segunda-feira, março 22, 2021

Face norte do Cântaro Gordo

FACE NORTE DO CÂNTARO GORDO 


A face norte do Cântaro Gordo é a parede sombreada da esquerda.


Já andávamos curiosos com a face norte do Cântaro Gordo há algum tempo. Chegara a hora de dar uma espreitadela. No dia 22 de Fevereiro, um sol radiante e um frio prometedor viu-nos a atravessar o planalto superior em direcção ao Cântaro Gordo. A neve debaixo dos crampons apresentava-se bem transformada. De facto, já não encontrávamos uma neve tão boa há bastante tempo.

Já na base da face norte do Gordo descobrimos uma parede de neve, gelo e rocha, com um aspecto excelente. Uma oportunidade para aproveitar.


A Daniela observa o futuro...


Logo nos primeiros passos de escalada mista, encontrámos uma neve bastante diferente da que descobrimos durante a aproximação. Agora deparámo-nos com uma neve açucar, sem consistência para permitir uma boa tracção dos piolets. Os tufos de erva e musgo, quando congelados, permitem uma dose de confiança adicional pois os piolets cravam-se como se de gelo se tratasse. Neste dia não tivemos essa sorte! Apesar do frio, estranhamente, os tufos de erva não estavam congelados e não nos iriam servir de muito para progredir. Teríamos de nos defender com os clássicos gancheios em fissuras rochosas.


A iniciar a "Pézinhos de lâ". Constatação imediata de condições... menos boas.


Apesar das más condições, o muro compacto de rocha deixou-se escalar através de uma linha de fraqueza lógica e desafiante. Um primeiro lance de dificuldade “amena”, deu seguimento a um largo diagonal, com dois ou três passos picantes e mentalmente cansativos devido à sua relativa exposição.


A terminar a "Pézinhos de lâ". 80 metros inesperados de misto.


Terminámos a primeira via do dia, na crista do Cântaro Gordo e, poucos metros mais abaixo, abandonou-se uma cordeleta para realizar um longo rapel até à base da parede.

A face norte do Cântaro Gordo recebia assim a sua primeira via invernal.


No topo do Cântaro Gordo... next!


Ainda com tempo disponível, deixámo-nos levar pela visão de uma nova linha atraente que conduzia ao topo de uma pequena torre destacada.

No primeiro lance o “crux” surgiu na saída, obrigando a alguns passos difíceis num extra-prumo acentuado mas com bons gancheios e protecções fiáveis, permitindo ultrapassar as dificuldades sem muitas complicações.


A Daniela a ultrapassar o primeiro "crux" da "Não venhas gordo!"


Montada a reunião numa fenda oportuna, observámos o terreno acima. Uma canaleta de aspecto fácil desenvolvia-se pela direita. Caso seguíssemos por ali seria uma via desequilibrada ao nível das dificuldades. Um lance duro de entrada para terminar com um segundo lance muito mais fácil. Previa-se um sabor final um tanto ou quanto amargo. No entanto, uma observação mais cuidada fazia pensar que existia uma alternativa mais… equilibrada, leia-se: mais dura!


A Lagoa da Paixão em evidencia.


Resolvemos meter-nos pelo centro do pilar de rocha vertical. “Vamos tentar!” Uma primeira secção fácil em travessia permitiu aceder ao tecto no centro da parede. Felizmente, uma fissura franca consentiu proteger convenientemente, reduzindo em grande medida a exposição de uma potencial (e provável) queda. Gancheios laterais em bavaresa… crampons “em aderência” na parede lateral esquerda… gancheio potente muito por cima da cabeça, num pequeno bloco entalado na fissura… proteger com um bom camalot 0,75… escalar o próprio piolet bem gancheado… bloqueio duro… soltar o piolet direito e gancheio aleatório por cima do tecto… confiança… “Será que está gancheado?”; “Atenção!” Lá em baixo, a Daniela assegurava atenta. “Ok! Aí vou!” As forças estão no limite. Em apneia, tracciono o piolet direito, procuro um friend e atiro-o literalmente, meio à balda, para dentro da fissura disponível. A energia esvai-se a cada segundo que passa. Não aguento mais… dou tudo o que tenho e ergo-me nos dois piolets gancheados. Os crampons raspam violentamente no granito até que, sem saber como, um deles “agarra-se” a alguma protuberância minúscula. Num instante estou por cima do tecto em terreno mais fácil. Não sinto os braços, mas já consigo respirar. Os próximos metros ainda não são fáceis, mas apresentam-se muito mais amáveis que a escalada precedente.


No tecto muito difícil da "Não venhas gordo!" Uma das vias dry-tooling mais duras da Serra da Estrela.


A terminar a "Não venhas gordo!"


Desde o topo da pequena torre desfruto da paisagem invernal circundante. Os ante-braços acusam o esforço. Estou feliz. “Que via espectacular!”

Enquanto asseguro a Daniela, concentrada no esforço de ultrapassar as dificuldades da nova via, observo as paredes em redor. O potencial para a escalada mista é considerável…

“Está ali uma linha bem apetecível. Vamos?”

O futuro no “nosso” jardim apresenta-se risonho…


Paulo Roxo


Um reconhecimento com o Cântaro Magro envolto em mística...


Os topos








segunda-feira, março 08, 2021

Bucólico reloaded

SECTOR BUCÓLICO

RELOADED

 

Ambiance... Bucólica!


A ideia de desenvolver esta área começou com o plano de preparar um local adequado, e ao mesmo tempo recatado, para realizar os meus cursos de escalada em rocha. No entanto, as futuras explorações alteraram o objectivo original, o de criar uma simples “escola” de formação.

Neste momento o sector Bucólico possui 20 vias, entre as quais algumas totalmente equipadas.


Na bela e recente via de escalada desportiva "Ventoleira".


Esta “escola de escalada” alberga vias de escalada clássica, para as quais serão necessários um conjunto de friends e alguns entaladores, bem como algumas vias totalmente equipadas que se resolvem utilizando apenas um conjunto normal de expresses e os respectivos mosquetões de segurança. Algumas vias possuem três lances. Contudo são lances curtos, para os quais a utilização de corda simples de 60 metros será suficiente. Com excepção para a "Variante entrada" (via 4), todas as vias possuem as reuniões equipadas.


A inaugurar o pequeno sector de iniciação: "Rachinhas".


No campo das dificuldades, a maioria das vias são de dificuldade baixa e algumas moderadas, com uma ou duas difíceis. Creio ser um sector apropriado para se aprender as técnicas de escalada de auto-protecção (clássica) ou para a iniciação à escalada em rocha - quando devidamente acompanhado por alguém com saber e experiência na matéria - ou simplesmente, para passar um dia agradável de aventura comedida em contacto com a natureza. 

ATENÇÃO: Apesar da dificuldade relativamente baixa da maioria das vias, este é um local de escalada de aventura, isolado e pouco visitado. Prestar atenção a possiveis blocos ou pedras soltas e usar sempre o capacete.

O posicionamento geográfico contrasta com o que normalmente associamos à Serra da Estrela, com os seus escarpados de granito impressionantes e os desníveis acentuados. Aqui a morfologia apresenta um aspecto mais "tranquilo". Contudo, a localização altaneira permite vistas desafogadas, podendo observar-se o planalto superior da Serra da Estrela com neve no Inverno e os seus belos maciços em evidência, como os emblemáticos Cântaros. O ambiente campestre e o facto de quase não se avistarem casas até onde a vista alcança provoca sentimentos de calma e serenidade.

Uma envolvência… bucólica.


Paulo Roxo


Os topos

 












Equipamento necessário:

- Micro-friends

- Friends

- Entaladores

- 10 expresses

- Mosquetões com segurança

- Descensor (reverso)

- Capacete

- Prever cordeleta para substituir algumas cordeletas de reuniões

- Boa disposição e respeito pelo local e pela natureza