quarta-feira, novembro 18, 2009

A PAREDE AMARELA

Na Parede Amarela, nos Pinheirinhos, equipei em Maio passado, duas novas vias com uns 55 metros.

Entretando, interpôs-se a expedição deste ano e posteriormente o calor do fim do Verão.

Agora, alguns meses depois, lá fomos (a Daniela e eu) estrear as “novas” linhas.


No primeiro lance da "Terrortáctil".


Estão situadas no flanco direito da parede e constituem as primeiras vias integralmente equipadas do sector que, promete mais coisas, a equipar a seu tempo.

Para a realização destas vias são necessárias uma doze expresses e o capacete é muito importante, pois a limpeza foi realizada de uma forma sumária.

Cuidados com a rocha, sobretudo no primeiro lance da “Terrortáctil”.


No segundo lance da "Gotinha indecisa"


A descida em rapel das duas vias, com uma corda de 60 metros, realiza-se pelas reuniões da “Terrortáctil”.

Atenção, porque será necessário passar expresses para dirigir a corda na direcção da reunião.

Esta é uma parede de Inverno e uma fornalha no Verão.


Paulo Roxo




Um agradecimento à D´Maker e Faders pelas protecções.

segunda-feira, novembro 02, 2009

A DANÇA DOS ESTORNINHOS. PRIMEIRA REPETIÇÃO





No dia 3, do passado mês de Outubro, o Rui Rosado e a Ana Silva, repetiram a "Dança dos Estorninhos", no Douro Internacional. A via foi realizada em oito horas e o Rui Rosado encadeou o primeiro lance, cotado de 7a.

Mais uma vez, a escalada foi realizada fora da época de nidificação de aves e, da forma mais respeitosa possivel, de acordo com a tranquilidade do lugar.

O que se segue é o relato, pela pena de Rui Rosado. As fotos são de Ana Silva e Rui Rosado.


A fauna local.


A DANÇA DOS ESTORNINHOS


Em 2007 havia estado no Douro, um fim de semana, com a Ana para tentar repetir a Terra de Ninguém. Devido à falta de tempo para realizar a viagem de ida e regresso, fazer a aproximação e escalar a via, abandonámos a Terra de Ninguém no terceiro largo. Desistir é sempre amargo, mas analisando os nossos erros, podemos sempre tentar melhorar. E foi com esse espirito que rapelámos, olhando para cima para os restantes largos que não havíamos provado - Havemos de Voltar!


O personagem a descansar.

E infelizmente dois anos passaram num piscar de olhos e demos por nós já em 2009 com o tempo a correr demasiado depressa entre as nossas mãos! Era tempo de voltar! O que nos fez levar o mês de Setembro todo a sonhar com o regresso à dita via, mas como o calor ainda era muito, aguardámos pelo fim-de-semana prolongado de Outubro. Na véspera da partida, com os mantimentos já comprados e a lista de material já definida na mente, cai o Carmo e a Trindade porque o tempo previa piorar a meio do fim-de-semana. O plano tinha ido literalmente por água a baixo. Fustigando-me com o Camalot nº4 contra a cabeça para a aplacar a raiva que me consumia, comecei à procura de alternativas.

Surgiu o plano de tentar a Dança dos Estorninhos, mas esquecendo essa cena do bigwall e ir numa de ascensão no dia, nonstop até se acabarem as pilhas da tikka ou a pele nos dedos. Uns quantos telefonemas para o Roxo a pedir opinião e o plano parecia concretizável. "Pois pá, se começarem bem cedo deve dar!" Mais uns quantos telefonemas para acertar o tema do material necessário para escalar a via e estávamos a caminho do Douro.

Pelo caminho ainda me ligou o Bruno Gaspar a dar um flash completo e detalhado da via largo por largo rematando algo do estilo: "Apanhaste-me de surpresa e eu não estou a ver o croqui de momento, mas é mais ou menos isto!" e eu a pensar que não me lembrava dos passos da ultima via que escalei e, o Bruno aqui a puxar pelos miolos para nos ajudar a tentar lembrar-se de uma via de à 2 anos atrás. E assim foi, com a energia positiva do Bruno, do Roxo e da Galp lá fomos Portugal acima em direcção ao Douro.

Indo leves descemos a Floresta do Bornéu numa hora, o mesmo será dizer, enquanto o diabo esfrega um olho. Da última vez andámos muito à procura do caminho e desta vez sabíamos já que direcções tomar! Estávamos motivados!


A Ana na floresta do Bornéu.


Na base da parede, detectámos o mais elementar erro que um abridor de vias não pode cometer se pretende mesmo que a sua via seja repetida, não existia nenhuma pedra colada com o nome da respectiva e a cotação (ou decotação, em Portugal é costume acontecer).

Ana -"É melhor despachares-te!"

Rui- "É só mais um minuto, para ter a certeza que é mesmo aqui!"

É que no croqui dizia L1 Diedro Estético. E o conceito de estética varia muito de pessoa para pessoa quanto mais de escalador para escalador. E então, o que ao Roxo pode parecer apelativamente estético, a mim por vezes arrepia-me a espinha até ao arnês! E eu tentava avaliar se a estética daquele diedro que se me deparava em frente, seria a mesma a que se referia o croqui. Parecia ser, apertados os pés de gato, conferidos os friends e magnesiadas as mãos, era hora de começar.


O "diedro estético" (7a).


E pronto, eram 09.00h quando começámos o primeiro largo e 17.20H quando a Ana se juntou a mim na última reunião do oitavo largo. Não vos maço com os pormenores da via porque (é claro), quero-vos dar a hipótese de ir “à vista”. Para além de que, a descrição da abertura da via, por si só, diz tudo.


O terceiro lance, ainda mais "estético"!


No entanto, ressalvo que para além de se saber escalar é preciso também saber trepar, para bom entendedor meio punhado de terra e erva de uma daquelas fissuras, basta!

A escalada é maravilhosa e surpreendente por vezes em presas tipo ampulheta. Sim, ficas mesmo surpreendido quando metes o pé num socalco de terra existente na fissura e qual ampulheta a terra começa a desagregar-se e a escorrer, sabes que tens entre 10 a 30 segundos para encontrar uma boa presa de mão tipo reglete de mão cheia (piada) ou para escavar freneticamente a fissura, na esperança de conseguires enfiar um friend a canhão e, seguir para cima ou pelo menos entalar as mãos (mesmo que doa muito), antes que essa presa de pé desapareça.


Atrás do "Homem do circo", mais de 300 metros de vazio!


Agora sério, parabéns ao Roxo e ao Bruno pela abertura desta linha, de certeza que se divertiram bem mais do que eu, porque neste tipo de empreendimentos, numa repetição não se conseguem viver os mesmos momentos que se passaram na abertura. A escalada, a dúvida, o risco, a incerteza, as decisões, no fundo, a conquista (e claro os palavrões), não serão nunca os mesmos. Agradeço-vos do fundo do coração (e do resto do corpinho todo) todas as marteladas que tiveram de dar ao longo de 3 extenuantes dias para colocar todos aquelas reuniões, plaquetes e buris ao longo da via que nos permitiram fluir parede acima.


Rosado


Fuga (sem petates gigantes!)



Ficha técnica:

A Dança dos Estorninhos -Picon de La Carroçera - Douro Internacional

310 mts 6c/A1 Bruno Gaspar e Paulo Roxo 1-4 Novembro 2008

A via tem oito largos e foi repetida em 8 horas(09:00h-1700h) no dia 3 Outubro 2009.

Convém um nível mínimo de 6b em via desequipada e bastante habito em escalada arificial (até A1),bem como um cordada eficiente e rápido para tentar a via no dia.

Passar uma noite na parede e sair no segundo dia penso que também é uma experiência inolvidável.






Para os seguintes repetidores:


No L3 foram deixados 2 pitons no final do diedro antes da placa burilada (tecto). No L7 foi deixado outro piton (na fenda entre a vegetação).

Material aconselhado:

Conjunto de friends repetido até ao nº 2, um nº 3, dois nºs 4, incluir microfriends.

1 conjunto Nuts (incluindo micro nuts).

1 estribo pax (se forem num singlepush, senão, um par por pax).

2 pitons (universais pequenos, se forem habilidosos a colocar micronuts, os pitons são desnecessários)

a restante quinquilharia do costume.


Época aconselhável:


De Setembro a Principios de Dezembro.

Escalar sempre fora da época de nidificação de aves.