sexta-feira, outubro 12, 2012

Democraticamente f...

DEMOCRATICAMENTE F...

A T-shirt do momento! Um produto Cidade Tipográfica.


Mesmo antes de nos metermos a caminho, já o nome da via estava decidido.
Democraticamente f... dos! foi como nos sentimos ao escutar no dia 3 de Outubro a monocórdica e aborrecidíssima voz do Victor, a anunciar um “enorme aumento de impostos”.
Democraticamente f... fez-me pensar “Com tão brutal roubo, como vou conseguir dinheiro para renovar os friends? E como vou conseguir pagar gasolina e portagens para ir à Meadinha? O melhor é aproveitar já o próximo fim-de-semana e gozar ao máximo o último 5 de Outubro, antes que me tirem a guita dos bolsos...que são cada dia mais pequenos! Passar fome ainda vá que não vá, mas não ter dinheiro para escalar???”
Na manhã de sexta-feira estávamos decididos a escalar aquela fissura que nos atraía já há alguns anos. Democraticamente, optamos por seguir um dos dois caminhos que visualmente traçámos no granito da Meadinha já há algum tempo.
No flanco direito da Meadinha, os primeiros friends entraram no primeiro largo da bonita via “Puerta Sur de los Dioses” para poucos metros acima derivarem para uma fissura à direita. O Paulo seguiu depois entusiasmado até se deparar com uma placa... longa! 


 O primeiro lance da nova via. Uma placa delicada conduz á "Caravela Roxa" e depois desvia-se para a esquerda.


 Wally a caminho do final do lance.


Para manter a coisa o mais “clássica” possível, derivou para o terceiro largo da “Caravela Roxa” (recente via dos “Abismados” Sérgio e Natália e do Marco Cunha, que já se tornou numa referência naquele flanco da parede), contornando finalmente uma lastra para a esquerda, o que o posicionou numa reunião afável para se fazer à bonita fissura que atraiu os nossos olhares há tanto tempo. 50m de escalada separavam-nos agora da plataforma inicial.
Pouco depois, o Paulo caçava a dita fissura, primeiro em travessia fácil da esquerda para a direita para depois com um passo já mais duro com direito a entalamentos perfeitos entrar na porção vertical da fissura. Mal o vi desaparecer escuto um comentário tristonho e... algo estranho: “Está aqui um perne com argola! E este canto da fissura parece estar bastante escovado!”.


 A bela fissura horizontal. "Virgem?" Mmmm...


 Movimentos fantásticos numa morfologia fantástica.

 
De facto, já tínhamos percebido desde baixo uma mancha no canto da dita fissura, mas o musgo intocado tanto no acesso como em toda a continuidade da fenda deixou-nos baralhados! De facto não nos pareceu muito lógico alguém ter o trabalho de se pendurar para fazer uma pequena escovagem a meio da parede, até porque sempre pensámos que a filosofia de abertura na Meadinha era...desde baixo!


 Na saída da fissura horizontal, momentos antes de descobrir a plaquete isolada.


 A Daniela a chegar à reunião improvisada. Dúvidas: para cima, para baixo? Projecto de alguém? Escovagem aleatória? Marcação de território? Pouco depois desciamos...


Mas mudam-se os tempos e mudam-se as tendências, não só havia uma estranha escovagem perdida, como um perne ao lado da fissura, o que indiciava que o alinhamento poderia ser um projecto de alguém (mas então, porque não escovaram toda a fissura? E porque deixaram um perne num sitio de tão fácil colocação de um friend?). De inicio... para manter a coisa num nível “ético” aceitável, o Paulo protegeu num friend, mas com o cérebro baralhado pelo que encontrou, lá acabou por usar o perne, para me dar segurança e descermos novamente para a anterior reunião.
A incerteza acerca da possibilidade de a fissura ser já um projecto, levou-nos a outros caminhos. Ainda com bastantes horas de luz, o caminho tinha de ser... para cima! Decidido democraticamente, na nossa democracia a dois!
Assim, apontámos para um canal/chaminé que se pronunciava mais à esquerda e lá rumámos ao topo da parede. O largo revelou-se uma boa surpresa, meio em chaminé, com saída para placa onde o Paulo colocou um perne burilando elegantemente, equilibrado nos típicos cristais da Meadinha e a uma... já razoável distância da última protecção. 55m mais colocaram-nos à distância de um largo de saída da parede.


 No final do segundo lance aberto.


O último largo iniciou-se numa larga fissura situada à esquerda do último lance da “Caravela Roxa”. Após ponderar acerca da colocação de mais um perne, o Paulo decidiu proteger com um friend nº5 bem empurrado para o interior da fissura. O friend, ficou na fissura, mas o homem, entrou pela placa à sua esquerda onde, apesar de não ser muito duro, é proibido cair!


 Inicio do ultimo largo. Placa técnica para aceder à fissura.


De 50m mais acima veio um grito “REUNIÃÃÃÃOOOOOOO!”. E pouco depois começaram os problemas do segundo de cordada... eu! Enfiada no interior da fissura, os meus braços eram curtos demais para alcançar o friend. Tentei uma táctica espeleológica, pendurei a mochila no arnês e retirei o ar dos pulmões para me enfiar ainda mais. De braço esticado conseguia apenas tocar no mosquetão. Retirar o friend, nem pensar! Já a rosnar consegui colocar o estribo no mosquetão do friend, mas como o estribo ficava demasiado dentro da fissura a coisa também não foi eficaz. Após muito esforço, tentando subir um pouco entalada na fissura, lá consigo... ainda hoje não sei bem como... resgatar o camalot Nº5. Um conselho? Se não quiserem torturar o segundo de cordada, levem o Camalot Nº6 para que a colocação fique um pouco mais à face na fissura.
Entrando depois na placa da esquerda, o largo mostrou-se bonito e pouco depois reuni-me com o Paulo e com uma cordada que tinha acabado de repetir a “Caravela Roxa”. Mais uma opinião positiva!
Estava aberta a “Democraticamente f...” e ainda tínhamos 2 dias pela frente.


 "Democraticamente F..."


Sábado aproveitámos para repetir a “Toma lá bolachas”. Valeram-nos as duas repetições anteriores da via, que a deixaram mais limpa, para desta vez a repetirmos em livre. Fica a nota que o Topas tentou sacar o passo Alvarinho, à entrada do 3º largo. Ainda não saiu, mas a quem quiser a garrafa, aconselha-se vivamente ir lá com alguma rapidez!


 A Natália Pereira a desfrutar da sua nova via. Será mais uma para repetir. A Meadinha ao rubro!


No Domingo resolvemos dedicar a nossa atenção a outra via, uma que ainda não tem nome mas já conta com dois largos abertos! A ver se breve a vamos terminar e quem sabe, repetir a escalada da bonita fissura central que nos ficou na retina. Esperamos ansiosos por mais essa abertura!


 Na saída da nova via a completar próximamente. Next!


Daniela Teixeira


 Os topos:



 


3 Comments:

sesa said...

Brutallll! Meadinha a crescer! Abraço do abismo.

Zé Pataleno said...

Muito bom!!Que f...da. Abraço

Lírio said...

Amigos, fiquei "democraticamente" sem fôlego, e mais uma vez, lendo as vossas "loucas aventuras", no bom sentido da palavra, pois mais loucos são aqueles que estou aos bocadinhos a tentar impedir que a gente deixe de realizar aquilo que mais gosta, e pouco falta para ficarmos apenas a sonhar( enquanto não tivermos de pagar impostos pelos sonhos também)!

Continuem democraticamente f...mas não percam essa agilidade e essa força, demonstrando a estes " simpáticos" governantes, que há gente com garra, capazes de escalar e chegar ao topo, sem precisarem prejudicar os outros para atingirem os objectivos necessários!!
Parabéns

Um grande abraço!