quarta-feira, abril 28, 2010

BAÍA DO TERRAMOTO... A AVENTURA

BAÍA DO TERRAMOTO... A AVENTURA.

O Fernando Pereira conta aqui, em primeira mão, a sua aventura pessoal no Cabo da Roca.
Esta história está dividida em duas partes, porque a via também foi aberta em duas incursões. Uma primeira visita em perfeito estilo solitário e uma segunda intentona, com direito a "paparazzis".

O resultado final foi a abertura da...


SOLIDÃO CANINA (Parte um)




A caminho de um recôndito sector, enquadrado nas falésias a sul do Cabo da Roca, passa-se, obrigatoriamente, por um dos barrancos mais profundos desta parte da costa. Trata-se de, como é típico, de uma daquelas pequenas enseadas abruptas a que vamos chamando de “baías”.

Esta baía tem a particularidade de se situar ao fundo de umas respeitáveis arribas que superam a centena de metros de altura, em partes. Está num estado de fragmentação e instabilidade que faz crer que o sismógrafo arranhou com maior amplitude ali, mais do que em qualquer outra baía.



Parece incrivelmente ingrato como é que naquela cratera tão grande, não haveria possibilidades! O que se passa é que o ângulo destas pendentes não se aproxima o suficiente daquela que apreciamos. Os jardins e ravinas terrosas imperam sobre as secções de rocha (quase) inteiriça e não restam dúvidas de que todo o recorte de arriba está em pleno desmoronamento. Sente-se. Por vezes, com o vento, ouve-se. Tudo parece inviável.


Tudo parece inviável!


Tudo não! Um fio de esporão, ainda que mal definido, centraliza os olhares porque persegue um trajecto imaginável naquele granito laranja desarrumado. Uma faixa muito menos entrecortada por chorões ou veios de torrões. Sobe sucessivas e curtas rampas escalonadas, empilhadas umas sobre as outras, de aspecto bastante compacto para garantir uma possível progressão em “rocha-que-é-rocha” e também promissora de grandes apuros, na hora de buscar sítio para as protecções móveis.


A Baía em questão assinalada por cima dos Wind-surfistas e Kite-surfistas.


As fissuras e orifícios escasseiam em boa parte do esporão, que se afia progressivamente, até ao seu culminar, numa pontiaguda agulhinha que teima em não se deixar cair pela arriba abaixo.

Esta agulha recoberta no seu cume com uma camada de líquenes verde-vivo, destaca-se e afasta-se quanto pode da parede principal como para evidenciar que é a única portadora de uma linha contínua desde a praia de calhau, e que mais metros de escalada oferece, contrapondo-se aos restantes escassos segmentos dispersos, seus vizinhos. Este píncaro é o aliciante que faltava para estimular a iniciativa

No meio daquela imensa amalgama de pedra, disposta num raio de 300º, também outro criador-de-sensações (o Roxo) desmascarou um dia, com o afiado lápis do olhar, esta possibilidade, porém, adiando o projecto.

Tantas subidas e descidas pelo estradão não poderiam permitir suportar muito mais tempo a provocação, e chegou o dia, sem mais delongas ou investigações, de carregar uma segunda corda, descer ao fundo do abismo e ver se era verdadeira ou falsa, aquela arriba de pão-de-ló.


Sombras em aproximação.


Quando os companheiros para estas empresas não abundam e quando a vontade cresce até ao ponto certo, o engenho abre as portas e assim se sucede um primeiro lance de escalada em solitário com a técnica das malfadadas voltas fiel e as respectivas laçadas traiçoeiras.

Os metros sucedem-se, o esporão vai-se deixando explorar, não sem resistência e abundantes surpresas. Como aquela em que um friend, colocado como mandam os manuais, começa a escorregar juntamente com os blocos que compunham a sua fissura, ressaltando na corda, por pouco sem a cortar, entre outras peripécias.


Um momento da "Solidão". Note-se o assegurador atento, lá em baixo.


O segundo lance promete novas sensações, afinal o que parecia terreno muito tombado não o é tanto e os ressaltes escalonados são, conforme prometiam, bastante compactos e pobres de possibilidades de proteger. Buscando fraqueza de pendente e solidez de rocha, lá se vão sucedendo vários metros fáceis mas sem qualquer protecção. Estes metros e a falta de confiança no assegurador improvisado mandam avançar o berbeque e algumas técnicas artesanais de fixação. Passada meia corda chega-se à reunião sem bateria suficiente para montar uma coisa de palavra de honra. Dois pitons bem-vindos resolvem o assunto provisoriamente.


O descanso na reunião e uma palavrinha ao assegurador.


A sombra matinal que acompanhou durante o primeiro lance há muito que se mudou para outras paredes e agora o calor do Sol, associado aos morosos minutos de leitura de caminho, avaliação das opções e da colocação das rudimentares protecções, deixam bem claro que estratégia logística desta baía compromete muito a autonomia nestas condições solitárias. As dores nos pés são insuportáveis. Nas panturrilhas idem. O sistema dos nós revela-se um frete muito mais complicado que a própria escalada.

É é altura de fazer uma avaliação: O próximo e último lance aparenta ser mais curto mas não muito mais, uma vez que a parte cimeira da agulha não é visível e as distâncias iludem. Trata-se duns primeiros 10 metros de rampa e superação de blocos que levam a um muro mais vertical. Uma aparente fissura por baixo dum pequeno tecto. Uma secção de extraprumo levará à pirâmide do “cume”. Em alternativa, há as outras duas faces da pirâmide cimeira completamente instáveis e podres, sob os canais de escoamento formados pela sua separação da parede.

Pelo menos a parte da rampa seria possível subir, mas sem a certeza, que se veio a confirmar, de que não ia dispor de protecção fiável para fazer a eventual retirada. Assim sendo, toca para baixo que a vida é a assim mesmo. Já tinha tido muito mais do que esperava duma parede com tão desgraçada aparência.



TO BE CONTINUED...

Fernando Pereira

sexta-feira, abril 23, 2010

THE REAL THING!

THE REAL THING!




O Fernando Pereira abriu um novo terror com uns 90 metros em técnica de escalada em solitário na Baía do Terramoto... onde?!

Esperem, para ver!


Paulo Roxo

terça-feira, abril 13, 2010

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

ADMIRÁVEL...


Desta, o texto está a cargo do João Gaspar e conta uma aventura vivida em Janeiro passado, na companhia do Rui Rosado, na Serra da Arrábida.

Parece que os novos sectores não param de surgir naquela pequena e soleada serra á beira do Atlântico.

E, neste caso, estaremos perante um...


ADMIRÁVEL MUNDO NOVO


Tudo começou em Outubro do ano passado, ia eu apenas dar um pequeno passeio de caiaque, para ver uma vez mais, uma parede que me atraía lá para os lados de Alpertuche e tirar-lhe umas fotos.

O passeio esticou-se a ver falésia atrás de falésia e acabei por pagaiar até ao Dente do Leão em Sesimbra. Pelo caminho, entre outras possibilidades interessantes, avistei uma magnifica “crack” lá no alto e pensei para comigo “é linda!... é minha! tenho de conquista-la, tenho de lá ir!”.

A curiosidade ficou instalada e o tempo foi passando.

Algures pelo final do ano, fui procurar o caminho de acesso por cima e... espanto!... talvez o caminho mais fácil e espectacular para aceder a um sector de escalada na Arrábida!

Doravante, vou tentando aliciar alguns amigos a acompanharem-me nesta aventura, pondo a coisa nestes modos “o primeiro que vier, será o primeiro a ser servido!”, até que, finalmente, num jantar de convívio, houve um amigo que ao ver as fotos disse: “bora lá esta semana?!”. E assim foi, em Janeiro já deste ano, lá fomos eu e o Rui Rosado para fazer um reconhecimento, de modo a verificar se valeria a pena equipar, ou manter para clássica, e acabámos por fazer uma pequena (leia-se grande!) limpeza e equipar duas reuniões. Voltámos para casa a pensar que se calhar, a própria fenda mereceria ser equipada, pois a grande potencialidade da parede seria para desportiva.

O João a desfrutar dos primeiros passos algo expostos da sua nova via.


Quando lá voltámos de seguida, íamos os dois com o mesmo pensamento na cabeça: “estamos armados em frouxos, ou quê?”, eu estava com imensa vontade e o Rui também e eis que, por força dessa vontade, surge a via “Admirável mundo novo!” aberta em estilo clássico, no dia 20 de Janeiro de 2010, dando origem a um belíssimo sector!

João a aproximar-se do nervoso "crux" da via.


A cruzar o pequeno tecto de protecções "suspeitas".


"...Vai lá Gaspar, vai lá!"... "Pois, agora que remédio! Foinix!"


A meu cargo esteve a abertura do primeiro largo, uma placa aparentemente fácil, mas que a certo ponto se torna impossível de colocar qualquer auto-protecção, dando origem a um belo run-out com possibilidade de queda ao chão e terminando num bonito extra-prumo. Eu tinha ideia de abrir os dois largos, acontece que o primeiro me deu tanto de prazer que me virei para o meu companheiro: “Rosado, acho que por hoje já tive emoção que chegue... não queres por acaso abrir o segundo largo?...” , o rapaz aceitou de bom grado e eu, com todo o prazer, passei-lhe o material para as mãos, passando ele de imediato à acção, abrindo em grande estilo, à frente dos meus olhos aquela bela fissura que mais parece um raio vindo do céu!

O Rui inicia o segundo lance.


Iniciando a estética fissura.


"Ora vamos lá a ver se tenho material para chegar lá acima."


"Afinal isto é mais largo do que parecia!"


"Vai lá Rui, vai lá!"


Terminámos o dia bem satisfeitos e traçámos planos de lá voltar para mais aventuras. Decidimos baptizar o sector com o nome da via e a zona como “Sesimbra de Cima” devido à sua localização. A esta data o sector conta já com dez largos entre as várias vias equipadas para desportiva e a via original de dois largos, que será mantida para clássica.

Obrigado Rui, companheiro de cordada, pela excelente aventura partilhada às portas de casa!


João Gaspar



Info técnica:

Zona – Sesimbra de Cima

Nome da via e sector - Admirável Mundo Novo

Dificuldade sentida e proposta -1º largo 6b (+?) expo – 2º largo 6a (+?)

Acesso: Sesimbra nascente.


Entretanto, o João Gaspar e o Rui Rosado equiparam mais umas linhas neste fantástico sector.

As vias 1, 3 e 4, foram ensaiadas e equipadas desde o cimo e esperam a primeira ascensão (o famoso F.A.). Para quem as queira realizar ou simplesmente obter mais informações, contactar o João Gaspar ou o Rui Rosado.


(O topo geral foi realizado pelo Rui Rosado)

quinta-feira, abril 08, 2010

TALVEZ... DESTA VEZ... O FIM DA ÉPOCA BALNEAR!

TALVEZ... DESTA VEZ... O FIM DA ÉPOCA BALNEAR!


Já nos tínhamos despedido do Inverno, mas a Páscoa, quis que a Primavera esperasse mais um pouco e transformou as nossas “amêndoas” em...escaladas mistas!

Voltamos a desarrumar o material das escaladas de Inverno e dia 1 de Abril pela tarde, estávamos a caminho da Serra da Estrela. Chegamos ainda a tempo de dar uma espreitadela às encostas nevadas da nossa grande colina e ficamos animados com a perspectiva de 3 inesperados dias de...brrrrrrr...escalada mista...NO RULES!!!


Sexta pelas 9:30 iniciávamos a descida do corredor do Inferno, que apresentava neve bem transformada, na (vã) esperança de que a cascata do Inferno estivesse novamente formada. O gelo era quase inexistente, mas as vertentes rochosas exibiam aquele aspecto sarapintado de neve que nos faz brilhar os olhinhos.

Em pouco tempo, estávamos já na primeira tentativa de entrada numa via mista que apelidámos de “Via do Furgalho” (os transmontanos saberão seguramente o que é...não é Animado?)

Esta via de um largo de 50m, teve duas tentativas de entrada, duas tentativas em que o gelo molarenga não permitiu a nossa passagem. Mas como à terceira é de vez, à terceira entramos realmente, por uma passagem...mais simpática!

A Daniela na "Via do Furgalho". Pequena Goullote disfrutona!


Ainda tentamos que a via tivesse um segundo largo, mas o ultimo gelo de Inverno, (ou melhor, o primeiro da Primavera), aquela massa gelatinosa a desfazer-se, não permitiu a progressão.

Íamos descer de um patamar à procura de novas aventuras, quando vislumbramos uma preciosa linha branca, uma daquelas finas linhas evidentes, das quais não é possível deixar de tentar.

Pouco depois, nascia a “Via do Gato pingado”, uma bela mistalhada de 3 largos, que seguiu 2 evidentes diedros.

O primeiro, com neve transformada que permitiu uma fácil progressão, desembocou numa rampa que foi dar a uma paredota onde montamos a reunião. As protecções foram excelentes em fendas em rocha (sim, porque proteger no gelo este fim-de-semana foi pura ilusão!).

A iniciar a "Gato pingado"


No final do primeiro lance da "Gato pingado".


O segundo largo, foi já mais elaborado! Os primeiros passos, à saída da reunião mostraram-se...nervosos, com uma fina placa de gelo a desmanchar-se ao toque dos crampons e os piolets a faiscarem no granito antes de se conseguirem espetar (mais ou menos!) numa chafurdice de neve!

Após esta passagem, veio o diedro, que num dia de muito frio daria uma escalada mista com gelo bom, de fiável progressão, mas que naquele dia ofereceu um desafio delicado, especialmente a pesos pesados como nós! Recorrendo à mais apurada técnica misto-levitação, lá conseguimos passar o estético diedro que no fim, tinha menos de metade da neve inicial!

Passagem muito precária da "Gato pingado". Os passos dificeis vinham a seguir...


Protecções? Novamente em rocha, por vezes não nos sítios que se queria, mas nos que se podia!

O Paulo teve nesta via uma performance de se lhe tirar o chapéu, a fazer passos precários com as protecções... nos locais onde podiam estar.

Na saída das dificuldades da "Gato pingado".


"Estrada à vista!"


O dia revelou-se compensador! Paulo + Daniela 1 – Serra 0. Ficamos animados ao saber que Sábado a temperatura ia descer, apesar da previsão apontar para uma nevada.

E assim foi, nevou! Nevou e choveu! Vamos por partes, algures pelas 9:00 já a estrada entre osPiornos e a Torre estava cortada, assim como a que segue pelo vale de Manteigas. Ainda assim, decidimos arriscar por Manteigas e sem ninguém a ver, cruzamos a cancela e subimos até ao Covão d’Ametade clandestinamente. Àquelas altitudes estava a chover, mas não desarmámos, subimos até ao Covão Cimeiro onde chegamos encharcados! Caía então um misto de neve e chuva, o que não augurava nada de bom.

Vento e neve.


Depois de uns escorreganços numas lajes de granito que pareciam barradas de manteiga resignámo-nos e regressámos ao carro. Como imaginávamos, por essa altura já as estradas estavam abertas, pelo que decidimos subir sobre rodas até perto da curva do Cântaro.

Por ali, com a motivação a roçar a desistência e o corpo gelado pela molha, ainda nos aventurámos pelo meio do nevão até às paredes do sector “Powermix”. Também aí não conseguimos fazer nada, pois a neve/gelo que formava as vias de misto estava literalmente a desfazer-se. Mas imaginar aquelas vias em condições...UÁU! Nada mais a fazer, a não ser aceitar que o melhor era aquecer os ossos e secar o corpo a baixa (mais baixa) altitude. Paulo + Daniela 1 – Serra 1.

Powermix! Estes diedros estão virgens! Apesar do mau tempo estava demasiado quente para uma tentativa. Fica para o ano!


Restava o Domingo de Páscoa, em que se esperava sol e subida de temperatura... e subiu mesmo e mesmo muito!

Tentar tentámos! Quase abríamos uma via na face Oeste do Cântaro, mas o seu final, o 3º largo, novamente devido à inconsistência da neve, estava intransponível! Ficou ali mais um projecto para a próxima época!

A face oeste do Cântaro.


Na entrada do primeiro lance do projecto. Um largo bastante dificil de M5+, com gancheios improváveis e nervosos.


A Daniela a entrar nos passos mais dificeis do lance.


"Crux!"


O terceiro largo do projecto. Um diedro dificil (talvez M6).


Dentro do pequeno diedro, sacado em A0 mas com boa pinta.


Prestes a desistir (um entalador abandonado resolveu o assunto!) a uns 6 ou 7 metros do final das dificuldades. O Sol estava à porta e a neve já se desfazia a olhos vistos. Ficou um projecto muito interessante para o próximo Inverno.


Chegámos ao carro para constatar o óbvio, 11º positivos!

Ainda assim creio que o rácio final, pelo esforço e tentativas se pode considerar Paulo + Daniela 2 – Serra 2!

O lema aplicou-se na perfeição, “NO RULES”, com piolets, sem piolets, com chuva, com neve, com calor, com tentativas fracassadas e com sucessos!

Uma coisa é certa: foram 3 dias muito divertidos.







A Parede Negra também oferece possibilidades quando devidamente "formada". Não existe nada escalado no Inverno. Talvez no próximo...


Daniela Teixeira

domingo, abril 04, 2010

Afinal... NÃO FOI O ULTIMO!

Afinal... NÃO FOI O ULTIMO!





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