quarta-feira, março 23, 2011

PIOLETS... CONTIGO OU SENTIGO?!

PIOLETS... CONTIGO OU SENTIGO?!


Está na hora da "Bjeca"!


Encomendámos mais um fim de semana de Inverno. Na verdade, o ultimo fim de semana de Inverno.

Apesar da encomenda, o que nos saiu foi algo um pouco diferente das verdadeiras condições Invernais. As temperaturas subiram bem mais alto que a modesta altitude de 1925 metros do Cântaro Magro (por direito de honra, o verdadeiro cume da Serra da Estrela) e atingiram valores acima dos 10 graus. No entanto, o clima esse deixava brilhar o Sol e, o céu de um azul intenso obrigava a escalar qualquer coisa. Algo teria de sair, neste magnifico dia de horizontes longínquos.


O cume de honra da Serra da Estrela.


Fomos então à caça de faces norte, a única orientação que poderia permitir alguma escalada mista digna desse nome.

Desde a estrada, observámos atentamente todas as paredes sombreadas que íamos descobrindo no vale do Covão do Ferro, imaginando vias a interligarem escassas linhas de neve ainda entalada entre os diedros e blocos de granito.


Os Cântaros.


Abandonámos o carro num pequeno estacionamento que antecede a arqui-famosa “Curva do Cântaro” (inteiramente ocupada por viaturas que se esqueceram de estacionar em “espinha”, de forma a deixar lugar para mais alguém) e decidimos ir dar uma vista de olhos ao “Cântaro Raso”, mesmo ali ao lado.


Aproximação ao Cântaro Raso. Está muito longe... são mais de dez minutos a andar!


Há uns dias, o grau de humidade era tão elevado que fomos obrigados a abandonar ali uma cinta à volta de um bloco, deixando para trás, via “rapel”, uma linha que nos pareceu interessante. Agora, merecia a pena uma nova vista de olhos.

Uma pequena linha elegante de neve subia um diedro evidente.

A sombra mantinha as temperaturas frescas. “Mmm... isto parece prometer!”


No inicio do primeiro lance. "A coisa promete!"


Ainda no primeiro lance.


Para cima não avistávamos a continuidade. Tratava-se de um erro de perspectiva provocado pela proximidade. As paredes de rocha vertical impedem a visão das “colagens” da neve, instalada em ângulos menos verticais. Desde baixo, colados à parede, parecia “tudo rocha”.

Uma “piolada” confirmou a consistência aceitável. Pena as temperaturas altas que impediam a congelação perfeita da neve, agora devidamente transformada.


Vistas da face sul do Cantaro.


No entanto, a linha apresentava boa pinta. Merecia uma tentativa.

De imediato, o terreno empinou e, apesar das dificuldades nunca se elevarem a valores insuportáveis, a escalada manteve uma continuidade surpreendente.


A chegar à primeira reunião.


Perspectiva da primeira reunião.


Fomos interligando placas de neve, entrecortada por passos um pouco mais desafiadores. As protecções, colocadas em fendas perfeitas ofereciam o grau de confiança necessária para arriscar um pouco mais, nalgumas curtas secções em que os crampons elevavam-se apenas em neve efémera.


No final do segundo lance.


Ainda no final do segundo lance. Erva tracção... do melhor!


A curiosa entrada na segunda reunião.


Os piolets eram traccionados ora em neve suspeita, ora em gancheios precários, ora... em nada de nada, sendo nestes casos relegados para segundo plano, inúteis, naqueles passos em que era mais eficiente utilizar as mãos para progredir. Era o “with or without you” relativamente ás ferramentas de alpinista ou, traduzindo como deve ser: “Contigo ou... sentigo!”


Piolos para quê, se...


... basta ir em oposição!?


O Sol radioso, saudou-nos no topo do Cântaro Raso.

A partir desse momento, as sombras da parede norte albergavam uma estética via de escalada mista, num terreno mais aéreo que a primeira visão fez supor.

A Serra da Estrela sempre a surpreender!


A Daniela prestes a realizar a ultima parte da via.


Visão para o vale.


Pouco tempo depois, a uns quilómetros de distância para sul, tínhamos à frente um belo prato de Mexilhões e uma alegre sangria para celebrar a nova escalada. E nos pés... umas sandálias de Verão... sim, porque afinal, o Inverno já terminou!


Inverno!!


Paulo Roxo





Esta foto foi tirada no ano passado.



quinta-feira, março 17, 2011

AINDA É INVERNO!

AINDA É INVERNO!


Não, não fomos propriamente à procura de gelo. Saímos de Lisboa para desfrutar o espírito da cordada que há já 3 fins-de-semana não existia.

Porquê a Serra? Porque as temperaturas faziam supor... mais uma vez, o final do Inverno.

Mesmo desconfiando que aquela substancia sólida e translúcida não estaria presente nas 48 horas que se seguiam, afiamos os piolets e crampons com precisão.

Quando a sexta apagava a luz do sol com as nuvens de fim de tarde, fizemo-nos ao caminho, gastando litros de gasóleo pago a 1,309euros/l (porque foi daquelas marcas que dizem fazer mal ao motor) e cruzando o alcatrão de 5,65 euros da A1 e o ainda grátis da A23... grátis só até dia 15 de Abril!!!

No jantar de sexta, mantínhamos a curiosidade do que nos esperaria no fim-de-semana.


Get Ready... para a molha!


Sábado amanheceu chuvoso. A serra mostrava-se com aquela capa cinzenta pouco convidativa e os sinais de estrada aberta no maciço central, desta não auguravam um futuro promissor, ou seja, um futuro seco.

De facto, a estrada estava aberta porque a precipitação era mesmo em forma de chuva, daquela chuva miudinha que todos os alpinistas detestam... sim, até nós! Mas a consideração dos euros não reembolsáveis dos gastos de sexta-feira, fez-nos sair do carro apenas para constatar o que já esperávamos: gelo? Uma piada!


Gelo?! Não... quanto à neve... molhada!


Mas estávamos ali e tínhamos de justificar os gastos e os múltiplos bicos de ferro que tínhamos afiado. Mais, tínhamos vontade de fazer... algo. Mais, ainda não tínhamos escalado um via mista este ano. Mais, no meio da névoa e da chuva miudinha vislumbramos uma linha com aspecto de se deixar escalar. Mais ainda, escalamos a via, uma verdadeira mista, mista de rocha e de neve húmida, absolutamente miserável! O que seria uma linha de fácil progressão caso a neve se encontrasse consolidada, passou a ser uma via menos fácil, com um “M” proporcionado pela neve que por vezes fazia supor que não aguentava o peso...de um caracol!


A primeira rampa da "Estado Liquido".


A saída delicada da primeira reunião da "Estado Liquido".


O segundo lance da "Estado Liquido".


Percorremos os 3 largos da via, em que a saída resolveu elevar o nível para um “M5” mais duro - o crux, uma saída por um diedro despido de neve, ultra molhadinho mas, com uns gancheios de "piolet entalado" perfeitos.


Um "arbusto-tracção" perfeito.


Parece fácil... e deve ser fácil... com a neve dura!


Um pouco depois estávamos metidos numa outra linha, em que o segundo largo se revelou duro o suficiente para nos obrigar a abandonar, pois o dia já caminhava para a noite.

O resultado?

Uma via apelidada de “Estado Liquido”.

Pura diversão, material encharcado, mãos encarquilhadas (para este tempo, ainda não inventaram as luvas perfeitas!), corpo destemperado. Nada que um banho quente e um jantar bem regado não cure.

No Domingo voltamos a percorrer o alcatrão que leva ao maciço central. Desta nevava um pouco, mesmo pouco, mas o suficiente para limitarem a passagem apenas a quem tinha correntes de neve... nós tínhamos!

O dia não estando agradável estava menos desagradável que o dia anterior, pelo menos a humidade tinha descido dos 200 para os 150%!

Espreitamos o corredor da “Cascata das Couves”, as couves estavam murchas. Descemos um pouco mais e identificamos um diedrito à esquerda da “Dama Oculta”. Um Diedrito que o Paulo superficialmente apelidou de “fácil”. “Fácil” sim, com neve confiável!


Em falta de gelo... espeta-se na neve!


Na saída do primeiro lance da "Cavalheiro escondido".


Piolos bem cravados entre neve/rocha/arbustos e o sorriso.


Desta abrimos 2 largos, um de fácil M5+, o segundo, um fácil M5! A “Dama Oculta” está hoje na companhia do “Cavalheiro Escondido”.


O segundo e fantástico lance da "Cavalheiro escondido".


Ainda no segundo lance.


Já tínhamos saudades daqueles gancheios nas bonitas lastras de granito serrano, das marteladas nas pedras, de sentir...”o cu tremido” pela instabilidade da neve, de escalar com água a escorrer sobre as luvas, as cordas, o material... como é boa a escalada mista!

Daniela Teixeira







Nota técnica:
O grau de dificuldade para ambas vias pode alterar significativamente em função da qualidade da neve.
Com neve dura, as dificuldades podem ser muito inferiores ás que encontrámos.
No fundo, estas são regras mais ou menos comuns a quase todas as vias mistas da Serra da Estrela.

É muito conveniente proteger de forma eficiente a via "Estado liquido", uma vez que as rampas de neve convergem para o precipício de rocha, situado na margem direita da via.


segunda-feira, março 14, 2011

INVERNO, AINDA?

INVERNO, AINDA?


A Daniela a contemplar o futuro próximo.


Serra da Estrela

Neve: Má!


Tempo: Péssimo!

Gelo: Inexistente!

Objectivo: Diversão!

Resultado: Duas novas vias!


A seguir...