domingo, outubro 31, 2010

EXPEDIÇÃO ESPÍRITO LIVRE 2010

EXPEDIÇÃO ESPÍRITO LIVRE 2010

Brevemente numa palestra... perto de ti!

EXPEDIÇÃO ESPÍRITO LIVRE 2010 - O trailer

EXPEDIÇÃO ESPÍRITO LIVRE 2010 - O trailer

Brevemente numa palestra... perto de si!


segunda-feira, outubro 25, 2010

OS ULTIMOS DIAS... OU TALVEZ NÃO.

OS ULTIMOS DIAS... OU TALVEZ NÃO.

Actividade realizada em 16 e 17 de Outubro.

Escudo negro.

Com as temperaturas a cair para os três graus positivos, começa-se a sentir a primeira lufada dos ventos de Inverno e com eles a esperança de uma boa temporada de neve e gelo.

Três graus!

De gorro metido na cabeça a Daniela abandona o carro na curva do Cântaro e destrepa o habitual acesso ao colo, entre a estrada e o Cântaro Magro. Eu sigo atrás, absorto em pensamentos invernais, motivados pelos valores indicados no termómetro do carro.

“Serão estes os últimos dias do ano de escalada em rocha na Serra da Estrela?”


"Gear for fear!"


Apesar do frio, o dia está brilhante.

O céu limpo e de um azul intenso, o granito seco, a tranquilidade reinante, são factores que conspiram para nos inspirar.

O nosso propósito é a soleada face sul do Cântaro.

Ao longo do dia vamos partilhando os largos da fabulosa “Érika”.

A aderência é excelente e mal levamos as mãos ao saco de magnésio.




Mar de granito do primeiro largo e a bonita saída para a reunião.


Ao longo de todo o dia não vemos vivalma. Apenas o murmúrio de algumas vozes longínquas se deixam ouvir, vindas lá de baixo do Covão D`Ametade.

O céu... azul.


O segundo lance, mais dificil e igualmente espectacular.


Estamos sós e penso na nossa situação. É uma sorte poder escalar vias desta qualidade sem a presença de várias cordadas nas imediações ou mesmo, na própria via. É todo um luxo que ainda podemos desfrutar em muitos locais deste pequeno país (em crise!) à beira mar plantado.


O inicio do terceiro lance.


Por um lado não deixamos de divulgar as actividades, os topos, de partilhar as aventuras vividas e com isso, quiçá, motivar alguns a viver as suas próprias aventuras.

No fundo, estamos a contribuir para que mais gente visite estes locais. Por outro lado, prezamos imenso a paz de estar sós, de poder escalar uma parede sem ouvir o tilintar do material de outros escaladores.

O quarto lance.



Duas fotos do quinto largo. Um lance com o seu truque psicológico.


Estes sentimentos mistos, farão para sempre parte de um paradoxo insolúvel.

O som... do silêncio.

Saboreamos o momento.

Sexto largo.


Ultimo lance mais sinuoso para terminar.


E saboreamos umas “sandochas” no cimo do Cântaro com as vistas largas que este belo cume modesto tem para oferecer.

Gredos, sem neve... ao longe.

A ultima reunião da Érika.


No dia seguinte, a temperatura desceu um pouco mais e o vento resolveu também ele intrometer-se. No entanto, mantivemo-nos fiéis ao plano.

A ideia era abrir uma variante ao ultimo lance da novíssima “Helena”, também na face sul do Cântaro, claro, a face do sol.

Desta acedemos através da curiosa escada de granito da “via Normal”, que permite também alcançar a base dos dois últimos largos da “Helena”.

O nosso primeiro lance corresponde ao sétimo da via que, uma vez mais, não defraudou. Trata-se de um 6b de antologia naturalmente desprovido de musgo, que precede um “off-width” técnico final.

O sétimo largo da Helena. O primeiro do nosso dia.


A intenção era abrir uma prometedora fissura de entalamentos de mãos que corta em diagonal para a esquerda. A nova variante revelou-se um osso duro de roer que escalámos no mais puro estilo livre, já se sabe... livre de preconceitos! Entre alguns passos de A0 lá se foram conquistando os metros que nos separavam do topo e o resultado final foi a abertura da “Fissura do vento”, que constitui uma variante de saída da “Helena”, mais dura que a original.


Um osso duro de roer.


O osso quase roído.


Deixámos a serra com a saborosa sensação de espirito enriquecido.

“Serão estes os ultimos dias do ano de escalada em rocha na Serra da Estrela?”



Croquis da via Érika aqui.

Croquis da via Helena aqui. E aqui.

A propósito, o Francisco Ataíde e o Miquel "Bau-bau", realizaram a Helena integralmente em livre. A sua proposta de graus são como se segue: 6c, V+, IV+, 6a+, 6c+, III, 6c+ (dois ultimos lances realizados num só).


Paulo Roxo

sexta-feira, outubro 08, 2010

MAIS UM TERROR NA BAÍA



De uma forma simplista, poderia dizer apenas que abrimos uma bonita via aproveitando os poucos raios de sol que os últimos dias nos ofereceram.

Mas a via merece mais, merece ter história porque deu-nos (mais) uma história para contar.

No Sábado passado, com a alma aquecida por um sol radioso, saímos em direcção ao Cabo da Roca. O nosso destino?

A Baía do Terror.

A dita baía!


Chegamos uma pouco tarde para quem tinha intenções de abrir uma nova linha (algures perto do meio-dia), mas nem por isso o dia foi pouco desfrutado. A visão sobre a Baía do Terror e arribas do Cabo da Roca era impressionante. O mar estava revolto, bravíssimo! As ondas cresciam para roubar à costa mais um bocadinho de pedra, embatiam violentamente naquela rocha avermelhada e os salpicos elevavam-se dezenas de metros, brindando-nos com um espectáculo que prendeu a nossa atenção.

O mar...


Quase metade da parede brilhava, deixando supor rocha húmida, imprópria para consumo, o que veio aliviar o sentimento de culpa de quem chega tarde de mais para concretizar um objectivo. Ainda assim, sentíamos no corpo aquela energia que só no Cabo da Roca se sente.

De onde estávamos, aproveitámos para traçar a futura via com um olhar atento, desenhamos objectivos futuros e prometemos voltar no dia em que o sol voltasse a brilhar. Esse dia foi terça-feira, o feriado do 5 de Outubro. O único dia de sol da semana!

Desta não deixamos escapar a oportunidade e pelas onze estávamos felizes, já dedicados aos primeiros passos verticais.

O primeiro lance húmido.

Ainda no primeiro largo.


O primeiro largo estava húmido, ainda assim deixava-se fazer. Percorremos uma diagonal para a esquerda, com um ou outro passo desequilibrante, terminando num passito de força antes da primeira reunião. Até ali, nada mau! Aparte da humidade, a rocha mostrou-se de qualidade.

Lance fácil mas aéreo.

Idem.

A chegar à reunião.


Desde ali, já com o mar a rugir por debaixo dos nossos pés, seguiu-se uma bonita fissura que nos encaminhou para o primeiro troço menos saudável da via, um zig-zag de rocha de qualidade...inferior e mais arenizada. Mas nem por isso se pode considerar um troço nervoso. A cada passo, surgia a necessidade imperiosa de limpar os pés, até que o gesto se tornou um procedimento normal. Já perto da reunião, fomos saudados novamente por uma boa porção de pedra dura, daquela que provoca sorrisos alegres.

Diedro estético no inicio do segundo lance.

A sair de vista.

Abismo...

A chegar à segunda reunião.


Até ali, a coisa correu-nos de feição. Tudo estava na mais perfeita harmonia, sentia-se aquela energia que só se sente no Cabo da Roca, a via decorria por uma linha bonita, o sol proporcionava a temperatura ideal para escalar e o mar oferecia um delicioso espectáculo. Estávamos a um largo do topo da falésia.

Atlântico profundo.


Desde esta segunda reunião, os nossos olhares tentavam descobrir qual a melhor passagem para atingir o magote de chorões que nos esperava lá em cima.

Uma reunião sobre o Atlântico.


Minutos depois, assegurava o Paulo, que se deslocava suavemente numa pequena crista que não era mais do que um lego de blocos pouco sólidos. Espreitadela à esquerda...hesitação...e lá vai ele pela direita, elegantemente, quase levitando, sem importunar aquele caos e fazendo parecer que aquela passagem não seria mais que um terceiro grau. De facto, não era! Mas aquele terceiro grau comeu-me os neurónios muito mais do que poderia imaginar! Tentei também levitar (afinal não era a primeira vez que escalava em rocha de qualidade duvidosa), mas o meu peso fazia tremer toda aquela estrutura cujo equilíbrio a natureza se encarregava de manter. Aquele terceiro grau transformou-se em algo sem grau. O que os meus pés tocavam mexia, o que as minhas mãos alcançavam, não se podia agarrar. À minha direita desenrolava-se o resto do largo em rocha substancialmente melhor...mas dificilmente alcançável! Dificilmente alcançável estava também a protecção que eu já tinha decidido agarrar! Repousava aquele friend numa fissura escondida atrás de um enorme bloco que eu já sabia que não podia agarrar...a coisa estava a tornar-se ridiculamente difícil! “É só um maldito passo” pensava eu. Quando finalmente encontrei uma presa que me parecia sólida, esta desfaz-se em três peças e abandonou a minha mão direita. A parede já troçava de mim! Foquei. Foquei-me muito no friend e com os pés em...algo, lá lhe consegui deitar a mão sem tocar no grande bloco instável que estava entre mim e o dito aparelho. Finalmente passei aquele troço, mas os neurónios tiveram alguma dificuldade em recompor-se. Quando acreditava que nada mais se entrepunha entre mim e os chorões, um último passito delicado fez-me voltar a escalar livre...de preconceitos!

Depois de ultrapassar o lego.

No passo mais duro da via, a saída.

Perto dos "neurónios carcomidos".


Não faz mal! Lá em cima, os sorrisos alegres tornaram-se mais largos. Para trás, ficou um dia memorável, que já há algum tempo sentíamos que nos fazia falta, um dia em que surge mais uma via na Baía do Terror.

Missão cumprida!


Invariavelmente surgiu a pergunta “E nome?”

Após alguma ponderação, em homenagem ao segundo largo lá nos decidimos “Limpóspés”.


Daniela Teixeira

sexta-feira, outubro 01, 2010

À SOMBRA DO SOL

À SOMBRA DO SOL



O vale de Loriga é um cenário de escaladas passadas. De entusiasmos e inspirações ocorridos no anos 90. Desde essa altura, as visitas conhecidas não chegam sequer à dezena. São 20 vias relegadas ao esquecimento que esporadicamente despertam sob os pés de algum aventureiro mais afoito que, quase por engano, lá resolve dar o ar de sua graça. Consequentemente, o musgo da rocha e a vegetação de arbustos nas bases, voltaram a reconquistar o seu terreno.


Antes de entrar no vale, umas linhas espectaculares à espera dos escaladores.


Em Setembro, um pequeno grupo de amigos escaladores, reunimo-nos de uma forma quase espontânea, no vale de Loriga. O plano consistia em... “acampar”. Na verdade, a intenção era o convívio, num cenário natural idílico.

Infelizmente também o calor resolveu visitar o vale para esmorecer um pouco as vontades. A malta acabou por se animar, algumas clássicas foram repetidas e alguma que outra nova via surgiu, debaixo da “batata frita”, alcunha carinhosa com que os “abismados”, Natalia e Sergio, batizaram o incómodo musgo (quase) sempre presente.


O vale de Loriga. Foto de João Gaspar.


O Bruno Gaspar e o Nuno “Topas” realizaram o encadeamento integral da infame “Antagonismo dos pólos”. O nome desta via revela duas grandes especialidades muito “amadas” pelos escaladores: uma fenda extra-prumada de entalamento a meio corpo, em “off-widht” (primeiro largo) e uma placa técnica totalmente equipada, com algum ambiente, cotada de 6a+ mas, com sabor real a 6b+ ou até 6c, dependendo do controlo emocional do escalador (segundo lance).


O "Cameraman" João Gaspar e Bruno e "Topas" a prepararem-se para enfrentar a "Antagonismo dos pólos".

O Sergio e a Natalia realizaram a provavel segunda repetição da “Natal de verão”, com saída pela exigente placa da “Antagonismo dos pólos”. A “Natal de verão”, ultrapassa uma curta passagem dura e um pouco extra-prumada, logo uma chaminé profunda até à reunião. O segundo largo está constituído por uma grande lastra muito interessante.


O Sergio a suspeitar do 6a+ do segundo lance da "Antagonismo dos pólos"


Quando abri esta via em Setembro de 1998, em solitário, escalei um terceiro largo através de um diedro, cujo inicio possuía um grande arbusto. Na altura, consegui ultrapassar o obstáculo utilizando uma técnica de “espeleo-arbusto”, terminando a historia sem demasiadas escoriações. Hoje, esse mesmo arbusto apresenta um aspecto mais saudável (e denso) que nunca, o que não constitui um particular incentivo, partindo do ponto de vista de um escalador, claro.


Sergio convencido de que: "6a+, nem aqui nem na China!"


Entretanto eu e a Daniela dedicamo-nos a escalar uma linha de três lances bastante lógica e intuitiva. Não chegámos a entender se a via já foi realizada na integra no passado pois, há alguns anos, durante uma prévia tentativa encontrei um friend de cabo rígido abandonado no primeiro lance. Na primeira reunião um troço de corda antiga já descolorida pelos ultra-violetas testemunha um rapel de fortuna. No seguimento da via, não encontrámos outros indícios de visitas prévias. Acabámos por batizar a via com o nome de: “No reino da batata frita”.


Eu a limpar (literalmente!) o segundo largo da "No reino da batata frita".


Caso exista alguém com alguma referência relativa a uma ascensão prévia, agradecemos a informação.

A “No reino da batata frita” é uma via de grande qualidade... em potencial, quando um dia, alguém se dedicar a “desenterrar” a linha das toneladas de musgo que actualmente a cobrem.



O convívio nocturno, com jantar de campanha (sem fogueira!), um mega rebanho de cabras ruidosas, uma matilha de cães pastores e uma noite mal dormida, precederam o Domingo, de sol radioso e... quente.

A cordada formada por Sergio, Natalia e o “Topas” decidiram-se (um pouco a custo, devido ao calor) a enfrentar a “Al cabreiro” e a desfrutar da espectacular fissura do seu segundo lance.

Entretanto, o João Gaspar, o Rui Araújo e o Antonio Ferra, acabadinhos de chegar ao vale, dedicaram-se a inaugurar um sector inteiro. Embora, relativamente aos seus vizinhos, este deva ser considerado como um mini-sector. Trata-se de uma nova alternativa, sobretudo para dias de calor intenso em que um tipo queira mesmo muito escalar algo e ao mesmo tempo seja o depositário de uma imaginação fervilhante. Foi esse o caso.

Enquanto alguns resistentes se dedicavam a esturricar ao sol, como a Daniela e eu e também os “Abismados”, o João, o Rui e o Antonio, resolveram inteligentemente colocar-se à sombra, debaixo de uma pequena placa, cortada por algumas fissuras musgosas.


O novo pequeno sector mais fresquinho de Loriga: "Alfacinhas biológicas". Foto de João Gaspar.


Foi uma tarde bem passada, da qual resultaram cinco novas vias, espremidas de um pedaço de granito que, à primeira vista, parecia poder albergar apenas uma ou duas linhas.

Mais uma agradável surpresa que vale a visita, sobretudo quando fôr submetida a uma escovagem sumária, ou seja, q.b.

Salienta-se uma estreita fissura em diagonal para a direita, cuja primeira apreciação foi: “Isso é cego! Não dá para escalar “à frente”!”

Demonstrando que o autor da apreciação estava completamente errado (eu!), o João Gaspar não só escalou a dita cuja “à frente”, como o realizou “à vista”, utilizando alguns entaladores pequenos, algo duvidosos mas, com suficiente garantia para assegurar um conforto psicológico.


Croquis de João Gaspar.


E assim terminou um fim de semana mais na nossa querida “Serrinha”.

Para mais informações e croquis é só ver Vale de Loriga.


Paulo Roxo