SERRA DA ESTRELA. VALE DE LORIGA.
O Verão aproxima-se e a Serra da Estrela acaba de despir o seu efémero manto de neve.
Há muito que os piolets estão estacionados e é tempo de pensar em... rocha. Pelo menos para vocês, que anseiam por retornar ao granito da Serra, ou que finalmente, se decidiram conhecer o que a Estrela tem para oferecer.
Entre 1996 e 2003, foram realizadas várias visitas ao belíssimo Vale de Loriga. Durante algumas Primaveras e Verões foram abertas uma vintena de vias, dispersas por quatro maciços principais localizados abaixo da represa que fecha o vale.
Desde então permaneceram um pouco na obscuridade e esquecimento. São no entanto, linhas naturais e intuitivas, algumas belas vias de fissura que pedem a gritos para serem escaladas.
Desvenda-se aqui, mesmo antes de partir para um outro canto do mundo, as vias existentes até à data, no Vale de Loriga.
ACESSO E APROXIMAÇÃO
Para o Vale de Loriga, vindo da Covilhâ, passar os grandes (e aberrantes!) estacionamentos do ski. Na primeira curva teremos uma ampla vista sobre o Vale de Loriga (ao fundo divisa-se o sector “Al Cabreiro”, depois da represa), passada a segunda curva para a esquerda, encontramos uma esplanada onde é possivel aparcar. Desde aqui sai um estradão de terra que se dirige directamente para o Vale de Loriga. Passamos por cima da represa e descemos por trilho evidente até ao Covão da Areia, no centro do vale.
O primeiro grande maciço da direita é o Cabeço do Balcão. Subindo pela direita do vale chegamos aos outros sectores.
Atenção: Se vamos deixar algo de valor dentro da viatura o melhor será estacionar junto à Torre e realizar o trajecto a pé. 1h30, a descer.
AL CABREIRO E COIÇO DA NAVE
- Al Cabreiro. 80 mts, 6b/A1. Paulo Roxo, Ricardo Nogueira e Paula Ferreira em 13 de Julho de 1996.
Reuniões equipadas.
L1: V. Entrada pela esquerda de um diedro, logo pelo diedro.
L2: 6b/A1. Diedro seguido de espectacular fissura de entalamentos. Travessia final para a esquerda em artificial.
L3: 6a. Fenda, seguida de curta chaminé. Saída por placa protegida com um piton.
Material: Friends, médios e grandes repetidos. Entaladores.
Descida: Rapel pela própria via.
- Em busca da cascata perdida. 80 mts, 6c. Paulo Roxo e Vasco Candeias em 5 de Fevereiro de 2000 (linha oculta no croquis. No interior da grande chaminé).
Reuniões equipadas.
L1: Comum com a “Al Cabreiro”.
L2: 6c. Fenda em linha recta a meio da grande chaminé.
L3: 6a. Chaminé (túnel vertical!). Saída por fissura vertical.
Material: Friends e entaladores.
Descida: Rapel pela “Al Cabreiro”.
- Os vagabundos do Gore-tex. 80 mts, 6c/A1. Paulo Roxo e Mário Albuquerque em 9 de Julho de 2001 (segundo lance oculto no croquis. No interior da grande chaminé).
Reuniões equipadas, excepto a ultima
L1: Comum com a “Al Cabreiro”.
L2: 6c/A1. Diedro à direita da “Em busca da cascata perdida”. Travessia horizontal para a direita protegida com pitons (artificial), que convêm rebater.
L3: 6b+. Travessia horizontal até esquina aérea. Logo na vertical por placa.
Material: Friends. Repetir grandes (camalot 4) e médios.
Descida: Rapel pela “Al cabreiro”.
- Master Five. 80 mts, 6c. Paulo Roxo e Paulo Gorjão em Setembro de 1999.
Reuniões equipadas com um perno. Algumas plaquetes nos largos.
L1: V. Trepada algo musgosa de acesso ás vias.
L2: 6c. Fenda dificil, chaminé aberta e saída por fissura.
L3: 6b+. Diedro dificil, off-width e fissura de saída.
Material: Friends. Repetir médios.
Descida: Rapel pela “Al Cabreiro”.
- O grande diedro. 80 mts, 6b. Paulo Roxo, Paulo Gorjão e Vasco Candeias em 17 de Junho de 2000
Reuniões equipadas com um perno, excepto ultima.
L1: V. Comum com a “Master Five”.
L2: 6a+. Diedro evidente.
L3: 6b. Diedro evidente.
Material: Friends. Repetir médios.
Descida: Rapel pela “Al cabreiro”.
- La Psicóloga. 80 mts, 6a. Paulo Roxo e Vasco Candeias em 17 de Junho de 2000.
Reuniões 1 e 3 equipadas com um perne.
L1: Comum com a “Master Five”.
L2: III. Trepada de acesso à fissura.
L3: 6a. Fissura que alarga até se transformar em off-width.
Material: Friends médios e grandes. Aconselhável camalot 5.
Descida: Rapel pela “Al Cabreiro”.
- Greta Garbo. 60 mts, V+. Paulo Roxo, Ricardo Nogueira e Yolanda Traver em 15 de Março de 1997.
Uma plaquete na ultima reunião.
L1: V. Placa e fissura vertical. Reunião em fenda horizontal.
L2: V+. Laca algo técnica até alcançar fissura vertical.
Material: Friends e entaladores.
Descida: Rapel pela “Graciosa”, com cordas duplas de 50 metros.
- Aquiles. 50 mts, V+. Miguel Loureiro, Paulo Roxo e Paula Ferreira em 3 de Agosto de 1996.
Reunião equipada.
Fissura rectilínea evidente.
Material: Friends e entaladores.
Descida: Rapel pela própria via com cordas duplas de 50 metros.
- Graciosa. 50 mts, V+. Paulo Roxo e Yolanda Traver em Junho de 1996.
Reunião equipada.
Fissura rectilínea evidente (paralela com a “Aquiles”).
Material: Friends e entaladores.
Descida: Rapel pela própria via com cordas duplas de 50 metros.
- Ervas. 50 mts, V. Paulo Roxo, Paula Ferreira e Miguel Loureiro em 4 de Agosto de 1996.
Via totalmente desequipada.
Primeiro por diedro, logo por placa musgosa.
Material: Friends.
Descida: Rapel pela “Graciosa” com cordas duplas de 50 metros.
- Moby Dick. 50 mts, 6c. Paulo Roxo e Francisco Sancho em 3 de Junho de 2000.
Reuniões equipadas e três plaquetes no primeiro largo e uma no segundo largo.
L1: 6c. Diedro com entrada estranha.
L1: (11a) IV. Entrada alternativa.
L2: 6c. Fina fissura evidente.
Material: Friends e entaladores.
Descida: Rapel pela “Graciosa” com cordas duplas de 50 metros.
COIÇO DA NAVE
- Bigwallica. 60 mts, 6c. Paulo Roxo, Miguel Loureiro e Paula Ferreira em 4 de Agosto de 1996.
Uma plaquete na reunião final.
L1: 6c. Fissura vertical e em meia lua para a esquerda. Saída para a direita antes do final da travessia, logo placa tombada até à reunião.
L2: 6b+. Fenda vertical evidente.
Material: Friends. Repetir médios.
Acesso: Rapel pela própria via. Cordas duplas de 60 metros. Reforçar reunião.
CABEÇO DE BODE
- Natal de Verão. 100 mts, 6b/A1. Paulo Roxo em solitário em 1 de Setembro de 1998.
Via totalmente desequipada.
L1: 6b. Entrada dificil seguida de chaminé fácil.
L2: 6b. Grande lastra.
L3: A1/V+. Fenda vertical (artificial), floresta de zimbro e diedro.
Material: Friends e entaladores.
Descida: A pé, destrepando pela direita do sector.
- O antagonismo dos pólos. 80 mts, 6c. Miguel Grillo, Paulo Roxo, João Ferreira, Ricardo Rodrigues, Helder Massano em 31 de Maio de 2003.
Segundo lance totalmente equipado.
L1: 6c. Fenda larga (off-width).
L2: 6a+. Placa técnica totalmente equipada.
Material: Friends grandes e médios.
Descida: A pé, destrepando pela direita do sector.
- Manel das feijocas. 50 mts, 6c. Paulo Roxo e João Ferreira em 31 de Maio de 2003
Reuniões equipadas.
L1: 6c. Fissura dificil e vertical.
L2: V. Placa tombada.
Material: Friends e entaladores.
Descida: A pé, destrepando pela direita do sector.
CABEÇO DO BALCÃO
- Pitágoras. 80 mts, 6a. Paulo Roxo e Yolanda Traver em 23 de Junho de 1996.
Via totalmente desequipada.
L1: 6a. Fissura diagonal para a esquerda.
L2: V. Fissura diagonal para a direita.
Material: Friends e entaladores.
Descida: A pé, destrepando pela esquerda do sector.
- Noite na Terra. 80 mts, 6a. Paulo Roxo e Yolanda Traver em 23 de Junho de 1996.
Via totalmente desequipada.
L1: 6a. Diedro com entrada por granito branco.
L2: V+. Fissura/diedro.
Material: Friends e entaladores.
Descida: A pé, destrepando pela esquerda do sector.
- Homem-Rato. 110 mts, 6a/A1. Paulo Roxo em solitário em 31 de Agosto de 1998.
Um spit na primeira reunião e outro no inicio do segundo lance.
L1: 6a/A1. Diedro evidente. Saída para a direita por fina fissura.
L2: A1/V+. Fissura fina vertical.
L3: V+. Fissura, primeiro vertical, logo mais tombada.
Material: Friends, entaladores e uns três pitons (dois lâminas e um universal).
Descida: A pé, destrepando pela esquerda do sector.
- Diedro inevitável. 100 mts, 6b/A1. Primeira ascensão desconhecida.
Via totalmente desequipada.
L1: 6a. Esporão à esquerda de uma chaminé. Reunião em árvore numa grande plataforma.
L2: A1/6b. Diedro evidente.
L3: A1/6b. Diedro evidente.
Material: Friends e entaladores.
Descida: A pé, destrepando pela esquerda do sector.
Segue uma lista de vias muito aconselhadas para uma primeira visita... ou segunda visita... ou terceira...
Al Cabreiro – Segunda via a ser aberta no maciço. A fissura de entalamentos de mãos do segundo lance diz tudo. Ainda espera uma realização total em livre.
Em busca da cascata perdida – Única via aberta no Inverno. Muito bonita. A sua chaminé, interior, tipo túnel vertical dá-lhe um toque de graça pouco habitual.
Os vagabundos do Gore-tex – Aérea via cujo segundo lance espera uma total realização em livre.
Master Five – Fissuras espectaculares.
O grande diedro – Incontornável. É O diedro!
La psicóloga – Fenda larga, arranha ombro mas, uma boa recordação masoquista.
Moby Dick – Uma das melhores vias de Loriga. O primeiro lance é de difícil leitura (à entrada).
Bigwallica – Espectacular linha de dois largos de realização obrigatória.
O antagonismo dos pólos – O primeiro largo segue uma das fissuras mais rectilíneas da Serra da Estrela. É no entanto um “off-width”. O segundo largo, segue uma placa técnica muito bonita, totalmente equipada (com ambiente!). Via obrigatória!
Manel da Feijocas – Muito boa via que espera ainda um encadeamento.
Homem-Rato – Aberta em solitário, o seu nome deve-se a um ratinho que saltou de um arbusto quase provocando a queda (que seria monumental) do aberturista.
Diedro inevitável – O diedro mais evidente do sector.
A maioria das vias foram abertas sem se realizar qualquer limpeza de musgo. Algumas, no maciço de Al cabreiro, foram posteriormente escovadas mas, já lá vão uns anitos. Por isso, a acrescentar ao material necessário, não esquecer uma escova.