A FACE LESTE, A NOVA VIA E OUTROS APONTAMENTOS HISTÓRICOS
Os Cântaros. Vistas inebriantes de maciços e Natureza.
NOVA VIDA!
O blog têm estado… morto!
Em Dezembro de 2016 mudámo-nos definitivamente para a Serra
da Estrela, mais concretamente para a vila de Manteigas. Mudámo-nos para um dos
locais mais belos do nosso país. Foi uma mudança radical de vida e de
ocupações. O “emprego” da Daniela ia de mal a pior e eu encontrava-me numa fase
“estagnada” em termos profissionais.
Tudo mudou no espaço de seis meses. Encontrámos uma casa
adequada e, assim sem mas nem meio mas, arriscámos tudo, incluindo a cabeça, em
prol de um novo projecto.
Desta forma nasceu a CASA MARIOLAS. Trata-se de um
alojamento local com quartos duplos e twins e um quarto camarata com capacidade
para seis pessoas.
Nunca antes tínhamos trabalhado no ramo da hotelaria ou
hospedagem e a verdade é que tem sido uma experiência animada e gratificante,
especialmente porque se trata de um negócio próprio. Estamos livres de vínculos
com patrões ou entidades de chefia. No fundo, temos a liberdade para gerir o
nosso “barco” e fazê-lo rumar no sentido que desejamos… assumindo que os ventos
continuam de feição!
Desde o primeiro momento quisemos cunhar a casa com a nossa
forma de estar e com uma forte ligação à Montanha e à Natureza.
Momento de contemplação a meio da face leste do Cântaro Magro.
Como não podia deixar de ser, uma das premissas
incontornáveis para a nova profissão era a de conseguir ter tempo. Tempo para
desfrutar da “nossa” Serrinha, tempo para explorar, tempo para treinar, tempo
para escalar…
Tempo… para escrever, esse têm faltado. E o blog, como
consequência, foi ficando para trás. Sobra a insipidez (des)informativa do
Facebook.
De todos modos, falemos então de escalada!
FACE LESTE DO CÂNTARO MAGRO
APONTAMENTOS HISTÓRICOS
A face leste do Cântaro Magro na Serra da Estrela é a maior
parede “escalável” do nosso país, ultrapassando mesmo a Placa da Nédia situada num
lugar remoto da Serra da Peneda. O cume do Cântaro, com os seus 1928 metros de altitude, ergue-se a quase 500 metros
de desnível desde o Covão da Ametade. Estranhamente (entenda-se:
incompreensivelmente), esta grande face de granito com um carácter marcadamente
alpino só raras vezes recebe a visita dos escaladores. Aparentemente, poucos
conhecem realmente o seu legado histórico. De facto, foi aqui que foram
documentados os primeiros passos de escalada técnica na Serra da Estrela.
Corria o ano de 1953, mês de Agosto, Nave de Santo António. No
decorrer do “Primeiro acampamento de montanha” organizado pelo Clube Nacional
de Montanhismo (C.N.M.), liderado pelo respeitável Dr. Jorge Santos, fundador
do C.N.M. (sediado no Porto), foi realizada a primeira ascensão da face leste
do Cântaro. Os protagonistas foram Jorge Monteiro e Moura Martins. Acerca dessa memorável ascensão escreveria Jorge Monteiro muitos anos mais tarde: “Juntamente com o
outro companheiro (Moura Martins), uma corda de 30 metros e quatro pitons, fizemos
a via central do Cântaro Magro. Lembro-me sobretudo de uma passagem em
ressalto, num corredor, que nos deu água pela barba”.
Jorge Monteiro, durante a primeira ascensão da face leste do Cântaro Magro, em Agosto de 1953.
Embora a via exacta desta
ascensão não seja perfeitamente conhecida, o relato da “expedição” aponta para a
actualmente nomeada como “Via do Y”, mais interessante na estação Invernal,
quando se encontra carregada de neve. Contudo, esta ascensão constituiu, de
certa forma, o virar de uma página, a transição entre uma determinada concepção
generalista de montanhismo clássico para uma abordagem mais especializada de escalada. No dia seguinte a esta histórica ascensão foram escaladas três outras
vias por diferentes cordadas, que participaram no referido encontro, encabeçadas
pelo Dr. Jorge Santos. Infelizmente, os alinhamentos correspondentes a essas
escaladas perderam-se por falta de documentação e croquis.
Moura Martins, companheiro de cordada de Jorge Monteiro em um momento de descanso durante a primeira ascensão da face leste do Cântaro Magro.
Na face leste existem outras cinco vias (mais ou menos
documentadas) e umas quantas variantes. Foram ascensões realizadas em períodos
diferentes. As mais antigas (pós Jorge Monteiro) foram abertas entre 1973 e
1976 e tiveram o cunho do prolífico escalador Paulo Alves e companheiros.
Infelizmente, os denominadores comuns gerais a todas as vias são a sinuosidade,
as escapatórias inevitáveis através de grandes rampas ervosas e o nível do
musgo. Estes são os aspectos negativos que, a juntar a um certo preconceito
geral, fizeram com que esta parede fosse relegada para o quase esquecimento da
comunidade escaladora.
A abrir nova via na face leste do Cântaro Magro.
A Daniela, em plena faena no quinto lance da "Josefina Alpina".
JOSEFINA ALPINA
Desde que nos mudámos, já abrimos 16 vias de escalada em rocha ao longo do Vale de Manteigas e no maciço central. Os projectos, esses são… digamos: infindáveis!
Para já fica a informação acerca da maior das novas vias, uma via que desejamos, venha a ser repetida e devidamente desfrutada...
A JOSEFINA ALPINA é a nova proposta da face leste, aberta pela
Daniela Teixeira e por mim, em Maio de 2017. Trata-se de uma via “amena”,
equipada por forma a garantir um certo grau de compromisso, mantendo o espírito
de aventura sem nunca chegar a ser exposta. Quase todas as reuniões estão
integralmente equipadas ou possuem pelo menos uma protecção fixa. Em placas
onde não é possível proteger utilizando entaladores ou friends, ali estará a
plaquete salvadora.
Na travessia do sexto lance, a caminho do difícil diedro onde se encontram os únicos passos de escalada artificial da via.
A escalar o espectacular lance número oito da "Josefina Alpina". Um verdadeiro desfrute a meio de uma grande via.
As passagens mais sujas foram devidamente escovadas, sem
jamais entrar em exageros impactantes.
Quisemos criar uma via de porte, para desfrutar (sem
demasiado stress) de uma escalada longa naquela que pode ser, em nossa singela
opinião, a parede mais “alpina” da nossa geografia.
No fundo, a ideia é devolver a respectiva dignidade a esta
parede singular que se levanta imponente desde o Covão da Ametade.
O décimo lance da via. O "Pilar verde" inicia com uma placa protegida por uma plaquete.
Pelas suas dimensões e características a Josefina Alpina pode representar um grande objectivo para
uma cordada iniciada nas lides das grandes vias de montanha, uma magnífica ascensão de
preparação para voos mais altos para uma cordada mediana ou um divertido dia longo de
escalada para uma cordada experiente em vias de vários lances.
De todas as maneiras, pensamos valer a pena reservar um destes fins de semana para escalar esta via e assim colocar no mapa a magnífica parede leste do Cântaro Magro.
Aqui fica o convite!
"Foto-cume!!!" Agora só (!) falta a descida.
Paulo Roxo
O Topo