quinta-feira, dezembro 28, 2006

Assédio ao Espinhaço!

Assédio ao Espinhaço!
O Espinhaço (Cabo da Roca) tem sofrido um intenso assédio de inúmeros escaladores nas últimas semanas: Nuno Pinheiro, Guga, Filipe Costa e Silva, Isabel Boavida, Carlos Simes “Cuca” entre outros e parece que hoje mesmo Francisco Ataíde faz uma investida para liberar a via «TransAtlântica». Espinhaço ao rubro!

De nossa parte, no passado Sábado escalamos a via «Lunática» (3 largos, 6c+ max.). Esta, foi aberta pelo Paulo Gorjão e Francisco Silva no mês de Maio de 1990. Para os mais assíduos do Espinhaço este recorrido tem um carisma especial. Talvez tenha sido a 1ª via a ser aberta nesta parede com uma mentalidade integramente “freeclimbing”. Uma via de uma qualidade extraordinária, semi-equipada, de dificuldade mantida. A não perder!
Miguel Grillo no 1º lance da «Lunática»

Paulo Roxo também no 1º lance

1º lance

2º lance

2º lance

2º lance

3º e ultimo lance

Neste mesmo dia o “Cuca” e o Filipe forçavam em livre a via «Normal» (resultado: 7a+) e o Nuno e a Isabel assediavam a via «Miradouro».

Para terminar, houve uma incursão colectiva à via «Palácio da Lua» na qual o Filipe com uma invejável fluidez realiza o provável 2º encadeamento íntegro (colocando os friends) desta espectacular via (nota: no dia 26 o Nuno também escadeia colocando os friends).
Filipe Costa e Silva e Carlos Simes "Cuca" na via «Normal»

Filipe no 2º largo da «Normal»

Cuca tambem no 2º lance

Isabel Boavida e Nuno Pinheiro na variante «Espuma Branca» de saida da via »Miradouro»

O REI dos Chorões (leia-se "Directa dos Chorões" em www.quinto-duro.blogspot.com)

Cuca na «Palácio da Lua» 7b+/7c
Isabel na mesma via

Nuno

E Filipe encadeando a via no mais puro estilo!

MG

sexta-feira, dezembro 22, 2006

HOHOHO!

A todos, desejos de um Natal bem nevado e/ou bem rochoso!
...e claro, com uma bota gigante empanturrada de piolets, frieds, expresses, pés-de-gato e outros artefactos afins!
Boas festas...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Abriu a época Balnear!!!


Pelo menos assim parece, a julgar pelo ultimo fim-de-semana.
As previsões apontavam para uma temperatura de 7 graus negativos. No entanto, a neve que caiu na Serra da Estrela ainda estava longe de encher corredores e congelar cascatas.
Mas, o vento gélido e a precipitação dos dias anteriores tinham deixado as paredes de granito brancas, coladas com neve. Os tufos de erva e as almofadas de musgo (tão incómodos no Verão), transformaram-se em pequenos blocos congelados ideais para cravar os piolets. Em suma, formaram-se as melhores condições para aquela que pode ser a mais masoquista das actividades de montanha. A escalada mista!
Equipados com friends, entaladores, alguns pitons, crampons e piolets, a Daniela Teixeira e eu dirigimo-nos à face Oeste do Cântaro Magro com o intuito de inaugurar a estação. E tentar abrir uma nova via.
O tempo instável e o forte vento transformaram a actividade num memorável dia de tremedeiras, passos arriscados, gancheios “manhosos” e “pioladas” em rocha.
De todos modos, passo a passo, lá fomos ultrapassando os obstáculos. Até que, a meio do quarto lance, um pequeno extra-prumo impediu a continuação. Cerca de uma hora de luta não bastou para salvar a passagem e resolvemos deixar alguns friends, rapelar e retornar no dia seguinte.
Com pouco vento e céu limpo retornámos, decididos a terminar a via.
Evitámos o passo “intransponível” do dia anterior optando por uma passagem pela direita de aparência mais acessivel (seguindo, mais ou menos, uma linha de Verão). Mas, a facilidade confirmou-se de facto aparente e, já com o Sol a surgir e a ameaçar transformar a tranquilidade congelada da “erva-tracção”, fomos confrontados com os passos mais difíceis de toda a via.
O culminar das dificuldades revelou-se num interessante lançamento de perna para cima de um bloco, traccionando nos dois piolets em simultâneo, cravados em… sei lá onde! Esta passagem ridiculamente difícil ficou completa após uma “elegante” reposição estilo lagarta, onde os joelhos, a barriga e o peito também tiveram um papel fundamental. Uma boa prova de resistência para o Gore-tex! Felizmente, toda a manobra foi realizada sob vigilância de um bom camalot numero 3. Psicologicamente tranquilizador.
“Conquistámos” o cimo do Cântaro Magro só depois da Daniela gramar como primeiro de cordada o ultimo lance da escalada. Nestas lides de escalar caóticas miscelâneas de rocha, gelo e neve (misturados não necessariamente por esta ordem), os piolets e os crampons saem a perder com os seus bicos rombos das “coquinadas” de fazer faísca. Mas, estes são detalhes que também fazem parte da aventura.
E agora a aventura chamou-se:
SCOTTISH WAY , 185 mts, M5+
(L1: M5, L2: M3, L3: M4, L4: M5+, L5: M3)



Nota curiosa:

Erroneamente, muitos pensam que os “inventores” das escaladas no terreno gelado das cascatas e sucedâneos, foram os Franceses.
Na verdade, os primeiros a escalar sistematicamente coisas verticais congeladas foram os Escoceses.
O primeiro piolet-tracção foi fruto da imaginação de um tipo que se chamava Hamish Mcinnes. Esta ferramenta de nome “Terrordactyl” era pouco maior que um martelo de carpinteiro mas, acabou por se tornar numa peça fundamental.
Com o passar dos anos o Terrordactyl ganhou um estatuto lendário.
A escalada mista nos “Hills” da Escócia tem a mais longa tradição de que se conhece e está sujeita a normas éticas muito rigídas e arreigadas. Por exemplo, uma ascensão mista só será considerada “Invernal” se a rocha estiver completamente incrustada de neve e gelo. Se a rocha estiver limpa de neve ou gelo a escalada não será considerada… mesmo tendo sido realizada no pino do Inverno!
E claro, como sempre, as discussões sobre “to bolt or not to be” (espetar plaquetes ou não), são eternas e muito inflamadas.
«Scottish Way» foi um nome inspirado na tradição longínqua dos homens de “Kilt”… sim, aqueles tipos do William Lawsons.

No rules!

Paulo Roxo



segunda-feira, dezembro 11, 2006



11 de Dezembro
DIA INTERNACIONAL DAS MONTANHAS


quarta-feira, dezembro 06, 2006

A Décima fissura

A Décima fissura

Há uns anos, num determinado contexto que não interessa revelar, alguém perguntou provocatoriamente:
- Mas existem dez fissuras em Portugal?
A pergunta ficou sem resposta, não pela falta de fissuras (já na altura tínhamos escalado dezenas!) mas, pela obtusidade que a própria questão revelava.
A título de gozo, o Miguel e eu chamámos à «Palácio da Lua» a “Décima fissura”.
Esta via corta em dois o forte extra-prumo sobranceiro à Parede Principal do Espinhaço.
Neste pequeno sector, mirador sobre o inquieto Atlântico, convivem cinco vias, sendo a mais espectacular a «Palácio da Lua».
A navalha da Natureza parece ter cortado esta linha, especificamente para o deleite dos entaladores mecânicos, vulgo Friends.
Há cerca de dez anos, inspirado pela perspectiva de escalar em livre esta via sem recorrer aos expansivos, o Francisco Ataíde começou a limpar a fissura de pequenas lastras que impediam a sua realização.
Anos antes, o Paulo Gorjão e um escalador Americano já tinham tentado
escalar esta mesma linha mas, as tais lastras demoveram os seus esforços e não voltaram.
Após “alguns tralhos” sobre os friends pré-colocados, o Francisco Ataíde lá a conseguiu encadear.
De seguida, também o Filipe Costa e Silva e o Carlos Simes "Cuca" conseguiram escalar a «Palácio da Lua» sem cair, também eles com o material pré-colocado ao longo da fissura.
Recentemente, o Nuno Pinheiro e o “Guga” juntaram os seus nomes à curta lista de escaladores que a realizaram em livre. De novo, utilizando friends pré-colocados.
Faltava realizar o encadeamento, colocando os friends em simultâneo.
Em Dezembro passado, o Francisco Ataíde retornou para tentar a sua sorte e logrou a primeira (e única, até ao momento) ascensão em estilo “Clean”.
Enquanto o grau consensual, com protecções pré-colocadas, é de 7b+, segundo a opinião de Ataíde, este subirá para 7c, se protegemos à medida que escalamos.

O Miguel Grillo, o Ricardo Neves…. e eu tentámos a «Palácio da Lua» no passado fim-de-semana.
É possível realizar vários entalamentos de mãos e, vimos bastante “cor” à coisa. Assim que… voltaremos!
Esta pequena via possui uma estética inegável. Se a isso juntarmos a sua dificuldade elevada estaremos perante um projecto “desportivo” inspirador… para alguns, claro!

Paulo Roxo