domingo, julho 31, 2011

NA "NOSSA SERRINHA"

NA "NOSSA SERRINHA"




Duzentos metros, seis lances e quatro plaquetes depois, nasceu uma nova via na Serra da Estrela... desta vez, em PEDRA DURA e sem vestigios de ROCHA PODRE.

Breve, a historia e o topo.

quarta-feira, julho 20, 2011

O ULTIMO CROMO

O ULTIMO CROMO




Define o que queres dizer com PIOR via de escalada?”

Sim, o que define uma via como sendo a pior? Pior em que aspecto? No aspecto da qualidade da rocha? No aspecto da beleza da linha? No aspecto do tipo de escalada? Neste caso em particular, diria que pior... em todos os aspectos.

Está claro que esta é uma pretensão pessoal e intransmissível, porque as definições de melhor ou pior, numa arte tão abstracta como a escalada, entra em conflito directo com o próprio sentido existencialista da actividade. As valorizações qualitativas irão depender obrigatoriamente dos gostos de cada um.

Se o propósito tivesse sido passar um dia a deitar pedras ao mar, a evitar irritar blocos assassinos, a montar reuniões medíocres e a desfrutar de distâncias ridiculamente longas entre protecções, então o objectivo teria sido plenamente alcançado. Mas esse não era exactamente o propósito pensado para esse dia.


Pelo menos as vistas são soberbas. Em baixo, a Baía do Terremoto.


Vista de longe a parede parecia, digamos... decomposta. Contudo, o seu mau aspecto poderia revelar algumas surpresas positivas.

De alguma forma, a inspiração surgiu na retorcida esperança de uma repetição do fenómeno: “Pilar do golfinho”. A via “Pilar do Golfinho”, na baía de Assentiz, representa um claro exemplo do que “parece mas, não é”. De longe, ninguém dá um chavo por aquela falésia esquecida. Parece um aglomerado de blocos dispostos a sucidarem-se sob o poiso de uma qualquer gaivota juvenil. No entanto, uma analise mais cuidada (leia-se: um rapel estratégico de reconhecimento), revelou uma via de qualidade, com a rocha mais que aceitável.

Na baía do Terremoto, apesar do mau aspecto, surgia a esperança que o fenómeno se repetisse.


A Daniela observa a parede com um aspecto muito melhor mas, para a qual não iriamos.


A Daniela nutria a mesma esperança vaga.

“Já há algum tempo que as nossas mãos não se impregnavam de magnésio. Já há algum tempo que por forças de outras forças não tocávamos um pedaço de rocha. Já há esse mesmo tempo que as saudades cresciam e a vontade de escalar aumentava exponencialmente a cada dia que passava.

Seria Sábado?

Não!...mas foi Domingo!!!!

Como opções?

Cabo da Roca. Tirar a ferrugem no sector Cara Norte ou tentar uma nova via na Baía do Terremoto.

A escolha: a nova via na Baía do Terremoto.

Na dita baía existe um esporão que por alguma razão que me é desconhecida inspirou o Paulo. Como já tive algumas boas surpresas em esporões com aspecto duvidoso – refiro como exemplo o esporão da bonita via “O Pilar do Golfinho” – deixei-me levar”.


Uma perspectiva cimeira.


O sitio não se deixa aceder facilmente. Uns restos decrépitos de cordas e cordéis abandonados por pescadores denunciam a fraca assiduidade ao destrepe inclinado e exposto que permite pousar os pés nos seixos gigantes rolados pelo mar revolto.

Por precaução instalámos um rapel. Uma longa descida de 60 metros onde é deveras conveniente não molestar o mineral empilhado.

A vizinha “Solidão canina”, aberta em técnica de escalada em solitário pelo Fernando Pereira, observou-nos convidativa.

Atrás de nós, invisível desde o topo da parede, um diedro virgem, com uns 60 metros piscou o olho à Daniela.

“À beira do dito esporão cheirava a podre, uma tartaruga decomposta jazia ali há já alguns dias. Ainda pensei que a futura via se poderia chamar “o Pilar da Tartaruga”!

Olhei para o lado e vislumbrei numa outra parede uma bonita fissura. “Paulo, e se fossemos àquela?”, ao que a resposta foi negativa. “Porque?” perguntei. “Porque esta é MAIOR!!!”.

Mas...nem sempre quantidade é qualidade!”

A fantasia da linha mais longa, gritou mais alto. E foi assim que nos lançámos à aventura, num claro desdém pelo gnomo minúsculo que nos sussurra palavras de bom senso ao ouvido.

“De uma forma breve, foi aberto um bonito - bonito só para observação de longe!!! - esporão com 120m de rocha ABSOLUTAMENTE PODRE!

A via caracteriza-se por uma escalada nervosa, exposta, difícil de proteger e de movimentos bastante desinteressantes. Uma verdadeira m...!

A rocha caracteriza-se pela presença quase constante de blocos soltos de dimensões variadas, mas predominando os grandes! (Para quem vai como segundo de cordada, a pergunta que permanentemente assola o cérebro é “será que o meu colo vai aguentar o peso deste bloco que vou ter de agarrar? E se apanhar com este bloco na perna? Parte-se o bloco...perdão, parte-se a perna?”

O primeiro largo decorre encadeando uma série de blocos de rocha suspeitos, com muitas fissuras...fechadas! Ou seja, não vale a pena carregar muitos friends!”


A surgir no primeiro lance... magnifico...


A reflexão da Daniela suscita indagações.

Porquê submeter as nossas mentes e os nossos corpos a estes desconhecidos? Qual o sentido do risco? Para quê abraçar a incerteza?

As respostas para estas questões talvez estejam todas concentradas nos escassos segundos em que a ponta do pé pisa o primeiro troço de rocha e decide elevar o corpo, ao mesmo tempo que um arrepio de emoção percorre a espinha. Na verdade, esta é uma suposição. Uma reflexão posterior à acção. Honestamente, os metros volvidos, sem conseguir colocar nenhuma protecção (nem boa, nem má) não despoletou nenhuma questão existencialista. Despoletou sim o interruptor da concentração e da focagem absoluta nos locais mínimos onde colocar os pés. Tratava-se de não mover o terreno mais do que o necessário (suponho que as sensações foram o mais próximo que um tipo poderá sentir ao passear nas pontinhas dos pés sobre o lombo de um dragão adormecido, tentando não o despertar).

Fissuras estreitas a fissuras inexistentes foram a tónica geral, espaçadas por distâncias proibitivas.

Ao nível da insipidez dos números, a escala de graduação mantinha-se modesta mas, os metros intermédios entre entaladores obrigaram a ligar o “mode solo integral”, diversas vezes. Contudo, cada passo neste terreno precário estava calculado para ser infalível. “Não iria estragar a festa numa via de merda! Seria inglório.”

Uns 50 metros depois surgiu a reunião, montada numa fissura vertical amovível. Os friends bem apertados asseguravam que as pequenas lastras e pedras que ornamentavam o interior da fissura se mantinham no lugar, impávidas e serenas.


Reunião amovível!


A promessa de descer e desistir do projecto infame no qual estávamos metidos até ás orelhas foi quebrada muito longe da reunião, quase no final da corda disponível.

A Daniela, invisível no ponto onde estava, gritava-me algo incompreensível, ao ouvido mas não ao instinto. A corda deveria estar a terminar. Só não entendia se ainda me faltavam: “Dois meeetroos!” ou, “Dez meeetroos!”

Ainda longe do pinheiro onde já havia pintado um alvo com a mente (eu era a flecha – em forma de tartaruga, a julgar pela velocidade com que avançava), passou-me pela cabeça colocar à mão uma das duas plaquetes disponíveis e montar a reunião ali mesmo. Mas, mais uma vez ignorando o tal Gnomo, resolvi insistir e continuar.

Aproveitando o ultimo meio metro de corda, abracei o pinheiro com decisão e gratidão por ter sido ali colocado pela providência.


"Uf!"


Um berro libertador (que por sorte não deslocou nenhum bloco): “Reuniãããoo!” informou a Daniela que poderia reiniciar a escalada. Também ela chegaria até mim com as suas próprias impressões.

“O segundo largo, depois de um início por um troço de rocha que dificilmente aguentaria um “Peso pesado”, apresenta uns metros de caminhada subvertical em terra, para passar a uma placa fácil e desinteressante com cerca de 20m, sem hipótese de protecção! Termina numa árvore simpática onde se diz”UF”.


Dois momentos no bellliissimo segundo lance.


No terceiro largo, abandonada a árvore simpática, entra-se numa espécie de...nem sei o quê (diedro?) com cerca de 4 metros, constituído por rocha fracturada em blocos de dimensões medianas a grandes, com pouca capacidade de sustentação. A capacidade de sustentação mantém-se inalterada até ao final da via, que termina num pinheiro de ramos baixos que tentam vazar os olhos a quem ali passa!

Após terminada a via, o nome “Pilar da Tartaruga” passou à história, sendo substituído pelo mais adequado “O Último Cromo”.


"E então? Esta porcaria ainda não acabou?!"


É uma via totalmente desequipada que não pretendemos repetir e da qual não aconselhamos a repetição...a não ser a quem já tenha colado os cromos todos na caderneta chamada Cabo da Roca!”

No topo jurámos nunca mais voltar.

Nunca mais... no entanto... ali mais à direita... talvez...


Daniela Teixeira e Paulo Roxo



domingo, julho 17, 2011

NA BAÍA DO TERREMOTO

NA BAÍA DO TERREMOTO


De seguida, o relato sobre a... PIOR via de escalada aberta no Cabo da Roca!