O Cabo da Roca esconde ainda recantos por desvendar. São meandros e esquinas sombrias que desafiam a imaginação. Nichos de granito que se recusam a desvelar os seus segredos facilmente.
O mar, esse gigante azul, proveniente do horizonte infinito é o maior protagonista nesta paisagem grave. Com um génio irascível, selvagem e para sempre indomável, este mar é o elemento principal que define o Cabo da Roca.
O mar e a pedra.
O triângulo formado pelo mar, a rocha e a aventura constitui a geometria essencial deste lugar mágico.
Dois rapeis depositaram-nos no fundo da Baía do Terror.
Rapel de acesso.
Aproveitando a maré vazia explorámos um diedro estético e lógico.
É uma sorte ainda poder encontrar estas linhas tão obvias quanto desconhecidas.
Apesar de convidativo, o diedro revelou uma escalada difícil e estranha, pejada de passos em oposição e presas arredondadas. No fundo, algo comum nas paredes espalhadas pela Roca. As desculpas cerebrais para justificar a dificuldade escondiam a verdade: a memória curta.
Dois momentos no primeiro lance.
A ultima via que tínhamos realizado no Cabo da Roca, “O ultimo cromo”, tornou-se num verdadeiro desafio psicológico ingrato. Isso incentivou-nos bastante a mudar de ares e a subir em altitude.
O granito perfeito da Serra da Estrela nada tem a ver com a rocha do Cabo. Mais uma vez, teríamos de nos habituar ás presas aleatórias por cima de ondas violentas. Mais uma vez teríamos de bater à porta (toc, toc!) de blocos mais suspeitos, um lugar comum nestas paragens.
A Daniela atenta, na primeira reunião. Foto de Fernando Pereira.
O segundo lance nervoso mas, baril! Foto de Fernando Pereira.
Apesar das perspectivas, o estado geral da nova via mantinha-se bastante aceitável. Arriscaria mesmo a dizer que a rocha revelava-se francamente... boa.
O segundo lance mais nervoso, permitiu ultrapassar um muro com mau aspecto mas, muito melhor que o esperado.
A iniciar o segundo lance.
A chegar à segunda reunião.
De repente: “zás!” Uma pedra passou-nos por cima, vários metros por detrás da nossa posição. Teria sido uma gaivota, como retaliação pela invasão de moradia? Mas não, não era nenhuma gaivota.
A segunda reunião.
O Fernando Pereira surgiu, suspenso numa corda estática, de câmara em riste.
Bastou um curto “sms” a anunciar uma nova investida de terror na baía,para entusiasmar o Fernando a surpreender-nos com uma visita “paparazzi”.
Pela primeira vez tivemos direito a uma reportagem fotográfica exterior, no decorrer de uma abertura.
“Finalmente, algumas fotos sem cús!”
O macaquinho e o Paparazzi.
Os macaquinhos. Foto de Fernando Pereira.
Uma plaquete depois e alguns metros mais acima, coloquei-me numa posição algo exposta. Era uma sensação estranha, ter alguém mesmo ao meu lado e, ao mesmo tempo ter de negociar uns passinhos mais precários num “run-out” considerável. Seria uma queda estúpida.
Acima, a sequência da colocação do perninho salvador. Fotos de fernando Pereira.
A realizar o passo muito mais tranquilo, protegido pela plaquete. Foto de Fernando Pereira.
A saída da via mostrou uma face inesperada. Uma rampa tão fácil quanto exposta conduziu a uma trepada temerária sem identificação possível na escala de dificuldades. Os chorões e as pedras rolantes em terra movediça transformaram os últimos metros num exercício ridiculamente memorável. Uma triste saída para um terceiro lance bonito e compacto.
"Agora vem aí mais!" E uma cabecinha espreita lá embaixo. Foto de Fernando Pereira.
Três momentos da Daniela no terceiro lance. Fotos de Fernando Pereira.
Para os meus botões, jurei voltar, de forma a corrigir a saída da nova criação.
No topo da falésia, logo a seguir a mais uma... Foto de Fernando Pereira.
No momento em que escrevo estas linhas os futuros repetidores (que decerto, serão ás dúzias!) terão três opções:
- Abrir uma saída mais humana (envolve uma limpeza “bulldozer”)
- Transportar dois expansivos (e respectivo Kit furador), equipar uma reunião imediatamente antes da secção podre e rapelar até à base da baía, saindo pela rampa de escape.
- Realizar a saída original e saborear o medo genuíno que só estes terrenos tão gratamente possibilitam.
Ai, ai, ai! Ui, ui, ui!
Paulo Roxo