sexta-feira, setembro 30, 2016

Pirinéus - Acto III

PIRINÉUS - RESPIRAR!

Acto III - SEGUINDO MARIOLAS



As maiores flores Edelweiss que já vimos.


O planeamento foi feito ainda no rescaldo da aventura vivida na parede da Fraucata.
“Vai ser duro!” - advertiu a Daniela - “Mas será um novo desafio!” - rematou.
O plano consistia em abrir uma nova via na já familiar parede do Abismo de Carriata mas, desta vez, durante uma única jornada. Apenas iriamos transportar duas pequenas mochilas e as cordas duplas. Nada de cordas fixas, nem lances escalados preliminarmente. Era um plano muito simples: aproximação, escalar cerca de 300 metros de rocha periclitante e descida contornando e destrepando a muralha de calcário.


Abismo de Carriata. Uma parede já conhecida com aventuras solitárias para oferecer.


Durante dois dias descansámos o físico - quanto a mim, o foco estava na recuperação dos tornozelos - e preparámos o psicológico.
Às seis e meia da manhã, à luz dos frontais, subíamos o trilho irregular e empinado em direcção à parede mais emblemática de Ordesa, o Tozal del Mallo. Acompanhava-nos de perto um casal de escaladores que (adivinhámos) se dirigiam para o Tozal. Quando se sai do bosque denso os caminhos dividem-se e é nesse momento que se dá de caras com o Abismo de Carriata. O nome é curioso e sugestivo, adequado. “Abismo, aí vamos nós!”
Depois da “paliza” da escalada anterior, sonhávamos com uma via mais amena. Sonhávamos com uma escalada fluída e de dificuldade técnica, digamos… mais “atractiva”!
“Onde param os quintos graus nesta terra?” – perguntámo-nos na galhofa.


"Onde param os quintos?"


Longe de encontrarmos uma “via amena”, o que descobrimos foi uma escalada exigente. Em cada reunião do itinerário, de pescoços assomados para trás, perscrutávamos o futuro acima das nossas cabeças. A cada: “Creio que se formos por ali, talvez as dificuldades sejam menores.”, sucediam-se os inevitáveis: “Fo… isto é duro! Isto não se parece nada com o que imaginámos!” Apenas de cima para baixo era possível compreender a verticalidade do mundo em que estávamos metidos.


Escalando lego...


Praticamente toda a via desenrolava-se sobre grandes lastras de calcário que se projectavam para fora, causando uma perturbadora sensação de poiso de pássaro. Pessoalmente, desfrutava a cada descanso, porque este representava uma vitória mais e a possibilidade de usufruir de umas visões muito aéreas das florestas que se perdiam lá bem no fundo do vale.


No penúltimo lance, o mais duro.


Apesar das dificuldades encontradas o dia correu bem, bastante bem até.
Atingimos o cimo da nossa via com bastante tempo para realizar a descida com tranquilidade.
Sentados nos prados superiores do vale, já sem a prisão dos arneses e do equipamento de escalada, a uma razoável distância de segurança do precipício por baixo dos pés, pudemos apreciar as vistas esplendorosas. 


Prestes a entrar numa penosa chaminé estranguladora. 


"Reunião. Uffff!"



Futuro!


Desde aquele ponto, a parede sul do Tozal del Mallo, com cerca de 400 metros, apresentava-se de perfil, mesmo assim, constituía uma visão magnífica difícil de ignorar.
Descemos em modo de passeio, inebriados pelas montanhas, sem desperdiçar os momentos de contemplação. Virando a cabeça para trás surgiam de novo as paredes e com elas surgiam também novas ideias, novos projectos. “Em breve…” Mas isso seria para depois. O momento era para descer em direcção ao descanso.
Zigue-zagueando o trilho sinuoso, saltitando os ressaltes e as inúmeras pedras, trocámos poucas palavras. Em silêncio celebrámos as andanças verticais. Celebrámos a aventura. Celebrámos a vida.
Para trás ficava o território selvagem das montanhas… à nossa frente surgia de novo aquela sensação de…

… saudade.


Paulo Roxo


PIRINÉUS - RESPIRAR! 

FIM




Abraçando a montanha e a Natureza.


Topo da via MARIOLAS:




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