REMEMBER, REMEMBER, THESE DAYS OF DECEMBER
(PARTE UM)
Entre as pressas da semana mirávamos ávidos vários sites de
meteorologia, com a alma sôfrega, desejosa de descobrir temperaturas negativas
para as cotas mais altas da Serra da Estrela. Quando percebemos que às baixas
temperaturas da semana se juntavam uns farrapitos de neve, o ânimo acendeu e o
Paulo entregou-se à labuta, entre crampons e piolets era preciso afiar 8 bicos!
Já com a trouxa arrumada lê-mos no Facebook do Vítor Baía
que para os amantes da neve a dita ia ser escassa. Os neurónios deram mais
algumas voltas e com muitas dúvidas mas com a mente muito aberta (aberta o
suficiente para curtirmos um fim de semana fora de casa sem fazermos
absolutamente nada!) rumámos ao maciço central.
A subir a estrada da serra no Sábado de manhã, não sabíamos
muito bem o que pensar. O termómetro do carro marcava -1, à beira da estrada
viam-se uns cachos de gelo (o que era bom sinal!), mas a visão à séria...essa
era inexistente. Queríamos ver a Cascata Encaixada, mas as nuvens baixas
teimaram em mantê-la longe dos nossos olhares. Para onde ir?
O túnel da estrada da Torre, gelado,como "manda a sapatilha!"
Decidimos como primeira tentativa descer ao sector “Loriga
Ice”. Os primeiros passitos fora do carro foram...gélidos! Pois é, a falta de
hábito dá nisto! O vento teimava em enregelar-nos os ossos e a nuvem baixa que
cobria o cucuruto da serra não queria dar tréguas, mas à medida que descemos em
direcção aos Covões de Loriga o relevo começou a proteger-nos da intempérie.
Com o passar do tempo, também a teimosa nuvem nos foi dando mais visibilidade,
visibilidade essa que foi suficiente para perceber de longe que o gelo em
Loriga Ice era insuficiente para abrir a época de Inverno. Ainda assim o
cenário que a serra nos oferecia já nos fazia pensar que a visita valia a pena.
"Loriga, is that way!"
O vale de Loriga em toda a sua glória!
Resignados, retomámos a caminhada até ao carro decidindo
pelo caminho dar uma espreitadela ao corredor onde se encontra a cascata das
couves. A aproximação foi feita com desconforto, já que a neve que caiu não foi
suficiente para criar um tapete liso para uma progressão fácil. Com alguns
escorregões nas pedras soltas e deslizantes aproximámos à Cascata das Couves,
que não era mais do que...uma folhinha mirrada de Couve?! Apesar de dar para
escalar, a dita estava tão pequena que não nos entusiasmou o suficiente para
tirarmos as cordas das mochilas. Por esta altura já tínhamos avistado a face
oeste do Cântaro, branca e imponente, com aquele aspecto “Scottish” que nos
aquece a alma...e nos gela as mãos.
Que fazer?
A Cascata das Couves... mirrada!
O Cântaro a surgir por entre as nuvens... prometedor!
O dia já ia avançado quando decidimos, na nossa democracia a
dois, fazermos um reconhecimento na zona da face oeste do Cântaro, para quem
sabe, no Domingo, tentarmos uma “mistalhada”. Deixámos o carro na famosíssima
curva do Cântaro e descemos para espreitar com seriedade a face oeste, o dia
parecia destinado aos reconhecimentos. Logo ali à direita do corredor da ponte,
umas fendas no maciço granítico que estava também pintado de branco começaram a
atrair-nos. “E se fossemos por ali?”, “Se calhar ali dava uma via gira!”. Numa
troca de blá-blás decidimos tentar algo na dita parede, uma via pequena para
algumas horas de luz que ainda tínhamos pela frente.
A tentar enfiar as cordas duras no descensor.
Mais dificil do que aparentava, o primeiro lance do novo projecto foi conquistado...
... a duras penas!
E de repente, assim sem grandes esperanças, estávamos a
abrir uma via! As fendas convidativas que pareciam boas para aquecer
deixaram-nos...a escaldar (por vezes as aparências iludem!!!).
"Uf! O crux do primeiro lance já cá mora!"
A Daniela a passar o crux do novo largo.
Os ultimos movimentos "durillos" do primeiro lance do projecto.
Não foi rápido o tempo que demorámos para nos reunirmos 35m
acima do solo, prontos para o segundo largo. Esse segundo largo que ficará para
um próximo assédio. O Paulo ainda tentou, mas a fina fissura que se erguia
acima da reunião ia levar o seu tempo (pois é, vai sair mais um largo
escaldante!), tempo esse que não tínhamos, pois o dia estava já a ficar sem
cor.
"Venga aí!!!"
Bom foi perceber que os tufos de erva já se encontravam
gelados e as condições para o misto estavam ao rubro, muito melhores do que
poderíamos supor. Ou seja, percebemos que o Domingo ia ser O DIA!
Piolet bem cravado em... erva sólida e está feito!
A iniciar o segundo lance antes de abandonar dois pitons numa reunião improvisada. De joelhos porque no misto vale (quase) tudo!
Felizes com a nova linha, com uma abertura da época invernal
em grande e com a lembrança de um filme que revimos há uns dias, decidimos
apelidar o projecto de “Remember remember the first of December”.
Como não podia deixar de ser, para recompensar o esforço
terminámos no restaurante Varanda da Estrela, no aconchego de um tinto, uma
chouriça assada e um troço de queijo serrano!
Daniela Teixeira
O topo:
A SEGUIR... A SEGUNDA PARTE DA ABERTURA DA ÉPOCA BALNEAR!
2 Comments:
Muito fixe!!!
Scoty Way!!!
Aquele abraço
João Animado
Bem bom para começar a época!
Pelas fotos poderíamos dizer que estavam em Ben Nevis...
Felizmente é na Estrela!!
Sérgio D.
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