O BURACO, A GALINHA E A CAIXA DE PANDORA
Os seguintes relatos, topos e fotos, reportam aos dias 2 e 3
de Fevereiro, antes das últimas nevadas e “geladas”, quando a serra ainda tinha
pouca neve. No presente momento, as condições das vias apresentadas, estarão
muito diferentes do que as que encontrámos durante as ascensões.
O Covão do Ferro.
Desta vez, o “gelo verde” - lembrando a imaginativa alcunha
de um ilustre “facebookiano” da nossa praça - estava mesmo gelado.
As temperaturas negativas converteram o nosso pequeno mundo
num jardim de júbilo. Os piolets divertiam-se com os tufos de musgo e erva,
oportunamente duros e com as fissuras incrustadas de gelo.
Gelo verde!
Comparar estas condições com as que encontrámos aquando da
abertura da “Sopa de legumes”, seria como comparar o vinho branco com o tinto.
Ambos são vinhos, mas não podiam ser mais diferentes.
O nevoeiro denso e o vento fizeram notar a sua presença.
Alheios aos elementos e animados pelos valores em queda no
termómetro, dirigimo-nos decididos ao sector superior do Covão do Ferro.
Acedemos desde a Torre, através do planalto superior. Descemos o “Corredor do
teleférico” e encontrámos a neve dura, como raras vezes nos laureia a “nossa”
serra. Passámos na base de uma das mais célebres cascatas da serra, a “Cascata
encaixada”. Ainda muito precária, esta cascata encontrava-se em rápida
formação.
Cascata encaixada, antes...
... e um dia depois!
Um sorriso esboçava-se nas nossas caras.
A existência de gelo por aqui e por ali, ainda por cima, de boa
qualidade, vaticinava um bom dia de escalada mista.
O plano consistia em escalar uma nova via no flanco de
granito à esquerda da “Cascata encaixada”.
O primeiro lance de “gelo verde” encontrava-se em óptimas
condições. Uma travessia ascendente presenteou bons gancheios, tufos gelados e
suficientes protecções. Logo a seguir, um diedro mais tombado de resolução
difícil, conduziu-nos à primeira reunião.
O primeiro lance de "gelo verde" desta vez... duro!
A meio do primeiro lance.
A finalizar o primeiro lance já a espetar no gelo.
Prestes a atingir a primeira reunião.
Contudo, foi o segundo lance o que
nos reservou a melhor surpresa. Constituído por um corredor fácil na sua maior
parte, terminou num curioso túnel rochoso, género: “portal misterioso”.
A Serra da Estrela e os seus detalhes naturais sempre a
maravilhar!
No incio do degundo lance antes de descobrir o segredo...
O BURACO! Um curiosidade natural concedida pela "nossa" serrinha.
Depois do buraco a chegar à reu. nº 2.
Detalhe da reu. nº 2. Bomber!
Uma vez no topo, celebrámos as excelentes condições
encontradas na parede. Efusivos, comentámos a estranha curiosidade geológica da
nova via acabadinha de escalar.
Com tão bela linha já no papo, considerámos o dia ganho mas,
faltavam ainda algumas horas para o ocaso.
A terminar a bonita abertura.
Contrariando a vontade de descer a Penhas da Saúde para pedir
algo quente ao simpático David, no café “Varanda da Estrela”, optámos por
escalar mais qualquer coisa que nos piscasse o olho.
O piscar de olhos proveio de um pequeno corredor situado à
esquerda da “Goullote dos curiosos”. Desde a sua base, parecia uma ascensão
simples e sem muita história mas, as coisas não estavam destinadas a rolar
conforme as expectativas.
Nos primeiros passos do corredor "fácil".
"Mmmm, aquilo não parece nada fácil!"
A meio da via, um estrangulamento vertical conferiu a
respectiva “cor” ao assunto e, aquilo que parecia um curto passo de escalada
mista, depressa se converteu num conjunto de movimentos relativamente difíceis
e algo expostos, terminando numa excelente “goullote” de neve dura e empinada.
Já depois do "crux", com uma pitada de exposição q.b.
Encontrámos o nível da neve bastante baixo e esse facto
converteu o corredor numa via interessante.
Desta feita não estamos convencidos de ter realizado uma “primeira”.
Diria até que existe uma grande probabilidade de já ter sido feita
anteriormente (provavelmente mais que uma vez). No entanto, fica o registo de
mais uma simpática possibilidade invernal.
Aconselhável, portanto!
Dia terminado. Felizes a caminho do quentinho. "Amanhã há mais!"
No dia seguinte, o sol deu ar de sua graça e a temperatura
subiu um pouco, mantendo-se, no entanto, num valor muito satisfatório. Uma
bonança para aproveitar.
Mais uma vez centrámos as nossas atenções no Covão do Ferro.
Uma mole de granito surge entre a parede do arqui-clássico
“Corredor estreito” e a parede que alberga a “Cascata encaixada”, separada por
dois corredores evidentes.
Uma linha improvável delineou-se diante dos nossos olhos e,
claro está, lá fomos nós!
Gelo escasso nos primeiros passos do primeiro lance.
O primeiro lance mostrou os dentes e exigiu uma boa dose de
dry-tooling delicado, com algumas passagens de entalamento de mãos (enluvadas)
incluídas.
Dry-tooling, com direito a entalamentos de mãos e gancheios de piolets de manual.
A Daniela a provar a dose de gancheios.
Idem.
Posteriormente, uma franca travessia muito fácil colocou-nos
numa rampa de neve dura e “empurrou-nos” para uma travessia diagonal de misto
fácil e divertido, com um passito final “espremido”.
Misto fácil mas divertido.
O passito "espremido".
A lógica do itinerário colocou-nos na face sul da formação e
na base de uma última fissura totalmente seca. Noutra ocasião, daria para
trocar as botas de montanha pelos pés de gato. Optámos, mais uma vez, pelo
dry-tooling… muito dry e, escalámos o lance inteiro a ganchear os piolets na
fenda. “É tudo treino!” Justificámos, a pensar nos potenciais objectivos mais
longínquos.
Hiper-dry!
Piolets "a canhão!"
Uma saída bonita... para pés de gato!
A Daniela a "treinar" os gancheios.
Desta forma findámos mais uma actividade produtiva ao nível
da escalada mista, em definitivo, um estilo de escalada invernal mais ou menos
marginal, perfeitamente adaptado à Serra da Estrela.
Entretanto, nos últimos dias têm surgido algumas novidades
no campo da escalada em gelo e dry-tooling, nomeadamente algumas aberturas levadas a cabo num recanto obscuro do Vale de
Loriga, já conhecido como: Sector Remoto.
Para breve: SERRA DA ESTRELA ICE REPORT
Paulo Roxo
E, como não podia deixar de ser: OS TOPOS
3 Comments:
Magnifico trabalho! Parabéns.
Um grande abraço
Mountain4ever
Magnifico trabalho! Parabéns.
Um grande abraço
Mountain4ever
Muito Bom!!
Parabéns
Abraço,
Diogo Fartaria
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