sábado, fevereiro 29, 2020

Sector Bucólico


SECTOR BUCÓLICO


Ambiance bucólica...

Inicialmente, a ideia era “preparar” um sector de vias fáceis para a realização das minhas formações de escalada em rocha e, de facto, dias após um prévio (sempre duro) trabalho de escovagem, nasceu a primeira ascensão pelas mãos e pés de três formandos, durante um curso de “Clássica”.
Retornei depois para escovar as restantes vias, prometendo voltar para escalar convenientemente as ditas, ou seja, desde baixo, aferindo a respectiva dificuldade e altura.
A Daniela e eu acabámos por ocupar um dia e meio a inaugurar as restantes linhas do sector, descobrindo uma pequena “escola” simpática, com fissuras e possibilidades para protecções “à la carte” e uma rocha pejada de presas com os ângulos de “agarre” voltados para o lado bom. Uma escalada, digamos, confortável!


Daniela prestes a entrar na curiosa placa da "Esporão do pitão".


Com respeito ao ditoso grau, existe a possibilidade de seguir uma progressão lógica, desde o IV até ao 6c (ou mais!) – na “Coisa Fina”, que não chegou a ser encadeada.

Até agora são sete vias, uma com três pequenos lances, que compõe o leque de possibilidades deste sector que promete ocupar um agradável dia de escalada acessível, sem obrigar a nenhum compromisso, ou sequer ter de madrugar.
Com respeito ao equipamento fixo, as vias estão praticamente desequipadas, salvo as reuniões e contadas plaquetes dispersas.
Trata-se de um sector de vias fáceis e moderadas, para o qual será necessário levar um conjunto de friends e outro de entaladores. Uma corda simples de 60 metros é suficiente.
Na carta topográfica, o conjunto de rochedos que compõem o sector, figuram com o nome de “Poios” (Poios da Senhora de Assedasse) mas, a sua localização altaneira, de vistas despejadas e campestres, suscitaram um nome menos prosaico, um pouco mais adequado ao sentimento que o sítio provoca: SECTOR BUCÓLICO.


Paulo a adoptar uma posição estranha para se equilibrar na bela "Fissura bucólica".


Para uma visita mais acelerada recomendo a escalada das seguintes vias:

  • Escócia. Bonita via com fissuras variadas.
  • Fissura Bucólica. Fissura muito bonita e vertical. Para quem deseje incrementar um pouco a dificuldade no final, pode sair pela fissura da esquerda, pertencente à “Coisa Fina”.
  • Esporão do Pitão. Com a sua bonita placa final, incluindo o “picantinho” adicional da protecção num piton fixo.
  • Via das três ralés. Merece uma ascensão com o espírito “travessia”, ou seja, escalando toda a aresta rochosa até ao cimo da formação, sem rapelar. Um bonito final de dia. O terceiro lance é o mais difícil e também o mais interessante.

Paulo Roxo


Os Topos:













sábado, fevereiro 08, 2020

A Terra Prometida

A TERRA PROMETIDA


 Daniela, o pássaro!


Há um lugar secreto ao qual chamamos "Terra Prometida".
É um lugar tranquilo, no meio do nada, onde o tempo parece ter parado.
É um lugar povoado por pássaros... grandes pássaros selvagens.
É um lugar de tranquilidade, com vistas amplas, do qual é possível ver o universo, estando quase invisível aos olhos do resto do mundo. Uma qualidade rara actualmente.


Daniela, no "Pilar dos Frangos".


Neste lugar estás só... sentes-te sozinho.
A Aventura acontece aqui, aventura real... aventura vertical.
A Escalada acontece!
“Descobrimos” este lugar há muitos anos, mas apenas nos dois últimos anos nos dedicámos a explorar a grande muralha. Um muro praticamente abandonado e quase esquecido. No entanto, há uma história por detrás desse esquecimento...


Paulo no penúltimo lance da "O Lontra Ofendido".


Há mais de 20 anos, alguns escaladores começaram a abrir vias por aqui mas, um “ecologista” demasiado zeloso decidiu acusá-los (dois ou três escaladores… por ano!) de representarem a maior ameaça à nidificação. Após esse episódio, toda a região ficou assombrada por uma aura de “terreno intocável” e, esse passou a ser o principal argumento, cada vez que alguém comentava em visitar esta parede. Finalmente, ao longo dos anos, o lugar foi ficando esquecido, ou quase...


Daniela, numa bela passagem da "Ó Pançudo!"


Há dois anos, eu e Daniela começámos a redescobrir o local. Por acreditarmos na sua importância, respeitamos a época de nidificação, que geralmente começa no final de Janeiro até meados de Agosto. 
Em janeiro de 2018 decidimos escalar a nossa primeira via... UAU! Que descoberta incrível! Encontrámos uma rocha de muito boa qualidade, formada por quartzito sólido, apesar de possuir alguns blocos “ui, ui!”, como tipicamente acontece na maioria das paredes inexploradas. De todos modos, e o mais importante, foi descobrir fissuras abundantes que tornaram absolutamente inútil o uso de pitons (e do pesado martelo). Um bom conjunto de friends e entaladores serão suficientes para desfrutar plenamente da escalada nestas paredes.


"Esquecemo-nos do capacete, e agora?"; "Agora... é para cima!"



Por causa de um erro de perspectiva, negligenciámos o tamanho real da parede, o que conduziu à conclusão nocturna da nossa primeira via aberta. O que do solo pareciam ser apenas três ou quatro lances, transformou-se em oito largos de uma bela aventura de escalada pura. Que prazer!


Daniela na "Varanasi for Never".


Até agora - sempre fora da estação de nidificação - escalámos dez (prováveis) novas vias, multi-pitch, sem qualquer equipamento fixo. A excepção à regra surge sob a forma de uns ridículos troços de corda abandonados em alguns blocos de rocha, para criar o único sistema de rapel da parede! Apesar desta linha de descida, o mais aconselhável será sempre escalar até ao cimo da parede e descer a pé, utilizando o amplo trilho panorâmico, em direcção ao merecido jantar. 

Paulo, a escalar o quinto lance da "Onde voam os pássaros".


Sempre respeitando a época de nidificação, pretendemos continuar a explorar esta parede incrível, da forma mais humilde e cuidadosa que pudermos, tentando seguir a mais pura ética da escalada tradicional, de baixo para cima, sem deixar vestígios e… tentando divertir-nos ao máximo!
Definitivamente, "A Terra Prometida"!


Paulo Roxo & Daniela Teixeira


Os topos: