ICE REPORT - SERRA DA ESTRELA
(A primeira report da temporada... desejando não ser a última!)
ACTO I
O último mês (pré-confinamento), foi profícuo em actividades invernais.
As excelentes condições do gelo, que permaneceram durante
vários dias seguidos, surgiram como uma janela de oportunidade para a
realização de uma série de actividades "glaciares”, entre elas, algumas
aberturas (ver "Acto II").
As boas condições gerais reinantes permitiram-nos (a mim e à
Daniela Teixeira) escalar uma bela série de cascatas de gelo. Algo que nunca
aconteceu na passada temporada, durante a qual, os piolets e crampons nem
chegaram a ver a luz do dia.
A fome era muita e, com os ventos gelados do Inverno a empurrar
as frias fragâncias do gelo acabadinho de cozinhar, lá nos metemos serra acima,
em busca das primeiras pioladas da temporada.
Ao nível das cascatas, escalámos clássicas habituais como a “Cascata das Couves”, “Diedro de Cristal”, “Dama oculta”, “Cavalo de gelo” e a “Cascata da Curva do Cântaro”. Mais tarde, também nos passou pelas mãos - melhor dizendo, pelos piolets - vias de formação mais rara como a “D.M.M.” (sector “Estrela nocturna”), a “Adrenalina” (sector “Curva do Cântaro”) e as de rara formação, “Burrinho de gelo” e “Via do Furgalho” (sector do “Inferno”).
Com o decorrer dos dias, já no final desta primeira fornada de gelo (esperemos que não seja a última deste Inverno), realizámos dois bonitos encadeamentos de escalada em gelo. Um deles começou com a ascensão da cascata “Jean”, no sector “Lafaille”, continuou por uma outra cascata mais pequena e mais fácil que nomeámos “Ligação”, terminando com a ascensão do “Corredor do Cavalo” que, nesta temporada, apresentou uma bela cascata com cerca de 20 metros, logo na sua entrada. Um raro presente que aceitámos de bom grado.
O segundo encadeamento de vias geladas concluiu com o
alinhamento da “Tragédia feliz”, com a “Parece, mas não é!”, terminando ainda
com uma bonita variante de escalada mista, com cerca de 20 metros, que
apelidámos (recorrendo ao nosso melhor humor brejeiro e roubando a autoria a um
amigo) de “Tufo deste há pouco!”
A Daniela na "Tragédia feliz".
Também tivemos a oportunidade de repetir algumas vias mistas na emblemática face oeste do Cântaro Magro, como os primeiros lances da exigente “Sem hesitar”. No entanto, o ex-libris da semana foi sem dúvida a escalada integral da espectacular “Pepi te quiero”, uma clássica de 1998, incontornável, que se apresentou mais difícil que noutras temporadas.
Este início de Inverno permitiu-nos também realizar algumas primeiras ascensões.
Logo nos primeiros arrufos, no dia 6 de Dezembro,
aproveitando um corte prematuro das estradas, dirigimo-nos a pé (pela estrada)
até ao sector do “Túnel”, para acrescentar uma nova linha que nos saiu bem mais
dura que o desejado, pois a intenção era iniciar a temporada com um prosaico:
“Vamos só ali, escalar uma mista fácil!” O “fácil”, rapidamente se tornou “muito
difícil” e o resultado foi a “Pica-ponto” (135m, M6+).
O Inverno voltou a retirar-se e ainda de espírito inquieto pelo receio de uma repetição de uma temporada miserável, eis que se avizinhou uma esperançosa vaga de frio. Esta acabou por provar ser longa o suficiente para justificar a “report” que agora partilho...
Paulo Roxo
To be continued no Acto II...
...com novas vias e croquis!
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