sábado, janeiro 23, 2021

Ice report - Acto I

 ICE REPORT - SERRA DA ESTRELA

(A primeira report da temporada... desejando não ser a última!)


ACTO I


O "cabeçote" do Cântaro Magro - face leste. A Lua espreita indecisa... Vou? Fico?



O último mês (pré-confinamento), foi profícuo em actividades invernais.

As excelentes condições do gelo, que permaneceram durante vários dias seguidos, surgiram como uma janela de oportunidade para a realização de uma série de actividades "glaciares”, entre elas, algumas aberturas (ver "Acto II").

As boas condições gerais reinantes permitiram-nos (a mim e à Daniela Teixeira) escalar uma bela série de cascatas de gelo. Algo que nunca aconteceu na passada temporada, durante a qual, os piolets e crampons nem chegaram a ver a luz do dia.

A fome era muita e, com os ventos gelados do Inverno a empurrar as frias fragâncias do gelo acabadinho de cozinhar, lá nos metemos serra acima, em busca das primeiras pioladas da temporada.


Últimos metros da "Cavalo de gelo".


Ao nível das cascatas, escalámos clássicas habituais como a “Cascata das Couves”, “Diedro de Cristal”, “Dama oculta”, “Cavalo de gelo” e a “Cascata da Curva do Cântaro”. Mais tarde, também nos passou pelas mãos - melhor dizendo, pelos piolets - vias de formação mais rara como a “D.M.M.” (sector “Estrela nocturna”), a “Adrenalina” (sector “Curva do Cântaro”) e as de rara formação, “Burrinho de gelo” e “Via do Furgalho” (sector do “Inferno”).


A bela e rara "Burrinho de gelo".


Com o decorrer dos dias, já no final desta primeira fornada de gelo (esperemos que não seja a última deste Inverno), realizámos dois bonitos encadeamentos de escalada em gelo. Um deles começou com a ascensão da cascata “Jean”, no sector “Lafaille”, continuou por uma outra cascata mais pequena e mais fácil que nomeámos “Ligação”, terminando com a ascensão do “Corredor do Cavalo” que, nesta temporada, apresentou uma bela cascata com cerca de 20 metros, logo na sua entrada. Um raro presente que aceitámos de bom grado.




O segundo encadeamento de vias geladas concluiu com o alinhamento da “Tragédia feliz”, com a “Parece, mas não é!”, terminando ainda com uma bonita variante de escalada mista, com cerca de 20 metros, que apelidámos (recorrendo ao nosso melhor humor brejeiro e roubando a autoria a um amigo) de “Tufo deste há pouco!”


A Daniela na "Tragédia feliz".


A terminar a espirítuosa variante "Tufo deste há pouco!"


A Daniela a meio da bonita cascata "Parece, mas não é!"




Também tivemos a oportunidade de repetir algumas vias mistas na emblemática face oeste do Cântaro Magro, como os primeiros lances da exigente “Sem hesitar”. No entanto, o ex-libris da semana foi sem dúvida a escalada integral da espectacular “Pepi te quiero”, uma clássica de 1998, incontornável, que se apresentou mais difícil que noutras temporadas.


A iniciar o último lance da espectacular via mista "Pepi te quiero".


"Pepi te quiero". Primeiro lance.


"Pepi te quiero"


Este início de Inverno permitiu-nos também realizar algumas primeiras ascensões.

Logo nos primeiros arrufos, no dia 6 de Dezembro, aproveitando um corte prematuro das estradas, dirigimo-nos a pé (pela estrada) até ao sector do “Túnel”, para acrescentar uma nova linha que nos saiu bem mais dura que o desejado, pois a intenção era iniciar a temporada com um prosaico: “Vamos só ali, escalar uma mista fácil!” O “fácil”, rapidamente se tornou “muito difícil” e o resultado foi a “Pica-ponto” (135m, M6+).


"Uff!, Arghh!, Isto afinal é duro!" Na "Pica-ponto"




O Inverno voltou a retirar-se e ainda de espírito inquieto pelo receio de uma repetição de uma temporada miserável, eis que se avizinhou uma esperançosa vaga de frio. Esta acabou por provar ser longa o suficiente para justificar a “report” que agora partilho...


Paulo Roxo


To be continued no Acto II...

...com novas vias e croquis!


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