metros de altura de sólido granito fissurado pelo ténue passar do tempo; encontro-me no maravilhoso Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Nos anexos podeis encontrar toda a informação necessária para continuar a descobrir quem sou e o que vos posso oferecer...mas para isso tereis que assistir à minha “apresentação final”!

Com a minha mais sincera honestidade vos espero.

Atentamente,
Meadinha"

segunda-feira, junho 16, 2008

Expedição GASHERBRUM I

Na passada sexta-feira, a Daniela e o Paulo finalmente chegaram ao Campo Base, após percorrerem os cerca de 100 km que separam a ultima povoação, Askole, do Campo Base. Durante sete dias percorreram o glaciar de Baltoro, avistando algumas das mais belas montanhas existentes: Catedrais do Baltoro, Torres do Trango, Uli Biaho, Masherbrum, K2, Gasherbrum IV e tantas outras.

Passaram o fim-de-semana a descansar e a organizar o Campo Base, assim com a fazer os preparativos para a primeira fase de aclimatação. A meteorologia tem-se apresentado benigna, diria mesmo excelente. Hoje (dia 16), sem perderem muito tempo nem darem espaço à preguiça, estão a realizar a subida ao Campo 1 situado a 6000 metros de altitude.

Esperemos que a meteorologia acompanhe e que consigam realizar sem contratempos o programa de aclimatação para tudo estar perfeito na hora do “esticão” ao cume.

Diário da expedição na Web Oficial.

quinta-feira, junho 05, 2008

Guia de Escalada
do
CABO CARVOEIRO
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Capa
Antes da sua partida para os Himalais (bem... mais precisamente para o Karakorum), o Paulo incumbiu-me de mais uma tarefa: realizar a apresentação formal do seu Guia de Escalada do Cabo Carvoeiro aqui neste modesto espaço cibernético.

Este guia da autoria do Paulo Roxo e editado pela Espaços Naturais foi recentemente lançado para o mercado. Sim, lançado para o mercado! Não se trata apenas de uma edição caseira para distribuição aos amigos. Trata-se de um pequeno, mas excelente guia descritivo das 132 de auto-protecção do Cabo Carvoeiro, que pode ser adquirido nesta primeira fase na Loja Espaços Naturais e nas livrarias Byblos.

Com um grafismo simples mas extremamente cuidado e de coloração sóbria, textos e comentários (inclusivamente na lingua Inglesa) concisos e explicitos, representa na perfeição a falésia, os sectores e respectivas vias de escalada.

Mas volto a frisar: este guia apenas trata dos sectores e vias de escalada de auto-protecção.

No seu interior não só descreve as vias como já referido, mas também todas as informações úteis para permanecermos e escalarmos no Cabo Carvoeiro, assim como belas fotos de escalada como complemento aos croquis.

Exemplo do conteúdo

Nome: Guia de Escalada CABO CARVOEIRO

Autor: Paulo Roxo

Edição: Espaços Naturais - Publicações e Equipamentos de Montanha

Design: Cidade Tipográfica

1ª edição Maio 2008

Porto

ISBN 978-989-95813-0-2

1000 exemplares

terça-feira, junho 03, 2008


Hoje, a Daniela e o Paulo partiram para a Cordilheira do Karakorum (Paquistão) para a tentativa de ascensão do GASHERBRUM I (8068 mts).
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Ao longo de dois meses, esta expedição poderá ser acompanhada por todos no Site Oficial desta viagem. Mas, a colocação de quaisquer comentários não será possivel de colocar directamente na citada página. Como tal, este blog também será uma fonte de informação para o respectivo acompanhamento da expedição e o local indicado para todos nós podermos colocar comentários de apoio a estes dois escaladores e alpinistas.
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De minha parte, desejo aqui a maior sorte do mundo a ambos.
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BOA SORTE!!!

sexta-feira, maio 30, 2008

GASHERBRUM I, 2008

Ei!

O dia da partida aproxima-se a uma velocidade alucinante. Chega a ser estranho, já que os últimos meses teimavam em não passar. É curiosa esta coisa do tempo, como as mesmas 24h de um dia, podem fugir-nos das mãos sem quase darmos conta, mas também podem ser tão longas que a maior qualidade que nos forçam a ter...é uma tremenda paciência!

Já chega de filosofia barata, aliás, este post não é para isso. É mais para...para que é mesmo??

À, já me lembrei! É para informar que, mesmo não estando cá eu e o Paulo entre 3 de Junho e 8 de Agosto, o blog não estará morto! A responsabilidade da sua manutenção será integralmente do Miguel Grillo, por isso, qualquer reclamação, já sabem a quem a dirigir :)

Onde vamos eu e o Paulo?

Então não se está mesmo a ver?

Vamos às Caraíbas fazer praia! Quer dizer...estavamos a pensar nisso, até que a Powerade nos proibiu de gastar a massa que nos deram e nos disseram “Ou gastam em copos (de Powerade, é claro!), ou vão ao Gasherbrum I”. Com uma escolha tão limitada, decidimos pelo Gasherbrum I!



Mas como não tivemos para fazer o trabalhinho todo sozinhos (sim, porque estas coisas dão trabalho), resolvemos enganar os amigos e todos juntos organizamos esta expedição.

Tentamos na distribuição de tarefas, dar o máximo de trabalho aos outros, para que sobrasse o mínimo para nós. Como a malta até correspondeu, faz parte da boa educação que os nossos pais nos deram, deixar um “obrigadinha” ao pessoal.

•Especial agradecimento à POWERADE, que patrocina na integra este projecto. Esta expedição não seria possível sem este apoio e sem a colaboração da sua equipa.
•O meu mais sincero agradecimento ao António Cabral, que me tem treinado e acompanhado (...e aturado!) desde Outubro de 2007, com uma dedicação impar, dia após dia. A evolução que sinto a nível físico desde que treino com ele é notável. Mas há outro detalhe especial, ganhei um amigo, algo que valorizo ainda mais.
António Cabral a fazer o que faz à mais de 30 anos!

•Há também quem me ande a mexer nos neurónios! Obrigada, Pedro Passos, da Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona, pelo trabalho de me preparares o melhor possível a nível mental, para as adversidades que nesta expedição podem surgir.

Pedro Passos, o agitador de neurónios

•Obrigado à Faders e Edelweeiss marcas que nos equiparam com os tão preciosos ferros e cordas.
•Um enorme agradecimento à Espaços Naturais, que desde sempre nos tem ajudado com material e ao Pedro Guedes pela amizade e permanente incentivo.
•É impossível esquecer o Vítor Baía, que nos vai enviar as tão preciosas previsões meteorológicas. Sem ele a probabilidade de sofrer mais um bocadinho na montanha...aumentava muito!...brrrrrr...que frio...
•Nas tecnologias, um agradecimento ao Timóteo, que tratou de optimizar as nossas necessidades energéticas.
•Um agradecimento à Cêbe, que perante a minha indecisão em escolher uns óculos, me deixou escolher...4 (sem contar com a máscara de neve!)!

•Um "obrigadão" ao nosso amigo e companheiro de aventuras Miguel Grillo, pela futura ajuda nas mexidelas no site, e claro, pelo incentivo, força e amizade.
•Um “thanks” ao Miguel Vila, meu parceiro de trabalho, pela força, incentivo, ajuda, boa disposição e amizade... é mesmo fixe trabalhar contigo.

Miguel Vila, o colega de job mais crazy do world

•Um sincero obrigado à VIAPONTE, onde trabalho, pela compreensão e apoio. Possibilitaram-me não só ter o tempo necessário para me preparar, como ter tempo para realizar esta expedição.
•Um obrigado grande ao Clube de Montanha da Figueira da Foz e ao Bruno Gaspar pela ajuda especial no arranque da expedição. Brunex, bigada pela trabalheira que tiveste conosco e claro, pela tua amizade.
•Ao Jaime Contente pelo incentivo que nos tem dado, apesar de nos conhecer há pouco tempo.
•Claro, um mega agradecimento aos pais lindos, Teixeiras e Roxos, por nos apoiarem, mesmo sendo estas expedições uma enorme preocupação para eles. Breve breve estaremos novamente todos juntos, a partilhar histórias e gargalhadas que a expedição seguramente vai trazer.
•Aos amigos que nos rodeiam, dão força e incentivam. Foi bom estarem por perto, já que os últimos tempos não nos têm sido nada fáceis.

Uf, estava a ver que a lista nunca mais acabava, esta cena dos agradecimentos dá trabalho!

Ah, o link do site da expedição está "discretamente" colocado na barra à direita deste blog.
Como vão reparar, o site não tem item de mensagens, pelo que para bocas e demais comentários, poderão utilizar este blog, nos itens que forem aparecendo relacionados com a expedição (eu não quero entalar ninguém, mas o Miguel disse que iria fazer uns resumos do que fosse aparecendo no site). Nós tentaremos ver e responder se for possível...antes, durante e/ou depois da expedição.

Claro que contamos ter o vosso apoio incondicional!

E desta é tudo. Esperamos desde a Republica das Bananas...perdão, da Republica Islâmica do Paquistão, continuar a partilhar convosco a nossa expedição ao Gasherbrum I.

Até breve...
Daniela Teixeira

PS: mensagens ao Bin Laden também podemos transmitir

sábado, maio 24, 2008

A FALÉSIA DOS PINHEIRINHOS

Aqui ficam (assim a seco, porque as ultimas semanas têm sido um confuso rodopio, devido a vários factores!), os topos básicos de (quase) todas as vias da Falésia dos Pinheirinhos. Trata-se de terreno de aventura puro, com vias semi-equipadas com plaquetes inox, pontes de rocha e contados pitons. Umas poucas vias estão integralmente equipadas e são exemplares excelentes mas, o seu ambiente particular faz com seja dificil classificá-las como escalada desportiva descontraída.

Nestas paredes impera a escalada livre, no entanto, muitos dos passos mais dificeis podem ser realizados em artificial. O único representante (até agora) digno de se classificar como escalada artificial é o terceiro lance da “Viagem sem rumo” (a segunda via a ser aberta nos Pinheirinhos). Este largo merece, sem duvida, uma visita (ganchos requeridos!) porque cruza a abobada característica de vazio impressionante.

Nos ultimos tempos, a maltinha mais forte tem-se entusiasmado com o local, equipando algumas vias mais duras.

Para a maioria das vias será necessário utilizar um bom conjunto de friends e alguns entaladores. Os pitons não são necessários. As cordas duplas são aconselháveis, embora não obrigatórias. O capacete... sempre!

Convêm ter especial atenção no acesso da “Varanda” à “Cova da areia”, onde o encordamento e respectiva segurança nalguns passos simples mas expostos são bastante aconselháveis.

Na “Cova da areia”, o Leopoldo Faria equipou recentemente três linhas “desportivas” que não vêem referenciadas nos topos apresentados. Segundo o “Leo”, os seus graus oscilam entre o 6b e o 7a.

Para já é isto... disfrutem!


Paulo Roxo




















segunda-feira, maio 05, 2008

Mais aventuras...


Bem sei que o calor está aí à porta e que os Pinheirinhos deixarão de ser um dos locais escolhidos por alguns aventureiros da nossa comarca mas, mesmo assim deixaremos aqui uns topos básicos de todas as vias ali existentes.



Breve, breve...


Paulo Roxo

terça-feira, abril 01, 2008

Cuiação Palpitante


Desde há algum tempo que os nossos dedos (agora) de pele suave, não sentiam a deliciosa rugosidade da rocha.

Há algumas...há muitas semanas atrás, ainda eu sonhava com o Evereste para este ano, a azáfama relacionada com a suposta expedição, consumia-nos os fins-de-semana. Entre dias de chuva, de compras, de arrumações, de pressas, víamos o tempo passar e aclimatávamos à ideia de que rocha...só após o regresso da expedição.

Entretanto, os chineses trataram de alterar-nos os planos, cancelaram a minha licença de ascensão o que levou a...”ligeiríssimas” mudanças no roteiro de viagem (a seu tempo, este tema há-de merecer mais um post!) e claro, mal pudemos, atiramo-nos às paredes de imediato, ansiosos por enrijecer a pele das mãos.

O resultado do primeiro fim-de-semana não foi o desejado. Com um bafejo de frio a saber a Páscoa, fomos direitinhos à Serra da Estrela, na esperança de sermos surpreendidos pelo último sopro do Inverno. O resultado não foi o esperado, os piolets mantém até hoje a ferrugem que esta escassa época invernal lhes atribuiu. Ainda assim, a sexta-feira foi Santa e o nosso coelho da Páscoa trouxe mais um sector para escalar na serrinha, apesar do escasso frio se entranhar nas nossas já pouco resistentes mão nuas (mas isto também há-de dar direito a outro post!).

Sábado abandonamos o semi-frio, para Domingo desfrutarmos do calor nas belas falésias da Arrábida.

Na Parede Amarela, existia já uma linha que há muito tínhamos tentado. Nesse “há muito”, eu não estava nos meus dias e após 2 largos escalados, consegui arruinar o cérebro do Paulo de modo a abandonarmos a parede de mãos...de pés de gato a abanar.



Essa linha permaneceu escondida nos recantos das nossa memória até à abertura da “Bio-(H)Azard”.

Para Domingo de Páscoa, pareceu-nos um bom objectivo, mas o coelho do Paulo, achou que aquele ovo havia de se partir logo ao primeiro largo.

Resultado, após cerca de duas horas, apenas 20m tinham sido conquistados...a ferros! A coisa terminou com uma martelada no lábio do Paulo, quando tentava colocar um piton. Foi a gota de água...ou de sangue, que o fez abandonar...a juntar ao meu conselho “espeta aí uma plaquete e vem já imediatamente para baixo!”. Não era decididamente o dia certo, a ferrugem que se nos instalara nos ossos, não permitiu uma Páscoa feliz. Pouco depois, encontramo-nos a afogar as mágoas numas “amêndoas” de marisco, bem regadas com uma fresquíssima sangria. Os comentários eram redundantes “É normal, já não escalamos à pelo menos 5 semanas”, “Estamos tão enferrujados”, “Precisamos de rodar”, “Isto com uns fins-de-semana vai ao sitio”...

No Domingo passado (30 de Março), achamos que aquela linha merecia...mais um pegue.

(Não digam a ninguém, mas o dia anterior ali para os lados do Cabo da Roca, também não nos correu nada bem!)


Animados por termos mais uma hora com a chegada do horário de Verão (já estão a ver o que nos passava pela cabeça!), dirigimo-nos novamente à Parede Amarela.

A via, já tinha nome, “Cuiação Palpitante”...creio que dispensa qualquer comentário sobre o porquê!

O dia não começou da melhor forma, ao contrário do que indicava a meteorologia, a manhã estava cinzenta e pingona. Durante todo o caminho, não conseguimos evitar as gotas que teimavam em abandonar nuvens cinzentas que pairavam acima de nós.

Somente quando saímos do carro, na povoação dos Pinheirinhos, uma pequena aberta surgiu mesmo por cima das nossas cabeças.


O Paulo chamou-lhe “uma boa aberta”, a minha fé, não dava para tanto. No meu íntimo, aquela era a aberta que nos levaria à base da parede, onde seríamos enxovalhados por uma repentina chuvada...ainda bem que me enganei!

A “boa aberta” abriu mesmo e o dia cinzento transformou-se em céu quase limpo com uma surpreendente amena temperatura.

O Paulo, inspirado pela mudança climática, ou por outra coisa qualquer, fez desta feita o primeiro largo em grande estilo! Encadiadíssimo, um 6c atlético, com matreiras fissuras onde os menos habituados poderão ter alguma dificuldade em proteger. Eu, acabei por me safar muito melhor do que o dia anterior no Cabo da Roca fazia supor!




Sobrava um largo para atingir o topo da falésia, com um diedro diagonal, daqueles em que todas as posições parecem pouco adequadas.

Da solarenga reunião, pude apreciar o Paulo a resolver todo o largo (para os mais afoitos, ainda não está encadeado, mas os movimentos, são todos exequíveis...eu vi!).



Euzinha, lá tive de estribar numa (das duas) plaquetes do largo, mas não fiquei muito desanimada...para o que escalo!

Chegando lá acima, com um sorrisinho feliz só consigo dizer “Está quebrado o feitiço, Paulo estás de volta!”.



Assim surge mais uma bonita via na Parede Amarela.

A rocha?

Para alguns é de boa qualidade, para outros nem por isso!

Vai lá, experimenta e descobre...que tipo de escalador és tu?

Daniela Teixeira



Ficha técnica da coisa:


O material necessário será o habitual para estas pequenas aventuras ou seja, um conjunto de friends, repetindo o camalot 1 e 2, incluindo o camalot 4 e alguns entaladores (bastante úteis no primeiro lance).

As reuniões estão equipadas para rapelar. Aconselhável corda simples de 65 metros (ou cordas duplas). Embora os lances tenham uns 35 metros de linha creio ser possível descer com uma corda simples de 60 metros (será à justa, por isso muita atenção ao final da corda!).

Como referiu a Daniela no seu texto, a qualidade da rocha é uma questão de perspectiva. Diria que tem uma base muito boa, com alguns blocos disseminados aqui e ali. Como é evidente, serão as muuuuitas repetições que acabarão por limpar a via.

O primeiro largo é de protecção algo difícil o que lhe confere um relativo grau de compromisso. A plaquete no final só é visível quando estiveres em cima dela.

O segundo lance é mais evidente e mais fácil de proteger. Segue a fissura diagonal que pede a gritos para ser escalada.

segunda-feira, março 10, 2008

Porquê?

A eterna pergunta.

A pergunta incómoda que sempre suscita respostas rebuscadas, para desculpar a incapacidade crónica de explicar uma acção aparentemente inútil, sem fins de ordem prática.

Para que serve?

Ganha-se dinheiro? Se não, qual a lógica?

Para quê arriscar a integridade física, ás vezes a vida, na busca do impalpável, do abstracto?

São questões recorrentes para as quais não temos respostas concretas.

Inventamos historias sobre o desafio, a superação, a realização pessoal. Historias incompreensíveis para os inquisidores.

Geralmente, a questão do “porquê?” tem uma inevitável sentença anexada: “Estes tipos (e tipas) são loucos!”

Seremos loucos?

Estaremos tão alheados do mundo real, ao ponto de não nos apercebermos da nossa própria insanidade?

Ou será uma tentativa de colocar algum sentido em algo imaterial, algo que para variar, não se venda, ou compre?

Ao longo dos tempos houve várias tentativas para explicar o “porquê?”.

George Mallory (que desapareceu durante uma das primeiras expedições ao Everest, nos anos vinte), resolveu o problema de uma forma muito inteligente. Quando confrontado com a pergunta: “Porque escalas montanhas?” ele respondeu: “Porque estão lá!”

Resposta simples sagaz e definitiva.

Hoje em dia, este chavão com quase 100 anos constitui a fuga mais cómoda. Qualquer um incapaz de responder à grande questão recorre ao lugar comum do “Porque estão lá!”, sem sequer pagar direitos de autor.

Alfonso de Vizán, verdadeiro filósofo, escalador e alpinista de gema, não se contentou com o facto de as montanhas, efectivamente, “estarem lá”. Tentou uma abordagem mais trabalhada para imputar algum sentido a estas actividades marginais. “Lá em cima não há nada. Apenas a história que escreveste com a própria vida para lá chegar.”, dizia.

Frase pouco satisfatória para o leigo exigente mas, uma boa aproximação ás razões que movem alpinistas e escaladores.

Porque escalo?

Que busco?

Será que busco escrever a historia da minha vida antes de lá chegar?

Paulo Roxo