terça-feira, julho 17, 2007

TURBO TURBÓN e outras escaladas!





Paredes del Turbón. 200 metros de verticalidade alucinante!






Os emblemáticos Mallos de Riglos.





Riglos


Foi inesperadamente, que me surgiu uma proposta de trabalho. Foi atabalhoadamente que decidimos ir escalar para Espanha uma semana, antes do meu primeiro dia de labuta!
Que fazer?
Onde ir?
As ideias surgiram num ápice e não houve muitas dúvidas.
Sábado 16 de Junho, saímos de terras lusas em direcção aos Pirenéus debaixo de uma chuva constante e de um céu cinzentão, que não dava tréguas ao sol.
Lá para o final do dia, aproximávamo-nos de Riglos “Depois desta curva talvez já se vejam as paredes” dizia o Paulo, entre dicas e lembranças dos tempos que lá passou. Nem depois desta, nem da outra! Vislumbrei as paredes no meio da névoa, só quando o meu nariz se encostou a um dos típicos “bolos” daquele curioso conglomerado laranja.
No dia seguinte, as nuvens continuaram a distribuir por aquelas terras, mililitros e mililitro de gotas de água. Assim, tivemos tempo de ver todos os “mallos” que existem naquele canto pré-pirinaico.
Conquistaram-me os menos conhecidos “Mallos de Vadiello”, pela sua imensa beleza e paisagem envolvente. Para estes, reservo uns dias do meu futuro (vá-se lá saber quais!) para lá voltar e escalar.







Os Mallos de Vadiello


Pela noite, deliciamo-nos com o que devem ser as melhores tapas de Huesca (seguramente que foram as melhores tapas que algum dia já provei!), numa tascola perdida numa estreita e escondida ruela da cidade (quando lá forem, peçam-nos conselhos).
Só no segundo dia em território vizinho pusemos as “mãos à rocha”.
Como “não conhecedora”, aceitei a sugestão do Paulo. Escalar o “El Puro” pela sua via normal, rapelar até ao colo e a partir daí, escalar os três larguitos da “Serón-Millán” até ao topo do enorme mallo Pisón.
Eu, desejosa de conhecer a típica escalada “rigleira”, fiquei feliz quando, após uns quantos comprimentos de corda, uns tristemente polidos (já nem me lembrava do que era tocar em rocha polida!) outros de chaminé (oposições e mais oposições), iniciamos os dois últimos largos do “Puro”. Bom conglomerado, com melhor aderência!
Logo depois, esperavam-nos os três largos para chegar ao cimo do Pison...três que se transformaram em 5 (e saltamos uma reunião!) “típicos” largões de...chaminé e chaminé e mais chaminé e ainda mais chaminé!...típica escalada “rigleira”!






A mais famosa foto de Riglos.













Inicio da "Normal do Puro".







No reino das oposições.



No cimo do "Puro".



Saída pela "Serón-Millán". "Apenas três larguinhos!"



Mallo Fire. Estética agulha, palco de escaladas lendárias.


Paredes del Turbón

Com apenas um cheirinho a conglomerados...mas já com uma apuradíssima técnica de oposição (bem mais de uma centena de metros de chaminé!!), mudamos de destino no dia seguinte, para a parede que foi a grande razão da nossa viagem, uma parede perdida (apesar de se ver da estrada!) na belíssima montanha do Turbon.
“É ali, já se vê...é aquela”, foi assim que o Paulo me apresentou o local dos meus próximos dois dias.
Nessa terça-feira, o dia foi suficiente para arrumar o material, de o depositar na base da parede e mudar de ideias em relação à via que pretendíamos abrir. Entre um projecto do Paulo em que apenas faltava um largo e meio e uma linha “novinha” que por ali vislumbrei e me pareceu mais facilita (puro engano!), decidimos pela “novinha”.
Mesmo antes dos nosso dedos se passearem por aquele calcário, resolvemos chamar-lhe “Filhos do Sol”.
Quarta pela manhã, iniciamos a via “enfiando-nos” num diedro que começou com rocha...duvidosa, tornando-se numa bela surpresa uns metros mais acima, com estéticas passagens, bem mais verticais do que parecia lá de baixo (lá se foi a minha ideia de facilidade!). O diedro continuou para o segundo largo, este mais a meu jeito (como quem diz...mais acessível a quem escala pouco!), ao que se seguiu um largo da mais pura escalada artificial. O único “senão”, foi a decepção causada pela “furadeira”, que resolveu deixar de esburacar ao terceiro furinho...mesmo antes do artifo. Enfim, a vida não é perfeita e as plaquetes seguintes foram colocadas “à mão”.
O dia terminou tarde, mas com saldo positivo. Para a quinta-feira restava apenas um largo...para além da enorme “jumareadela” matinal, já que resolvemos vir descansar a cotas mais baixas, em terreno horizontal.
Quinta, o dia começou com várias dezenas de metros a “jumarear” até à segunda reunião. Aquecimento feito, foi a minha vez de limpar o terceiro largo, sem deixar cair nenhum piton, que são preciosos naquele território! O dia avizinhava-se mais curto do que realmente foi. O quarto e último largo, para além de longo, foi demorado...e delicado, parte em artificial e parte em livre!
Comentário geral: “Filhos do Sol”, espectacular via “tuga” em território “hermano”, num calcário de boa qualidade, em que muito boa parte se faz em livre (agradável surpresa para o que inicialmente estava planeado), num ambiente ainda mais espectacular, enquadrado por uma vista de montes, bosques, rapinas e outros passarocos.













Topos da "Filhos do Sol".














O primeiro lance. 60 metros bestiais!









Daniela no primeiro lance.




Segundo largo mais pequeno e com fissura.







O artifo do terceiro lance.




Perspectiva aérea da segunda reunião.




Outra vista da segunda reunião.



"Jumareadela" gigante, para pequeno almoço!




Paisagem bucólica desde a terceira reunião.



Uma parte da montanha "Turbón". Terra verde e de sonho.


E de novo... Riglos.

Com a sensação de “viagem cumprida”, ainda sobrou um dia para mais uma passagem em Riglos.
Desta vez, deixamo-nos de grandes alturas e resolvemos tentar a sorte em “mallos” mais pequenos. Assim, terminamos a escalar duas excelentes vias na “Aguja Roja”, com qualidade de longe superior ao que fizemos no Pison! Finalmente pude entender o real significado de “escalada rigleira”, em duas estéticas vias, que primam não só pela beleza da linha, mas também pela excelente qualidade da rocha (bueníssima aderência, contrastante com a das vias mais concorridas!) e pelo ambiente que as envolve, bastante mais selvagem que os mallos de maior altura, do que se conclui que, as paredes (tal como as montanhas), não se medem aos palmos!

Daniela Teixeira










"Mallos pequenos". "Villarig", bonita e pouco repetida via da "Aguja Roja".

Vista do vale desde a via "Villarig".

terça-feira, julho 10, 2007

Memórias Invernais
Serra da Estrela
(imagens do Inverno 2005/2006)


sexta-feira, julho 06, 2007

Num qualquer dia desta semana, no banal acto de abrir a caixa de correio electrónico deparei-me com um e-mail de uma "grande" pessoa com um poema de homenagem ao RPPD (ok, isto da homenagem soa um pouco a desculpa) e que entre muitas outras reflexões me dizia:

«...Infelizmente, na maior parte do tempo sou apenas um pobre escravo de grilhetas invisíveis nos pés. Esta é a grande tristeza da escravatura moderna, não sabermos claramente, como os antigos, quando é que se tem a liberdade. Porque estas grilhetas são por nós queridas e existem pelas nossas fraquezas...»

Com o seu devido acordo, aqui fica a sua poesia:


Descida oblíqua

A cada passo de abandono,
menos a alma lhe importa,
mais o vazio fica o seu dono
e o transforma em caixa morta.

E longe da montanha,
na planície que se estende
e no tédio que se entranha,
já quase nada à vida o prende.

Amputado de um sonho existe somente,
sem eira de estrelas nem beira de lumes,
perdido monte num horizonte de gente
que não conhece, não sente, abismos e cumes.

Mas traz sempre no olhar a luz desse lugar,
onde se abrem as sombras e o nevoeiro
e onde caem as máscaras a revelar,
ter alma é respirar e ser é ser inteiro.

Miguel Maria Fronza (pseudónimo), Junho 2007